Família

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Oiê! Basicamente é uma ideia fofa que eu tive e não consegui deixar de escrever, pra quem lê Belas Criaturas eu espero que goste e quem não lê, vai dar uma olhada que vale a pena 😉

Inspirada por uma fanart da Lady Dimitrescu moderna usando um terno. 🤤

Boa leitura.
Comentários são bem vindos.

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Ella retirou os óculos e suspirou aliviada quando o último cliente saiu da livraria. Durante as últimas três horas ela havia atendido uma infinidade de donas de casa em busca de livros de receita, adolescentes em busca de mangás e hq’s, recebeu um carregamento com os livros a serem lançados na próxima semana, atendeu mais clientes que tentavam reservar um exemplar de “Olhos do dragão” que seria lançado dali a dois dias, o último livro da trilogia A Herança, cadastrou esses mesmos livros no sistema e ajudou mais clientes a escolherem outras obras. Bem, ela não podia reclamar quando a maioria das livrarias pequenas estava fechando as portas, só estava cansada e com fome.
Felizmente aquela seria a hora mais tranquila do dia e Ella conseguiu comer quando Ágatha, sua amiga e funcionária, lhe trouxe um sanduíche e um suco para um almoço tardio.
A porta foi aberta e o sino tintilou avisando a chegada de mais um freguês, Ella automaticamente corrigiu a postura e se virou para receber quem fosse mas a visão fez suas bochechas esquentarem de forma considerável. A mulher era impressionante, devia ter pelo menos 1,90 de altura facilmente, cabelos curtos e negros, olhos dourados, usava uma calça social e camisa branca cujas mangas foram arregaçadas até o antebraço; Lady Dimitrescu era conhecida por todos na cidade, logo não era a primeira vez que Ella a via, embora fosse a primeira vez que entrava em sua livraria.
A figura pequena que acompanhava a mãe sorriu timidamente para Ella, a menina parecia doce com seus cabelos loiros e olhos castanhos.
- Boa tarde – Ella conseguiu falar sem gaguejar – Sejam bem-vindas. Precisam de ajuda?
Lady Dimitrescu a cumprimentou e pousou as mãos nos ombros da filha.
- Procurando um presente de aniversário pra essa mocinha.
- E qual seu nome? – Ella perguntou para a criança – E qual seu tipo de livro preferido?
- É Bela – a menina respondeu baixinho – Mãe...
- Desculpe, mas ela quer escolher sozinha.
Lady Dimitrescu explicou e Bela não perdeu tempo ao pegar uma cesta e se dirigir para as estantes.
- É ótimo ver uma criança que gosta de ler – Ella puxou assunto – Ainda mais tão jovem.
- Bela está fazendo oito anos e é simplesmente impossível vê-la sem um livro – Lady Dimitrescu suspirou e olhou o relógio de pulso, Ella não pode deixar de reparar nos músculos da mulher mais velha – Prometi deixá-la escolher os livros que quisesse e passar um dia só de mãe e filha.
- Entendo, a minha está...
- Aqui!
Judy pulou de trás de uma das estantes mais próximas ainda usando o kimono do karatê e com um livro nos braços.
- Tem uma criança aqui. Ela é sua filha? Posso falar com ela?
- Judith – Ella avisou – Menos.
Por sua vez, Lady Dimitrescu parecia divertida com a figura pequena de Judith; de fato a menina parecia uma mistura de criança adorável e sapeca com todas aquelas sardas espalhadas em seu nariz arrebitado.
- Ela é minha filha e você pode falar com ela, mas Bela é muito tímida ao redor de pessoas que não conhece.
Ella resolveu intervir:
- Judy, lembre-se do que eu avisei.
- Não insistir se ela não quiser conversar e respeitar o espaço pessoal, eu já sei! – Judy pulou e estendeu o livro para Ella – Segura meu livro!
Ella pegou o livro da mão da irmãzinha e Judy correu em direção aos fundos onde Bela estava escolhendo os livros que queria.
- Como eu ia dizendo, essa é a minha pequena leitora – Ella balançou o livro levemente antes de guardá-lo sob o balcão – Pode ser uma pestinha, mas alguns dizem que ela é a maior propaganda dessa livraria.
- Ela é adorável – Lady Dimitrescu sorriu educadamente – Sua filha?
- Sim e não. Ela é minha irmã, mas eu cuido dela desde que tinha um ano, então sou mãe dela.
- Mãe é quem cria, e eu tenho três em casa.
Ella sorriu, era estranhamente fácil conversar com a mulher, mesmo que se sentisse intimidada pela beleza e poder que irradiava dela. Ali estava uma mulher que não aceitava ser contrariada.
À certa distância, Judy observou a irmã conversando com a mulher mais alta; era a primeira vez que via sua irmã corando e sorrindo daquele jeito, e parecia que a mãe da sua amiga estava sorrindo também.
- Hum...
Judy fez um biquinho e cruzou os braços sobre o peito, a atitude chamou a atenção de Bela que deixou os livros para ficar ao seu lado. Ela estava feliz em descobrir que sua amiga da escola era a outra criança na livraria, mas naquele momento tinha algo mais interessante para ver do que ajudar Bela a escolher livros.
- O que foi? – Bela perguntou.
- Acho que minha irmã gosta da sua mãe.
- Por quê?
- Não sei, mas ela está toda vermelha e rindo feito boba. Tia Ágatha me disse que é assim que pessoas apaixonadas ficam.
- Humm... – Bela resmungou – Mamãe não tem namorada e ela está sorrindo.
