♪♫ Eu não te amo, só estou passando o tempo - Sarah Smiles (Panic! At The Disco)
O Grande Lobo foi o responsável pelo meu primeiro beijo e a história foi fofa. Gosto de como ela ocorreu e sempre lembro com muito carinho dos detalhes, mas tenho de confessar que ele não foi a primeira paixão. Claro que durante a minha vida acadêmica eu tive uma daquelas paixões que acreditei por muito tempo que daria em algo. Sim, me iludi.
Ela era uma garota incrível... A conheci no segundo ano do ensino médio e não digo que foi o chamado "amor à primeira vista" porque não acredito nisso. Não tem como amarmos alguém apenas por ver alguém. Mas senti aquela atração forte pela garota com quem eu passaria aquele ano completo vendo dia após dia.
Ela era um ano mais velha que eu. Bom, toda a sala era mais velha que eu. Eu sempre fui o garoto prodígio que encerrou a escola aos 16 anos. Portanto, naquela época eu tinha de 14 para 15 anos e ela, de 15 para 16.
Não precisei de muito esforço para me aproximar daquela garota. Ela e suas duas amigas sentavam sempre no canto próximo às janelas e, para minha sorte, eu tinha o costume de sentar por ali também. Nunca gostei da primeira cadeira, porque eu sentia que aqueles que se propõem a isso devem demonstrar que estão prestando atenção à aula. E confesso que de vez em quando eu só queria ficar rabiscando o caderno ou conversando com alguém próximo.
Lembrar quem fez o primeiro contato é demais para mim, mas sei que isso foi algo muito natural, porque as amigas dela também se tornaram minha amiga, sobretudo Pamela, com quem eu comecei a confessar todos os meus segredos, até que estava começando a gostar de sua amiga.
E essa atração não se pautou somente na sua beleza. Não era só culpa do seu longo cabelo preto, do seu rosto pálido, dos seus olhos pequenos e que sorriam junto com seus lábios, sua altura de apenas 1,65 e suas vestimentas pautadas nas cores pretas. Aliás, sempre lembro dela ao ver aqueles vans xadrez sem cadarço do qual ela costumava usar.
No entanto, o que mais me chamava atenção era que ela assim como eu. Não gostava de chamar atenção, era simples, era inteligente e tirava ótimas notas – principalmente em matemática e, por isso, a gente até competia para ver quem ia ter a maior média - e tínhamos os mesmos gostos musicais de rock antigo e emo (com aquela preferência por Panic! At The Disco). Isso a deixava muito atraente para mim.
E parecíamos sempre curtir muito a companhia um do outro. Eu me sentia tão feliz quando ela ria, apesar e eu fazer péssimas piadas, ou de estudarmos algo juntos... Isso tirava o peso que a escola trazia. Eu ficava animado em ir para aquela instituição que por muito tempo me massacrou, porque parecia que nunca me encaixava.
Como Pamela sabia que eu gostava dela, não demoraria muito para que ela soubesse também. E de fato não demorou. Mesmo ela sabendo, ela continuou agindo normalmente comigo e não transformou nossa relação em algo estranho. Confesso que isso me deu muitas expectativas. Coitado de mim.
Eu me humilhei muitas vezes por ela. Eu acreditava que em algum momento ela poderia dar uma chance a mim e poderíamos curtir juntos. Mas não. Apesar de eu ter me disposto a fazer de tudo por aquela garota, nunca desenvolvemos nada. E isso me intriga muito. Quando eu me meti naquela roda já formado por três garotas, eu não tinha a percepção que tenho hoje. Nunca fomos quatro amigos. Sempre fui o extra daquele trio. O coadjuvante. O Neville de Harry Potter.
Sim, eu me sinto hoje um serviçal daquele trio, principalmente da garota por quem já estava apaixonado. Lembro de um dia em questão em que ela reclamava muito de cólica e suas amigas não tinham um remédio para dá-la. Eu, como ainda tinha contato com algumas meninas com quem estudei, decidi ir atrás de algum medicamento que lhe ajudasse. Lembro que estava uma chuva pesada e o chão da escola, que era branco, já estava com cores pretas espalhadas pela sujeira dos sapatos.
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Contos Bissexuais em um Mundo Bipolar
Short StoryNesta obra, você poderá encontrar contos incríveis de romances fracassados que demonstrem como o seu "eu" pode ser o motivo disso. Afinal, somos seres humanos moldados a todo o momento, até nas mais minúsculas coisas.