4| Amor

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Eu fiz isso por amor.

Talvez o Mundo não acredite no que eu estou dizendo, mas meu bem, você sabe que foi por amor.

Acredito que nunca te contei, de fato, meus sentimentos por você. A mulher da minha vida tinha que ser incrível, genial, esbelta, inteligente e claro, extremamente misteriosa e você... Você é muito mais que isso. Tu és indescritível meu amor.

Lembra-se quando nos vimos pela primeira vez? Você usava calças jeans apertadas que marcavam seu quadril. Sua blusa cor de vinho era mais solta e mais despojada, te trazendo um ar mais jovial e, ao mesmo tempo, sexy. Sua bolsa de couro, extremamente pesada pelas inúteis coisas que você leva ali, encontrava em seus ombros como o de costume. Usava seus clássicos colares dourados, aqueles que chamavam sempre atenção. Era isso que queria, atenção. A minha atenção. Seus olhos verdes me deixaram fascinados, estava enfeitiçado pela sensualidade que exalava da sua existência.

Jamais encontrei uma mulher assim.

Lembro- me da nossa primeira conversa. Chegou ligeira na mesa da biblioteca que eu estava, me indagou sobre algum livro clássico brasileiro que eu lia. Mentiu dizendo que gostava da literatura nacional sendo que jamais lera um livro brasileiro clássico em sal vida. Mentiu para me conquistar. Você me queria. Eu sei que sim. Sabia que estava mentindo pois, antes mesmo de nos falarmos eu já havia descoberto sua paixão por livros amadores. Nunca foi uma leitora de verdade, apenas mentiu por que me queria.

Porque me queria afinal? Não era rico, muito menos bonito. Era o estranho, o excluído, aquele que ninguém quer. Por que me quis? Sei que não foi por conta que eu era a sua última e melhor opção. Por mais que já tenha me dito isso, eu sei que isso é somente uma mentira. Mentira esfarrapada, pois tem vergonha de dizer seus sentimentos a mim.

É vergonha, não é?

Sempre evitou falar sobre seus sentimentos, era notável o quão desconfortável ficava. Sempre foi tão bobinha meu amor. Ainda bem que te conhecia. Sabia de todas suas manias. Quando me disse que havia me traído com Leandro eu não acreditei. Não sabe mentir. Era mentira, certo? Você me amava, queria ter filhos comigo, queria se casar comigo. Inventou esse obstáculo, pois estava com medo. Estava com medo de se machucar, estava com medo da felicidade.

Eu sou sua felicidade. Sei que sim.

Vivemos tão bem. Sempre tivemos harmonia um com o outro. Brigas eram comuns, vez ou outra eu explodia, te machucava ou ao contrário, porém, esse é o normal. Todo casal passa por mal bocados. Sempre aguentamos tudo isso por que sabíamos que no final valeria a pena. Se não for para ser difícil, não seria amor. Eu te amo tanto, minha vida. Eu faria de tudo por você.

Tudo.

Esqueça tudo aquilo de ruim que aconteceu. Sabemos que nós dois erramos. Personalidades fortes, apaixonados um pelo outro, não é algo fácil de se lidar. Pense somente nos momentos bons, quando riamos de algo bobo na rua. Quando cantávamos desafinado algum rock internacional. Quando improvisávamos dancinhas a cada música que surgia na playlist. Tu amavas isso. Tu me amas, e eu, eu te amo muito mais.

Você o amor da minha vida

O frio da sala silenciosa deixa minha pele arrepiada de vez em quando. Perco-me imaginando seu calor a me abraçar, como sinto saudades do seu carinho extremamente quente e intenso. Sinto falta dos beijos que deixava em minha esta sempre que saia para algum lugar. Um sorriso cresce em meu rosto, com saudades do meu amor.

Minhas mãos não tremem mais. Pelo menos não igual aquele dia. Estaria orgulhosa de mim, de como estou superando meus medos a cada dia que passa. Obrigada por ter me ajudado com isso. Se não tivesse aparecido na minha vida, nada eu seria.