- Fui proibida de tentar arrumar uma namorada pra Ella.
Judy bufou e bateu o pé, mas Bela sorriu para a amiga.
- Mas eu não fui proibida de arrumar uma namorada pra mamãe.
- Adoro a forma como você pensa – Judy cruzou os braços sobre o peito e sorriu.
As duas meninas se voltaram para os livros enquanto as mulheres conversavam, Judy já tinha um plano para interrogar sua irmã mais velha assim que tivesse a oportunidade e descobrir um jeito de juntá-las como um casal, mas por enquanto resignou-se a ajudar Bela a escolher os livros.
- Eu queria o Olhos do Dragão, mas ainda não lançou – disse Bela ao olhar para a cesta cheia de livros – Era o que eu mais queria.
- Eu tenho! – Judy deu um pulinho animado – Comecei a ler hoje, mas só algumas páginas.
- Mas como?
- Minha irmã é a dona – explicou como se fosse óbvio – E ela abriu uma caixa pra tirar um livro pra mim, do contrário Ella ficaria louca comigo.
- Eu queria...
- Tenho certeza que a Ella pode pegar um livro pra você também! Vou pedir pra ela, vem comigo!
Foi preciso que cada uma segurasse uma alça da cesta para carregá-la de volta devido a quantidade de livros que Bela havia escolhido. Agora que sabia que sua amiga da escola gostava tanto de ler quanto ela, Judith estava bem feliz.
- Ella! Ella! Adivinha só? A Bela é minha amiga da escola!
Lady Dimitrescu sorriu.
- Você tem uma amiga, Bela?
- Sim, Judy sempre se senta comigo na aula de ciências.
- Fico muito feliz por você ter uma amiga como a Judy – a mulher sorriu – Me deixe verificar seus livros pra ter certeza que são apropriados para a sua idade.
Judith, por sua vez, não perdeu tempo enquanto a mãe de Bela tirava os livros da cesta um a um.
- Ella, sabia que é aniversário da Bela?
- Sabia sim.
- Então, é que ela queria muito um livro igual aquele meu – Judith fez sua melhor carinha de cachorrinho pidão – Você podia pegar um pra ela, né?
- Que livro? – Lady Dimitrescu perguntou.
- Um que será lançado em dois dias – Ella respondeu e olhou de volta para a irmã: - Não é?
- Não precisa fazer isso – a mulher mais velha se apressou em assegurar – Bela pode esperar dois dias.
- Mamãe...
Ella sorriu da expressão desolada da menina e se inclinou sobre o balcão para ficar mais próxima das duas crianças.
- Se vocês prometerem não postar nada na internet e nem contar pra ninguém, eu posso pegar um livro nos fundos.
- Nós prometemos! – as duas meninas gritaram juntas.
- Não precisa fazer isso – Lady Dimitrescu assegurou novamente.
- Tudo bem, não é como se fosse o próximo Harry Potter de qualquer forma.
Ella pegou o livro e convenceu Lady Dimitrescu a aceitá-lo, o que deixou Bela e Judy felizes; e quando mãe e filha deixaram a livraria, sua irmãzinha afirmou que estava animada por ler o livro junto da amiga mas Ella não teve a chance de perguntar sobre o que conversaram, foram interrompidas pela chegada de Ágatha trazendo uma caixa de livros dos fundos.
- O que eu perdi?
- É aniversário da minha amiga da escola e a mãe dela trouxe ela aqui pra escolher livros! – Judith se adiantou para explicar – E eu ajudei.
- Você é o charme desse lugar – Ágatha bateu o dedo no nariz da menina – Sua amiga ficou feliz? Você gosta dela?
- Muito pras duas perguntas, a Bela Dimitrescu é minha parceira nas aulas de ciência.
- Aaah! – Ágatha lançou um olhar malicioso para Ella – Dimitrescu? Tipo, a dona toda poderosa do vinhedo?
- Lady Dimitrescu trouxe a filha aqui, é aniversário da menina e ela prometeu comprar todos os livros que quisesse e um dia de mãe e filha.
- E como foi? – Ágatha perguntou interessada – Você conseguiu falar como uma pessoa normal ou só teve um gay panic como aquele dia no bar?
- Eu não tive um gay panic!
- E como você chama aquilo? Você passou a noite toda tentando criar coragem pra falar com ela e se acovardou! Treme só de ouvir o nome dela, é patético.
Ella revirou os olhos e indicou a irmã menor que as observava atentamente.
- Podemos não falar isso na frente de você-sabe-quem?
- Voldemort? – Ágatha se fez de mal entendida e Ella bufou – Tá bom, não tá mais aqui quem falou.
- Ela é solteira, sabia?
As duas se viraram para a criança e Ágatha pegou Judy para colocá-la sobre o balcão, assim pode olhá-la nos olhos sem ter que se abaixar.
- Como você sabe disso?
- Bela me disse – Judy explicou e olhou pra irmã – Eu contei pra ela que você gosta da mãe dela.
Ella, que havia levado a garrafa de água aos lábios no exato momento em que Judy resolveu falar, engasgou e cuspiu sobre o balcão sendo preciso que Ágatha lhe desse alguns tapinhas em suas costas.
- Você fez o que?
- Eu disse que você gosta da mãe dela! Bela disse que a mãe dela não tem namorada e estava sorrindo, então acho que ela também gosta de você!
Ágatha riu e bateu palmas.
- Eu adoro essa menina!
- Você precisa de uma namorada, Ella! – Judy gritou.
