♪♫ "Espero um dia lobos e porcos vizinhos de porta" - Vizinhos de Porta (Scatolove)
Eu sempre tive uma preocupação muito grande com as "primeiras vezes" da minha vida, e claro que isso envolve o primeiro beijo. Essa preocupação me fez beijar alguém pela primeira vez aos 19 anos.
Ouvi durante toda a minha vida casos de pessoas que beijaram pela primeira vez alguém com quem elas se arrependeram. Isso não entrava na minha cabeça. Como um momento especial entre essas pessoas se tornou traumatizante? Não deveria ser motivo de arrependimento. Por isso, sempre que senti que não era a hora, não fui adiante, apesar de ter oportunidade.
E foi aos 19 anos que esse momento surgiu. Eu, no segundo ano da faculdade, usava o Tinder nas horas vagas. E acredite quando digo que não era porque eu estava atrás de alguém, necessariamente. Era um tipo de vício. Eu gostava de classificar pessoas com leves deslizes para direita e esquerda. Meio horrível pensar isso, como se eu fosse alguém digno para esse papel, mas lá estava eu só olhando perfis e achando fofo quando surgia um match.
Na época, eu já tinha uma noção da minha bissexualidade. Aliás, isso é algo que eu meio que tive em mente durante toda a minha vida. Não sei explicar ao certo, mas eu tinha atração por meninas e meninos desde mais novo. Só a parte dos meninos que eu demorei um pouco a "aceitar", mas isso eu vou deixar para explicar no próximo conto.
Por isso, lá estava eu, feliz com meu Tinder disponível para ambos os gêneros. Até que, em meio a um dos matchs, estava a pessoa que seria responsável pelo meu primeiro beijo. E espero não ser julgado por ter esperado 19 anos para ter meu primeiro beijo com alguém de aplicativo de paquera.
Ele tinha um sorriso incrível e um jeito sutil em me prender a atenção com algumas piadas ruins (que eu achava ótimas) e o máximo de carinho que seria possível por meio de uma tela. Na época, enquanto eu tinha 19 anos, ele tinha 27. Só estávamos conversando. Era uma conversa fluida, sem grandes cobranças de quando nos veríamos ou como se fosse uma perca de tempo para ambos. Não sei para ele, mas para mim era algo prazeroso.
Ele sabia que eu ainda morava com a minha mãe e minha irmã e que eu não era assumido (e assumir o quê se nunca nem beijei alguém, não é?). Aliás, ele sabia que eu era considerado um principiante no assunto "relacionamento". Foi assim que surgiu o apelido que ele me deu com tanto carinho: cordeirinho.
Lembro quando questionei ele por esse apelido.
- Você é uma pessoa pura, sem malícias, como um cordeiro – ele respondeu. Confesso ter achado a resposta incrível.
Por conta desse meu apelido, comecei a chama-lo de Bigwolf (Grande Lobo, em português). Não que eu achasse que ele teria grandes malícias ou algo do tipo, mas ele tinha uma sagacidade em alguns assuntos, sobretudo em me fazer gostar de nossas conversas.
E em meio a uma de nossos rotineiros bate-papos durante uma noite domingo veio o convite:
- Quer ir ao cinema hoje?
Eu pensei bastante, até porque era um domingo à noite e provavelmente só pegaríamos a sessão das 22h. Ou seja, voltar para casa de madrugada com alguém que eu nunca vi na vida pode não ser a coisa mais atrativa do mundo. Topei!
Mandei o endereço da minha rua para o Grande Lobo, mas troquei os números da casa. Por isso, minutos antes de ele falar que estava perto, me agilizei em sair de casa e ficar em frente do local no qual eu disse que morava. Ele chegou. Não lembro ao certo qual era o modelo do carro, mas se assemelhava muito a um Fiat Strada 2010, na cor amarela.
Abri a porta do carro extremamente sem jeito e fiquei quase imóvel durante todo o momento que estive ali dentro até chegarmos no cinema. E o Grande Lobo se preocupou até em onde seria esse cinema, porque ele sabia que eu não era assumido e que locais próximos poderiam me fazer me sentir ainda acanhado. Ok... eu sei que isso poderia ter sido mais uma motivo para se preocupar.
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Contos Bissexuais em um Mundo Bipolar
Short StoryNesta obra, você poderá encontrar contos incríveis de romances fracassados que demonstrem como o seu "eu" pode ser o motivo disso. Afinal, somos seres humanos moldados a todo o momento, até nas mais minúsculas coisas.