Quero você perto.

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O fim de nossas férias trouxeram de volta a realidade massacrante que eu teria de encarar agora: estar com Ana Clara novamente — tão perto, mas tão longe —.

Quando cheguei em São Paulo, não me comuniquei com ela de imediato, como faria de costume. Não poderia evitá-la por muito tempo, já que logo voltaríamos para a nossa rotina juntas, entre ensaios, estúdio e estrada, mas prolongaria aquele encontro o quanto pudesse.

Pensei que poderia adiar por mais tempo, mas antes mesmo do fim daquela noite, meu telefone tocou, e seu nome brilhou em minha tela. Tentei ignorar a chamada, mas na segunda tentativa, a preocupação falou mais alto — afinal, e se ela estivesse precisando de mim? —, então, atendi o telefone.

— Vi. – escutei do outro lado. — Saudade.

— Oi. – respondi em suspiro. — Tudo bem?

— Tu não tá com saudade? – ela questionou. — Só eu?

— Acho que é tu que não tá com saudade...

— Ahm? – Ana perguntou, confusa. — Nem dá pra não sentir saudade de tu.

— Uhum. – fui breve.

— Tá, percebi. Tu tá de cara virada comigo. – ela deduziu, e quase pude imaginar ela fazendo toda sua manha pra me ganhar. Antes de responder, ouvi a campainha tocar. — Quero te mostrar que tô com saudade então...

— Pera aí, Ana. – me levantei, indo até a porta do meu apartamento e abrindo. Quando a abri, pra minha surpresa, ela estava ali. Abriu um pequeno sorriso, com o canto dos lábios, quando me viu.

— Oi. – ela falou ainda com o telefone na mão, na linha comigo.

— Oi. – respondi, ainda na linha também.

— Tenho que ir, tá? Beijo, tchau... — ela falou, olhando para o telefone. Não pude evitar de rir de sua besteira.

— Beijo.

— Então tá. Beijo... – disse ela, olhando o aparelho.

— Tá bom então, beijo. – respondi, entrando na brincadeira e rindo.

— Um beijo viu? – ela riu, uma gargalhada gostosa.

— Beijo então...

— Tão tá... Beijo. – ela murmurou desligando o aparelho. Desligou a ligação, rindo, enquanto me encarava.

Cessamos a risada aos poucos, percebi que era difícil — quase que impossível — ficar brava com Ana Clara.

— Beijo... – ela repetiu sua fala ao telefone, se aproximando.

— Beijo. – ri, e ela me empurrou pra dentro, fechando a porta. Me encostou contra a mesma.

— Ninha... – murmurei, com seu olhar perto, muito perto, a ponto de bater o cílio no meu. — Não.

— O que? – ela questionou, fixando teu olhar no meu, como se me desvendasse. — Não quer? – perguntou preocupada, porque ela nunca iria contra minhas vontades.

— Tu... Mar. – resumi, já que era difícil formar uma frase inteira com ela tão perto.

— Ah... – ela suspirou. — Tu se importa? – ela perguntou, fazendo uma carícia leve em minha bochecha. — Não é um namoro nem nada. Passei as férias com ela, foi divertido. Só isso.

— Tu... tem certeza? – perguntei encarando ela. — Não quero estar no meio de um relacionamento teu.

— Vi. – ela riu, me roubando um selinho demorado, estalado, cheio de carinho. — É mais fácil um relacionamento meu estar entre a gente do que o contrário. Eu e tu sempre à frente de tudo. Tu sabe... – ela murmurou, pausando entre alguns selares em meus lábios.

— À frente... de tudo? – perguntei, entre alguns beijos que trocávamos.

— De tudo. Sempre. – Ana respondeu, segurando em minha nuca e iniciando um beijo, me provando sua saudade.

Sentir sua falta doía, mas se o reencontro tivesse sempre aquele gosto, eu não me importaria tanto.

Querer perversoOnde histórias criam vida. Descubra agora