- E você não tem permissão de tentar me conseguir uma namorada – Ella apontou – Lembra da última vez? A Lisa queria que eu te colocasse em um internato.
- Foi um engano – Judy admitiu - E a Bela pode conseguir uma namorada pra mãe dela, então que seja você.
Ella estava prestes a retrucar, explicar para a irmã que as coisas não funcionavam desse jeito e que ela precisava parar de se meter na vida dos mais velhos, mas a porta da livraria foi aberta e Lady Dimitrescu e a filha entraram mais uma vez; a mulher mais velha trazia uma bandeja com dois smoothies e sorriu.
- Oi – a mulher mais velha a cumprimentou – Bela não consegue parar de falar sobre vocês e trouxemos smoothies como agradecimento.
- São de chocolate! – Bela sorriu – Eu escolhi.
- Muito obrigada – Ella agradeceu – Mas não precisava...
- Eu insisto – Lady Dimitrescu pousou a bandeja sobre o balcão – Por favor.
- Obrigada! – Judy agradeceu – Eu adoro chocolate!
- Não foi nada – Lady Dimitrescu sorriu para Ella e a loira sentiu suas bochechas queimarem novamente, o que pareceu divertir muito a mulher mais velha – Nos vemos por aí, em breve eu espero.
As duas saíram após se despedirem e por quase um minuto ninguém disse nada. Ella estava se recuperando do efeito que a mulher tinha nela, Judy estava muito ocupada com seu smoothie e Ágatha ainda encarava a porta.
- Fui completamente ignorada.
- O que?
- Não se faça de boba, Ella! Aquela mulher só tinha olhos pra você.
Ella negou.
- Não é verdade!
Judy exclamou e tirou algo que estava preso na bandeja de papelão.
- Olha, tem um papelzinho aqui!
- Deixa eu ver.
Havia um papelzinho do tipo post-it amarelo colado no papelão e Ágatha o puxou com um único movimento.
- Você é pior do que uma criança, Ella... – Ágatha balançou a cabeça e estendeu o papel para Ella – Veja isso.
Com medo do que poderia ser, afinal de contas Lady Dimitrescu havia saído de seu caminho para entregar os smoothies e ainda havia um bilhete, Ella aceitou o papel mesmo que seu coração parecesse estar prestes a sair pela boca.
- Me liga – Ella leu.
- E o número dela – Ágatha completou – Com o primeiro nome.
- Alcina – Ella leu baixinho e foi muito difícil tentar não sorrir – Combina com ela.
- Manda mensagem pra ela! – Ágatha incentivou – Vocês podem sair.
Judith não falou nada, apensas sorriu sozinha. Sua parte do trabalho estava feita e ela estava muito orgulhosa de si mesma.
[...]
- Deixa ver se eu entendi – disse Agatha ao se jogar sobre a cama de Ella – Você conversa com aquela mulher maravilhosa há duas semanas e vai sair com o Klaus?
- Não vou sair com o Klaus em um encontro, vou sair com ele como meu amigo – Ella aplicou um pouco mais de blush nas bochechas – E Alcina vai sair com a irmã para um drink ou algo assim.
- Alcina, hein? – Agatha moveu as sobrancelhas de modo sugestivo – Já estão íntimas desse jeito?
- Talvez – Ella deixou a maquiagem de lado e se sentou ao lado da amiga – Alcina me entende, ela tem filhas e sabe como é uma loucura. Ela até pegou a Judy na escola quando eu tive problemas na livraria...
- Com a desculpa de te ver, é claro.
Ella revirou os olhos e sorriu. Estava descobrindo que era muito difícil não sorrir quando se tratava de Lady Dimitrescu.
- Alcina foi gentil, ela é muito atenciosa.
Àgatha guinchou e puxou Ella para um abraço desajeitado.
- Minha amiga fica tão fofa quando está apaixonada, olha pra essa carinha!
- Tá bom, já entendi! – Ella riu – Você furiosamente nos apoia.
- Sim! – Agatha se afastou o suficiente para encarar Ella – Escuta bem, não confio que o Klaus veja esse encontro de forma tão platônica quanto você, e se ele tentar algo, avise sua mulher pra descer o braço nele.
Ella riu.
- E se ela me magoar?
- Aí eu vou ter que usar uma escada e um taco de baseball – Agatha deu de ombros – Ela é muito alta!
- Eu gosto dela ser alta!
- Você tá muito apaixonadinha, amiga!
Àgatha voltou a abraçá-la e a apertou tão forte que Ella mal pode respirar.
- Também quero abraço!
O grito de Judith não a preparou para o peso repentino quando a menina saltou sobre elas. Ella a envolveu no abraço e beijou seus cabelos castanhos, a sensação de ter sua pequena família ali era indescritível.
[...]
Donna falava de forma animada sobre sua loja de bonecas e a última encomenda especial, o que trouxe um sorriso sincero aos lábios de Lady Dimitrescu; poucas pessoas eram capazes de falar com tanta paixão sobre seu ofício, e Donna se sobressaía mesmo dentre esses poucos.
Duas mulheres passaram por sua mesa e uma delas lançou um olhar penetrante para Donna que, já corando envergonhada, inconscientemente ajeitou o cabelo escuro para cobrir a cicatriz que atravessava seu olho direito.
- Pare com isso, querida – disse Alcina ao estender o braço para segurar a mão da irmã – Você está ótima.
A dúvida persistiu no rosto de Donna e Alcina reforçou um pouco mais o aperto.
- Você é linda e aquela mulher totalmente se interessou.
