Tu na minha boca.

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Quando cheguei em casa, estava completamente cansada. Não cansada fisicamente, mas cansada de estar nessa situação, de ter que ser a pessoa que sempre aceita tudo, de ser aquela que está sempre entre seus relacionamentos, de ser a amizade com benefícios, teu consolo e nada além disso. Ana usava de suas palavras bonitas pra me ter quando precisasse saciar desejos, e doía em seu ego me ver com outro alguém, nunca tinha sido sobre realmente querer se amarrar em mim, e ter esse choque de realidade doía. Estava cansada, pelo simples fato de que era cansativo amar Ana Clara.

Ainda quando eu tirava meus sapatos, percebi que não tinha trancado a porta quando ela se abriu. Era Ana. Eu não sabia se queria chorar, gritar com ela simplesmente sair dali.

— Eu ia bater... Mas tava aberto. – ela explicou, me olhando como se temesse algo.

— Uhum. Tá bom. – respondi como se fosse indiferente, terminando de tirar meus sapatos. — Vou tomar um banho.

— Mas eu vim aqui pra gente conversar. – ela disse se aproximando.

— Eu não quero, mas muito obrigada pela tentativa. Já pode voltar pra tua festa e pra imagem de casal perfeito com a Marcella. – respondi dando de ombros.

— Que merda, Vi! – ela disse um pouco alto. — Tu acha que se isso fosse importante pra mim, eu estaria aqui?

— Acho. – encarei seus olhos quando me levantei do sofá. — Acho que doeria demais em seu ego me deixar ir, mas tu não quer o suficiente pra me fazer ficar.

— Não diz isso. – Ana murmurou pausadamente. — Tu não faz ideia do que eu sinto.

— Não faço mesmo. – respondi, irônica. — Nem sabia que tu sentia alguma coisa.

— Já tô cansada de tu diminuindo meus sentimentos e querendo dizer o que eu sinto ou deixo de sentir...

— E eu cansada de tu querer que eu te desvende, cansada de um monte de coisa, cansada de ter que aceitar tudo, de te ver sempre com alguém, de ser só o teu consolo, de não entender o que tu sente, de tentar e de me sentir confusa... – eu falava alto, uma lágrima estúpida rolou pela minha bochecha e eu a limpei rapidamente enquanto continuava. — Sinceramente cansada dessa porra que é amar você.

— Que? – Ana Clara me encarou.

— Nada, Ana, sai daqui! – falei alto, começando a chorar. — Eu tô exausta. Gostar de você é exaustivo.

— Vi... – ela se aproximou e segurou em meu braço. — Não faz.

— Não finge de novo que gosta de mim, Ana. Não nutre uma esperança em mim se for pra não ficar. Não finge que tem vontade de ir além pra aparecer depois com alguém e eu ter que simplesmente assistir mais um relacionamento. Não precisa retribuir nada, sabe? Só para de fingir... Para de fingir que também sente e que também quer.

Desabafei de uma vez toda aquela angústia guardada dentro de mim, enquanto Ana Clara segurava meu braço. Esperava que continuássemos discutindo, mas ela só me encarou de volta por alguns segundos antes de colar seus lábios nos meus.

E eu sabia que pra ela aquilo não significava quanto significava pra mim, sabia que ela não queria ficar, não queria além, sabia que aquela era só uma vez que terminaríamos uma discussão na cama pra não falar sobre o que aconteceu.

Ana Clara era minha tentação, como um erro que eu não conseguia parar de cometer, era meu dilúvio no deserto. Meu coração travava uma batalha com meu corpo sobre quem a queria mais.

Sentia quase como se aquele beijo fosse uma confirmação silenciosa de alguma coisa, tal como todos os toques que vieram depois.

— Eu te quero tanto... – Ana murmurou, enquanto desabotoava minha blusa, depositando beijos por toda a região do meu colo, me tendo em arrepios, tocando minha coxa com a ponta de seus dedos. — Como ninguém.

— Shh... – pedi pra que parasse, e a puxei novamente pra um beijo. Não queria escutar juras, não queria mentiras, se éramos amigas para sexo casual, não precisávamos trocar promessas.

— Hm... – ela murmurou entre o beijo, enquanto se sentava desajeitadamente sobre minhas coxas, puxando sua blusa pra cima. — É sério.

— Tu sabe que não precisa dizer esse tipo de coisa pra gente transar, não é? Eu sei manter um sexo casual. Só não... me faz pensar que é algo além disso.

— Eu amo te foder, Vitória. – Ana murmurou, roçando seus lábios nos meus, então chupou os mesmos, puxou meus cabelos para trás e começou uma trilha com seus lábios pela pele alva de meu pescoço. — Gosto de como teu corpo reage ao meu toque. Gosto de te ter na minha boca, língua, na ponta dos dedos... De como meu nome soa no teu gemido. – ela apalpou um de meus seios, apertando sem muita força, me fazendo soltar a respiração de forma pesada, e então chupou o lóbulo de minha orelha. — Gosto de tudo isso. Gosto de depois, ocasionalmente, reparar as marcas que te deixo e como tu tenta em vão esconder elas. Amo nosso sexo casual, mas... – ela puxou meus cabelos pra trás, encarando meus olhos por alguns segundos, intensamente. Beijou meus lábios, apenas um selar demorado, então se afastou de novo, me encarando. — Hoje eu não quero isso, Vi... Hoje eu quero fazer amor com você.

Querer perversoOnde histórias criam vida. Descubra agora