Minha pele agora seca se sente mais confortável do que semana passada. Foram dias tensos para mim e para você. Planejávamos nosso casamento e o estresse nos comandava. Passamos horas e oras planejando e preparando nossa cerimónia e, graças a alguma luz divina tudo correu bem. Dou um beijo na aliança que esta no meu dedo.

Foi a melhor escolha de toda minha vida.

– Steve — a policial perto da porta me chama.

— Desculpa, me perdi em pensamentos.

— Certo — responde curta e grossa.

Policiais são frios, os odeio. Sempre soube disso.

— Recapitulando, oque aconteceu naquele dia?

— Já te disse policial... — olho em sua camisa na tentativa de encontra um nome —... Joe. Casamo-nos e estávamos em lua de mel.

— Prossiga.

— Estávamos curtindo um ao outro. A festa tinha sido pequena e apenas para familiares, no nosso jardim mesmo. Bebíamos vinho riamos com bobeiras, fazíamos juras de amor — sorrio me lembrando de como estava linda aquela noite — Nos deitamos, tivemos nossa noite de núpcias ao som da música que ela mais gostava, foi tão lindo e...

— Sem enrolações — Pede o policial de uma forma extremamente grossa, cortando toda a nostalgia que eu estava sentido,

— Como eu disse antes, ela dormiu assim como eu. Entretanto, de madrugada eu fui acordado por vozes. Ela estava no telefone.

— Com quem Bela falava?

Seu nome, só eu posso dizê-lo.

— Aparentemente era Leandro. Combinavam algo a respeito da promoção que eu ganharia. Queriam o dinheiro, queriam me passar a perna, queriam ser imbecis, queriam...

— Queriam viver um romance onde você não existisse — completa Joe após um tempo em que me silenciei.

— Não acho que se tratava disso. Ele estava fazendo mal a ela, era claro. Bela jamais me largaria, ela me ama. EU sou a felicidade dela, o amor da vida dela. Leandro incomodar desde que nos conhecemos. Ela sofria tanto, era perceptível.

— Por que ela sofria?

— Leandro nunca a mereceu. Já eu, sim. Somos almas gêmeas e, Leandro, não conseguia aceitar que estava sendo rejeitado. Vivia a incomodando. Entendem?

Os policiais concordam com a cabeça.

— Oque você fez então?

— Foi por amor. Não aguentava vê-la sofrer do jeito que via. Doía tanto em meu peito que parecia que toda minha vida estava sendo sugada. Apenas tentei ajuda-la, tentei ser o companheiro que ela tanto queria.

Logo um imenso silêncio predomina a sala. Lembro-me da manha seguinte. Do cheiro dos sanduíches naturais que preparei para você assim que acordara. Dei-lhe um beijo e um abraço. Lembro-me de como era bom chama-la de minha mulher pela primeira vez. Lembro-me de como mentiu. Lembro-me do seu pavor. Do seu desespero. Do seu grito. Do seu sangue. Lembro-me da manha seguinte ao nosso matrimônio.

Lembro-me de como foi bom cuidar de ti.

— Steve.

— Sim?

Minha garganta está seca. Sinto falta dos seus beijos

— Você assassinou Isabella Walker? Sua esposa?

Meu coração batia rápido. A tremedeira voltou. A sua voz rondava meus pensamentos. Uma tortura ou uma benção. A visão turva começava a voltar aos poucos. A ansiedade e nervosismo me deixavam fraco.

"Foi por amor"

A frase se repete em minha cabeça. Não deveria me sentir culpado, certo? Estava apenas cuidando da pessoa que eu mais amo, e me preocupo na terra. Foi por amor.

Um longo silêncio se passa.

"Foi por amor"

Os policias me encaram.

"Foi por amor"

"Foi por amor"

"Foi por amor"

— Sim, foi por amor. 

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⏰ Última atualização: Jun 02, 2021 ⏰

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