- Sempre gentil – Donna sorriu suavemente – Mas não há necessidade de mentir, aquela mulher provavelmente estava olhando pra você.
- Não é mentira, e posso te provar...
- Alci, por favor, não – Donna separou suas mãos e brincou com o pequeno guarda-chuva do seu drink – Já concordei em vir a um bar gay com você, não há necessidade de falar com outras pessoas.
Alcina sabia que era difícil para sua irmã se socializar, ainda mais em um lugar tão cheio de estranhos como aquele, e só por isso não insistiu em continuar o assunto; embora não estivesse pronta para deixar de tentar encontrar alguém para Donna. Tomou um pequeno gole do seu Martini e procurou um novo tópico, algo que não deixaria os nervos de Donna à flor da pele.
- Você fala que eu te arrastei por para um bar gay como se você fosse hétero.
- Eu sou pan – Donna admitiu – Mas você sempre carregou a bandeira lésbica com orgulho.
- Verdade, e Karl é bi – Alcina apontou – Insuportável e crianção, mas carrega o gene da família.
Donna riu e precisou tampar a boca com a mão para disfarçar o sorriso. Eles não eram irmãos biologicamente falando, mas foram criados juntos e, no caso de Alcina e Karl, sempre brigavam juntos; Alcina tinha certeza que se aperfeiçoou em insultos bem elaborados ao precisar sobreviver ao seu irmão estúpido.
- E é mais fácil você encontrar uma namorada aqui do que eu – Donna comentou como quem não quer nada – Você sempre teve esse ar de mulher fatal.
- Não fale assim, Don. Além disso, eu só tenho olhos pra uma certa loira.
- Fico extremamente feliz em te ver feliz, você merece ter alguém especial na sua vida.
Alcina sorriu e se pôs a falar sobre sua relação crescente com Ella. A última coisa que esperava era se ver encantada por uma mulher mais jovem, cheia de vida e encantadora como Ella, mas assim como a maioria das coisas boas da vida foi totalmente inesperado e Alcina se encontrou esperando uma mensagem, uma ligação, ou mesmo vê-la rapidamente.
- É intenso – Alcina admitiu.
- E o que não é intenso na sua vida? Mulher de negócios, mãe solo de três meninas, bem sucedida em tudo o que se propõe a fazer... Intensidade devia ser seu nome do meio.
- Ella consegue iluminar tudo ao seu redor e esse brilho me atrai, mas também pode ser perigoso – Alcina sorriu para a irmã – Faz muito tempo que não me sinto assim por ninguém, e Bela a adora e já é praticamente impossível separá-la da Judy.
- Você está apaixonada e vai acabar com mais uma filha.
Estava sendo provocada, é verdade, e talvez merecesse isso por todas as vezes que tentou fazer Donna se abrir para a possibilidade de romance. Estava prestes a comentar como a amizade com Judy estava fazendo bem a Bela, tirando-a de sua concha por assim dizer, quando certa movimentação atraiu sua atenção; quase como se fosse convocada diretamente dos seus pensamentos, Ella atravessou o lugar e caminhou até o bar.
Ella sempre estava bonita de um jeito macio e agora parecia quase fatal, seu cabelo foi preso no alto em um rabo de cavalo bagunçado e o vestido preto muito justo, e curto, diga-se de passagem, acentuava suas curvas e foi capaz de deixar Alcina com água na boca.
- Aquela é a Ella? – Donna perguntou.
- Sim.
Ella não olhou em sua direção, ainda não a havia visto, embora Alcina não conseguisse tirar os olhos dela.
Um homem se aproximou de Ella e segurou sua cintura de modo muito íntimo para seu gosto, e pareceu não se importar quando a loira se afastou dele para evitar o contato. Alcina rosnou. Se Ella não queria ser tocada, então sua vontade devia ser respeitada.
- Quem é aquele? – Donna perguntou.
- Ella disse que iria sair com um amigo, acho que o nome dele é Klaus.
- Ele definitivamente não a olha como amigo.
Mesmo à distância Alcina percebeu como Klaus olhava para Ella, como se não houvesse outra mulher no mundo além dela, dividido entre a esperança e a expectativa de que em algum momento seus sentimentos pudessem ser retribuídos. Klaus tentou se aproximar novamente, e dessa vez Ella afastou sua mão em um gesto não tão gentil; foi impossível ouvir o que falavam àquela distância, com a música do lugar seria difícil mesmo se estivesse ao lado deles, e Alcina se irritou ainda mais ao notar que Klaus voltou a se aproximar e parecia tentar engatar uma conversa como se nada tivesse acontecido.
Ninguém poderia dizer que Lady Dimitrescu era um poço de paciência, então quando se levantou Donna não pareceu nem um pouco surpresa.
- Volto já.
- Vá salvar sua garota.
Ella não precisava ser salva, mas Alcina era muito possessiva e protetora com aquilo que amava e desejava.
Caminhou com passos decididos, as pessoas ao seu redor simplesmente abriam o caminho para que passasse como se sentissem a autoridade que emanava dela, e se aproximou de Ella junto ao bar.
- Alci...
Não lhe deu tempo de terminar.
Alcina agarrou a cintura de Ella com uma das mãos e com a outra puxou seu pescoço, juntou seus lábios aos dela em um beijo faminto e, apesar da surpresa, Ella se recuperou rapidamente e retribuiu o beijo; foi como se centenas de fogos de artifício explodissem sua mente, seu coração bateu descontroladamente no peito como se estivesse prestes a sair do lugar e tudo o que desejava era ter Ella mais perto. Ella era macia, deliciosa... E tudo o que Alcina desejava era devorá-la.
