O cansaço começou a cobrar minhas pernas um quilômetro à frente, quando passei em frente a um terreno com um circo montado. No horário da manhã é um deserto, mas naquele dia dava pra ouvir uns barulhos estranhos dentro dos trailers. Em se tratando de um circo, o bicho devia tá pegando. Mais alguns metros e finalmente cheguei à estação Belém. Cumprimentei alguns conhecidos e fumei mais um cigarro antes de entrar na empresa onde eu trampo, oferecendo um dos serviços mais irônicos pra quem detesta falar ao telefone: teleatendimento. Eram quase 11:00hs e o movimento era grande, com pessoas entrando e saindo e muita gente na recepção.
Terminando meu cigarro, comecei a procurar meu crachá na mochila, quando quase esbarrei num cara cambaleando em direção às catracas de entrada. Passei por elas, não sem antes escutar um dos seguranças pedindo o crachá dele. Enquanto passava pelo corredor à frente, dava pra ver de longe o cara sendo amparado por duas pessoas. Parecia doente, então um dos seguranças veio apressado na direção de um dos bombeiros.
Cansado, me sentei pra tomar um café no refeitório, onde encontrei meu amigo Ricardo, que vinha almoçar.
– E aí, cara. Não teve facul hoje?
– Tive meia hora de aula, mas suspenderam sei lá por quê!
– Ah tá! - respondeu Ricardo começando a comer.
Só de sentir o cheiro da marmita já fiquei zoado. Podia ser o efeito do formol no meu organismo ainda, ou talvez devia ter pego aquela gripe, mas o mais provável é que são poucas pessoas que não conseguem passar mal de sentir o cheiro de ovo cozido com fígado.
– Cê tá doente? - perguntou ele, ainda na metade da marmita.
– Eu vou melhorar quando você acabar de comer isso logo. Mas o que eu vi de gente no bico do corvo hoje não é brincadeira!
Expliquei pra ele todos os eventos com pessoas convalescentes que vi durante aquela manhã, mas a cara dele mudou quando eu falei sobre o cadáver Carlão ter mexido os dedos.
– HAHAHAHAHAHHA. Aí é foda!
– Também acho. Deve ter sido o sono, sei lá!
Dessa vez nossa conversa não foi como o habitual, como “nerdices” ou futebol, pois ao comentar com ele o que vi no caminho para o trabalho, Ricardo me falou que o mesmo estava acontecendo em Mogi, Suzano, Poá e toda a região do Alto Tietê, só que em uma escala menor.
– Sei lá, cara. Isso tudo tá muito estranho. Nunca vi isso antes. Será que é tipo uma versão avançada daquele vírus lá? - disse ele com a boca cheia.
– Pode ser. Daqui a pouco deve passar mais alguma coisa na TV explicando isso. Agora há pouco tinha um cara meio grogue tentando entrar aqui. Pela aparência, deve estar com a mesma coisa!
Nisso, uma agitação do lado de fora chamou a nossa atenção. Gritos histéricos ecoaram pelo refeitório e os seguranças se deslocaram para a portaria pra verificar o que estava acontecendo. Ricardo e eu nos olhamos e, sem falar nada, fomos ver o que estava rolando.
Ao lado das catracas, um dos bombeiros estava caído segurando uma das mãos, que sangrava como se fosse uma torneira aberta. Seu polegar estava no chão, arrancado pelo que parecia ser uma mordida, pois a alguns metros dois seguranças tentavam imobilizar o agressor, o mesmo cara que estava cambaleando quando cheguei, mas agora estava pálido, com os olhos muito vermelhos, as veias saltadas e a boca suja de sangue.
Os seguranças mal conseguiam conter o homem, que urrava feito um animal e lutava pra chegar até o bombeiro caído, com as mandíbulas abrindo e fechando vorazmente. Outros bombeiros vieram socorrer rapidamente o companheiro ferido e cada vez mais pessoas apareceram no local do ataque pra ver o que estava acontecendo, cercando o bombeiro machucado.
Ao olhar aquela cena assustadora, Ricardo e eu ficamos apreensivos. Naquele mesmo segundo analisamos toda a cena e, obviamente, matamos na hora o que é que estava acontecendo.
– Vixi, o cara tá chapado!
– Mano, essa é da boa!
Mal sabíamos que os eventos a seguir mostrariam que a situação era bem mais assustadora do que o simples caso de um nóia com fome de homens de uniforme.
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Atentado Zumbi
TerrorO que podem simples brasileiros, que não sabem atirar nem lutar, fazer contra uma infestação de zumbis? Isso é o que você vai descobrir nessa história cheia de terror e humor, numa região sitiada de São Paulo. Fugas, gritos, planos, conspirações, mo...