Empurrou Ella até que suas costas batessem no balcão e pressionou seu corpo contra o dela, mordiscou seu lábio e sentiu Ella gemer em sua boca.
- Hum – Klaus pigarreou – Vocês estão dando um show.
A contragosto Alcina se afastou de Ella, ambas estavam com a respiração ofegante e meio desgrenhadas, só então percebeu que a loira tinha as mãos em suas costas.
- E você é...? – Alcina o olhou de cima abaixo como se não fosse nada.
- Klaus, sou...
- Ele é meu amigo – Ella se apressou em explicar – E estava prestes a ir embora.
Klaus olhou ao redor como se pensasse no que fazer, seu olhar se demorou nas duas e havia desgosto nele. Alcina percebeu, com prazer, que Ella não tentou afastá-la e a puxou para ainda mais perto.
- Estou esperando para te acompanhar até sua casa, não vou te deixar aqui.
- Caso não tenha notado, Ella não está sozinha – Alcina respondeu com um sorriso convencido – Eu cuido dela.
- Você pode ir, Klaus. Não vou sair daqui por nada.
Parecendo contrariado, Klaus acenou em adeus e deu-lhes as costas para sair do bar.
- Ele não queria vir aqui – Ella explicou quando Klaus estava fora de vista – Sabia que encerraria a noite mais cedo.
- E agora está nos meus braços.
- E muito bem, diga-se de passagem – Ella sorriu e pressionou um beijo rápido e casto em seus lábios, mesmo que tivesse que ficar na ponta dos pés para isso – E sua irmã?
Alcina olhou para trás em busca de Donna e ficou contente ao vê-la conversando com a moça que a encarou mais cedo, aparentemente a ruiva tomou uma atitude ao se aproximar e sentar-se em sua mesa.
- Donna está bem – Alcina sorriu e voltou-se para Ella – Agora, você...
Inclinou-se para mais um beijo, dessa vez calmo e terno. Alcina nunca se cansaria de beijar Ella.
[...]
Semanas se passaram desde seu primeiro beijo em um bar, e Ella não sabia exatamente em que ponto estava seu relacionamento ou o que eram; pelo menos de sua parte era algo exclusivo, Lady Dimitrescu detinha toda sua atenção e sentimentos, mas não tinha coragem de perguntar o que havia entre elas.
Alcina a levou para casa àquela noite e elas se beijaram no corredor do prédio em que morava, porque beijar aquela mulher era maravilhoso e Ella não conseguia se impedir de desejar mais e mais dela.
Nos dias que se seguiram Alcina sempre parecia encontrar uma desculpa para vê-la, mesmo que trocassem mensagens durante a maior parte do dia e, às vezes fotos - a maioria enviada por Ella. A mulher mais velha sempre aparecia na livraria em busca de algo novo ou às vezes levava café para Ella, sempre em horários mais calmos nos quais podia se inclinar sobre o balcão e roubar beijos rápidos.
Saíram juntas em alguns encontros, Alcina sempre fazia questão de levar flores e convidá-la para jantar e, aos poucos, Ella conhecia aquela mulher que era capaz de aterrorizar a todos mas ainda podia ser atenciosa e carinhosa.
Somente Agatha e Donna sabiam sobre o relacionamento em desenvolvimento, embora Ella tivesse certeza de que Judith sabia muito bem o que estava acontecendo, a menina era muito perspicaz para alguém da sua idade e com certeza já tinha dividido as novidades com Bela.
Por isso encontrava-se tão nervosa em frente à mansão Dimitrescu. Primeiro, nunca havia entrado em um lugar como aquele antes; segundo, iria conhecer as outras filhas de Alcina em um jantar informal em família. Pelo menos Judith parecia feliz, saltitando ao seu lado durante todo o caminho do carro até a porta da frente.
Alcina as recebeu acompanhada por Bela e as meninas se abraçaram imediatamente, o que arrancou sorrisos das mulheres; Judith não perdeu tempo e abraçou as penas de Alcina para dizer olá e riu quando teve seu cabelo bagunçado por ela.
- Oi, Ella – disse Bela, muito mais contida do que Judith – É bom te ver.
- É bom te ver também.
Bela segurou a mão de Judith e se virou para a mãe com olhos pidões:
- Podemos brincar no meu quarto?
- Podem ir, mas nada de correr nas escadas.
Ella concordou e ambas assistiram as meninas se afastando ainda de mãos dadas, e corou ao ouvir Bela perguntando se elas estavam ou não namorando, ao que Judith respondeu que sim e que apenas não queriam contar ainda.
- Ok, acho que não vamos precisar ter a conversa com elas – Ella falou meio sem jeito e estendeu a caixa que tinha nas mãos – Sei que disse que não precisava, mas trouxe uma torta. Judith escolheu.
Alcina sorriu e beijou a bochecha de Ella antes de aceitar a torta.
- Obrigada, draga mea.
Ella tomou seu tempo para absorver a aparência de Alcina. Nunca tinha visto a mulher usar roupas que não fossem nada além de elegantes e particularmente planejadas para cada ocasião, então era novo vê-la usando um suéter de cor creme e calças escuras que pareciam confortáveis; a composição ainda era de extremo bom gosto e ficava bem nela, como se estivesse deixando Ella ver um lado totalmente novo.
Atrás delas alguém gritou por mamãe e um choro estridente se seguiu, Alcina suspirou e fechou a porta atrás delas.
- Você ainda tem chance de fugir.
- De jeito nenhum.
Alcina a guiou até a sala de estar ampla e bem decorada, tudo exalava o bom gosto da mulher. Uma criança que aparentava ter uns cinco ou seis anos, erguia-se sobre uma menor que não passava de um bebê, seus cabelos pretos estavam presos em duas tranças e ela segurava uma barbie bem acima da ruivinha que chorava por não alcançar o brinquedo.
- Mamãe, ela quer pegar minha boneca.
- Cassandra – Alcina falou em tom sério – Daniela ainda não entende, ela é apenas um bebê.
- Mas ela vai quebrar como fez com a outra.
Cassandra não deu o braço a torcer e continuou mantendo o brinquedo afastado da irmã menor, Alcina deixou a torta sobre a mesa de centro e pegou Daniela no colo, o que não serviu para acalmá-la imediatamente.
- Ei – Ella disse suavemente ao se aproximar na menina mais velha, Cassandra a olhou com intensos olhos verdes, como se tivesse aprendido a dar o mesmo olhar que sua mãe – Sei que irmãos mais novos podem ser difíceis, mas se você der outro brinquedo para Daniela vai ficar tudo bem.
- Tem certeza?
- Funcionava com meu irmão.
Cassandra pareceu considerar a oferta e trocou a boneca por um dinossauro de pelúcia que estava abandonado sobre o sofá, para ajudá-la a ficar na mesma altura que Daniela, Alcina se sentou e tentou acalmar o bebê.
- Olha, Dani – Cassandra balançou o brontossauro de pelúcia em frente à irmã, o brinquedo fez um barulho de guizo como se houvesse um pequeno sino dentro dele – Esse aqui é seu, pode brincar com ele.
Daniela parou de chorar aos poucos e seus grandes olhos azuis focaram no brinquedo que lhe era oferecido, suas mãozinhas gordinhas tentaram agarrá-lo e ela sorriu ao conseguir o que queria, pelo menos dessa vez. Alcina nada disse, apenas observou a interação de Ella com suas filhas e como Cassandra parecia à vontade ao seu redor.
- Todos os brinquedos macios de bebê são seus – disse Cassandra para a irmã mais nova – Menos o Sr. Urso.
- Meu – Daniela gritou em resposta.
- Não, não é seu.
- É meu!
Alcina interviu antes que uma nova briga se formasse.
- Tudo bem, Daniela não vai pegar o Sr. Urso, agora você pode ir brincar com a Bela e a Judith lá em cima.
Cassandra assentiu animadamente e se inclinou para um beijo da mãe, acenou em despedida para Ella e subiu as escadas. Até o momento, Ella achava que estava indo muito nas interações com as meninas Dimitrescu, Bela já gostava dela e Cassandra não parecia não gostar.
- Obrigada pela ajuda, às vezes é um desafio.
- Sei bem como é – Ella deu de ombros.
- O vocabulário de Daniela se resume a “mamãe”, o nome das irmãs, “não” e “é meu”, mas já causa problemas – Alcina se levantou com a filha no colo – Melhor levar a torta para a cozinha, eu pedi comida italiana para o jantar porque não há chances de cozinhar tranquilamente com tantas crianças em casa.
Ella pegou a torta antes que Alcina pudesse fazê-lo e acompanhou-a até a cozinha.
- Não sabia que tinha mais irmãos.
- Só mais um, o nome dele é Frederick.
- Posso perguntar o que aconteceu com ele?
Alcina se aproximou para pegar a torta e Daniela pode ter achado que Ella a pegaria no colo, seus bracinhos se estenderam em direção à loira e uma pequena troca foi feita.
Enquanto pensava no que responder, Ella ajeitou Daniela em seus braços e acariciou seu cabelo macio de bebê, pequenos e fofos cachinhos se formavam nas pontas e era facilmente uma das crianças mais fofas que já havia visto.
Alcina pareceu ter lido seus pensamentos e sorriu ao guardar a torta na geladeira.
- Não se deixe enganar, Daniela é quase selvagem quando quer, mesmo que a fase de morder já tenha passado.
- Ela é fofa – Ella sorriu.
- Não precisa me contar sobre seu irmão se não quiser – Disse Alcina ao guiá-las de volta para a sala – Entendo que possa ser pessoal.
- É só mais do mesmo – ao notar a expressão confusa de Alcina, Ella se explicou ao sem sentar no sofá com Daniela em seu colo – Pessoas que não tem capacidade de cuidar de uma criança e têm filhos. Eu tinha acabado de sair da faculdade quando a Assistente Social me encontrou, meus irmãos estavam sendo vítimas de negligência e estavam procurando o parente mais próximo para ser tutor; o irmão da minha madrasta ficou com o Frederick, mas não queria a Judith, então fiquei com ela.
Alcina se sentou ao lado e pousou a mão sobre sua coxa.
- Você foi corajosa.
- Não deixaria que levassem a Judith, então fiz o que precisava ser feito – Ella sorriu e fez cócegas em Daniela, fazendo-a gargalhar – Vale a pena. E falamos com o Fred sempre que dá, mas ele já tem onze anos e gosta de ficar com os amigos.
- Judith é maravilhosa, você está fazendo um bom trabalho.
Ao ver a mãe tão perto, Daniela resolveu que não queria mais ficar nos braços de uma estranha e se contorceu e direção à Alcina.
- Mamãe!
- Tudo bem, a mamãe pega você – Alcina a pegou e beijou seu rostinho, arrancando uma risada do bebê – Ela está um pouco pegajosa hoje, em outros dias estaria andando por todo lado e batendo a cabeça em todos os móveis. Daniela é meu primeiro bebê, ainda é muito novo pra mim.
- Sério?
Ella não queria parecer tão surpresa, mas a informação era uma grande novidade para ela e Alcina notou seu espanto.
- Bela tinha dois anos. Eu decidi ser mãe sozinha e fiz todo o processo para adotar uma criança, ela foi entregue a uma família assim que nasceu, mas quando a mãe engravidou eles decidiram devolvê-la.
- Isso é horrível.
- É sim, mas quando eu a vi pela primeira vez soube que era minha filha, foi como um encontro de almas; eu só queria trazê-la para casa e cuidar dela, então houve todo um processo de adaptação, Bela não podia me perder de vista por muito tempo que ficava com medo de que eu a abandonasse... – Alcina suspirou e apertou Daniela um pouco mais junto a si – E Cassandra veio três anos depois, ela tinha três e Bela já tinha quase seis anos. Cass veio de uma família disfuncional e não disse uma palavra durante dias, a presença da Bela foi fundamental pra adaptação dela.
Ella nem podia imaginar como foi difícil passar por esse estágio da maternidade sozinha, e agora admirava Alcina ainda mais. Não havia muitos casais por aí dispostos a adotar crianças de famílias disfuncionais, mesmo que fossem sobrinhos ou parentes próximos; quando recebeu a guarda de Judith, precisou abdicar de várias coisas para cuidar da irmã, então entendia o lado de Alcina.
- Não pretendia ter mais uma, mas eu estava cadastrada em uma agência de adoções, houve uma confusão com os papéis e me ligaram porque uma mãe se interessou pelo meu perfil – Alcina continuou contando – Assim ganhei Daniela, eu a vi nascer e estava rendida por ela em menos de um minuto.
- Vocês formam uma família linda – Ella sorriu e se inclinou em direção ao bebê – E você ganhou uma mamãe, incrível não é?
Daniela não parecia inclinada a falar qualquer coisa, mas Alcina sorriu daquele jeito que fazia seus olhos brilharem e as pernas de Ella ficarem bambas. Quem via a mulher de negócios poderosa não imaginava a mãe atenciosa e carinhosa, a gentileza e preocupação com quem amava.
- Você é suspeita pra falar algo.
- Está dizendo que minha opinião é tendenciosa?
- Talvez...
Alcina se aproximou e a beijou rapidamente.
- Você é doce.
Estavam prestes a se beijar novamente, mas foram interrompidas pela campainha e Alcina revirou os olhos.
- Deve ser o entregador. Pode segurar Daniela pra mim?
- Claro.
Ella poderia segurar Daniela para sempre, lembrava-a de quando Judith tinha aquela idade e precisava prendê-la no canguru para ir trabalhar na livraria recém-inaugurada; desde aquela época sua irmãzinha era a melhor garota propaganda para a loja, sempre sorrindo para todos.
O jantar foi caótico com quatro crianças pequenas, as meninas estavam animadas demais para ficarem paradas por muito tempo e riam o tempo todo, Daniela tinha o rosto todo sujo de comida e Ella teve certeza que a menininha havia esfregado seus brócolis até no cabelo. Acostumadas a estarem sozinhas em seu pequeno apartamento, foi uma mudança bem-vinda estar em uma grande família barulhenta e Ella tinha certeza que Judith estava tendo o melhor momento da sua vida.
Vez ou outra seu olhar se cruzava ao de Alcina e elas trocavam um sorrisinho bobo, foi como ter um monte de borboletas em seu estômago durante todo o jantar. Ninguém jamais teve aquele efeito sobre ela ou sequer conseguiu despertar aqueles sentimentos, muito menos com um único olhar.
Após o jantar, Ella acompanhou as meninas mais velhas até o quarto para ver seu castelo de Legos enquanto Alcina dava banho em Daniela (a menininha tinha esfregado mais a comida em si mesma do que realmente comido); a construção era impressionante e estava claro que Bela tinha grande parte do mérito, Judith tinha muita energia para se concentrar muito tempo em uma construção como aquela, e Cassandra parecia mais interessada em espalhar os bonecos ao redor do castelo. Ella ajudou a montar as torres mais altas, obedecendo às ordens de Bela e Judith para que ficasse como elas queriam.
Vê-las juntas era como assistir irmãs de idade aproximada, personalidades opostas mas que se completavam perfeitamente.
Alcina voltou com Daniela à tira colo já vestida em um pijama fofo de abelhinhas e chamou por Cassandra.
- Hora de dormir, querida – disse em tom firme que não aceitava ser contestado – Dê boa noite e vamos.
Cassandra não reclamou com a mãe, deu boa noite a todas e saiu do quarto da irmã mais velha. Só então Ella se deu conta do horário e que em breve deveria colocar Judy na cama também.
- Acho melhor ir embora, Judy.
- Não! – Bela praticamente gritou. A menina se levantou com um pulo e correu em direção a mãe – Judy pode dormir aqui hoje? Eu empresto um pijama e ela pode dormir na minha cama comigo! Por favor, mamãe!
- Se a Ella concordar, não vejo porque não.
E então de repente havia três pares de olhos a encarando.
- Por favor, Ella! – Judith pediu.
- Tem certeza que quer mais uma menina?
- Absoluta – Alcina respondeu – Elas vão se divertir.
Ella respirou fundo e sorriu, sabia que estava sendo provocada por aqueles olhinhos pidões e não teve coragem de negar.
- Tudo bem – ela apontou para a irmã – Mas é melhor se comportar, ouviu?
- Sim, senhora!
- E sem passar da hora de dormir – determinou Alcina – Bela, pegue o seu pijama e um para a Judy, por favor.
- Sim, mamãe.
Alcina se desculpou para sair do quarto e colocar as meninas mais novas na cama, e Ella a seguiu para ajudar; além disso, daria a oportunidade para que Bela e Judy pudessem brincar por mais algum tempo antes de irem para a cama.
A rotina era totalmente diferente da sua, com apenas Judy e ela tudo era mais fácil e rápido, mas Alcina precisava cuidar e colocar três crianças na cama toda noite então não custava nada ajudar. Ella pegou Daniela no colo para que Alcina pudesse ajudar Cassandra a se trocar e ir para a cama, o bebê se aconchegou junto ao seu peito e tampou o rostinho bonito com a mão; Ella cantarolou uma canção de ninar antiga, a mesma que cantava para Judy quando ainda era tão pequena que cabia direitinho em seu colo, e deu tapinhas leves nas costas de Dani enquanto a ninava.
Alcina deu um beijo de boa noite em Cassandra que, apesar de insistir que não estava com sono, apagou como uma luzinha ao encostar a cabeça no travesseiro; ocupada como estava observando Dani, Ella não percebeu que a mulher se aproximou dela, para alguém do seu tamanho Alcina era sempre tão silenciosa que a surpreendia.
- Você conseguiu fazer Dani dormir?
Ella tirou os olhos do bebê e encarou Alcina.
- Acho que sim.
- Você precisa colocá-la no berço, se eu a pegar ela vai acordar.
Alcina beijou a cabeça da filha e Ella a colocou no berço com todo o cuidado para não despertá-la, felizmente Daniela apenas resmungou e voltou a adormecer rapidamente.
- Ela é tão fofa – Ella arrulhou baixinho – Todas elas são.
Alcina segurou a mão de Ella e entrelaçou seus dedos, o toque íntimo a fez sorrir ainda mais enquanto saíam do quarto. Quando a porta foi fechada atrás delas, Alcina a virou rapidamente e pressionou-a contra a parede; seus lábios roçaram um no outro e Ella sorriu ao passar os braços ao redor do pescoço da mulher mais alta.
- Obrigada por deixar Judy ficar, Bela nunca trouxe amigas em casa antes e definitivamente não pediu por uma festa do pijama.
- É você quem vai ter quatro meninas amanhã de manhã.
Um beijo foi pressionado em seu pescoço fazendo Ella corar e se arrepiar.
- Você devia ficar – Alcina sugeriu – Passar a noite comigo.
A sugestão implícita nas palavras de Alcina a fizeram praticamente se derreter nos braços da mulher.
- Só se você parar de me beijar assim no corredor.
- Você não gosta?
- Gosto, mas ainda temos duas crianças acordadas.
Alcina se afastou e Ella imediatamente sentiu falta do contato.
- Tem razão, melhor colocar as duas na cama de uma vez e aí eu tenho você só pra mim.
Ella estava prestes a puxar Alcina para um beijo, mas foram interrompidas por Bela e Judy saindo do quarto já usando pijamas; as meninas as encararam, sorriram e trocaram um olhar cúmplice, como se soubessem exatamente o que estava acontecendo mesmo sem que as mulheres contassem.
- Só viemos avisar que já vamos pra cama – disse Bela – E dar boa noite.
- Boa noite – Judy desejou – E que bom que estão namorando.
- Essas crianças... – Ella balançou a cabeça – São impossíveis.
- E está na hora de irem para a cama – Alcina mandou – Vamos lá, hora de dormir.
Ella e Alcina acompanharam as meninas até o quarto e as colocaram na cama, beijos de boa noite foram dados e os cobertores foram ajeitados; sentiu o coração se aquecer ao notar que Alcina também depositou um beijo na testa de Judy.
De volta ao corredor, Alcina fechou a porta do quarto e meneou a cabeça.
- Sem mais chances de fugir, nossas filhas sabem que estamos namorando.
- Namorando? – Ella fez uma careta e riu baixinho – Não fui informada sobre um namoro.
Alcina revirou os olhos e ergueu Ella nos braços, fazendo-a dar um gritinho de surpresa e enlaçar sua cintura com as pernas.
- Como você é tão forte?
- Você não viu nada – disse Alcina ao beijar seu rosto. Sem dificuldade, a mulher mais velha a carregou até o quarto no fim do corredor e a colocou sobre a cama; como uma predadora Alcina engatinhou até Ella e pressionou seus lábios juntos, infelizmente acabou rápido demais – Sabe que eu sinto que te conheço a muito tempo?
- Talvez seja de outra vida – Ella brincou.
- Talvez.
Alcina a beijou novamente, seu corpo pressionando o dela contra a cama, e dessa vez foi lento, como se quisesse aprender cada gosto e nuance; Ella pode sentir os resquícios do venho que Alcina bebera durante o jantar, mas havia algo que era tão puramente a mulher que chagava ser inebriante.
Ainda era cedo, mas Ella tinha certeza de que estava certa. Elas se conheciam de outra vida.

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Não teve hot pq eu não quero atrapalhar a fic principal rsrs

Parei por aqui, mas eu totalmente tenho várias cenas delas em família, inclusive discutindo o nome de mais uma filha 🤐

Espero que tenham gostado, comentários são bem-vindos.

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