Realidade 1

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Idealizei uma gestação e tá sendo bem diferente, admito.
No começo até fui paparicada, bajulada, mas hoje, me sinto sozinha.
Não sei se acontece com todo mundo, mas eu já tinha uma tendência depressiva e tomei remédio por um tempo.
Parece que isso tudo volta, não entendo.
Ao passo que vou sentindo os enjoos e tonturas, parece que vou vivendo tudo isso sozinha.
Não há mais protetores, apoiadores, seguidores. Existem apenas telespectadores que acompanham seu momento e ignoram o seu sofrimento dizendo "ah, é assim mesmo", ou "se acostuma", ou pior "daqui por diante só piora".
Sei que é um desafio imenso. Não quero ninguém tendo piedade ou me dando confete, mas gostaria de que pelo menos compreendessem e que além de eu ouvir o "tamo junto" eu sentisse realmente o "tamo junto".
Como sabemos, mãe é mãe sempre em qualquer situação.
Em momentos já ouvi também que por ser acima do peso não poderia engordar absolutamente nada, que a barriga demoraria pra crescer, se crescesse, que eu tenho que fazer dieta, exercícios, enfim, médicos, enfermeiros, julgadores amadores que talvez não saibam que eu tenho espelho em casa e que sei exatamente o que fazer para conseguir tais sucessos. Mas em nenhum momento alguém se importou com a minha saúde mental. Somente com a do meu bebê e físico.
Óbvio que o bebê é mais importante no momento, mas quantas pessoas por aí estão tendo depressão pós parto. Quantos noticiários anunciam tragédias de mães? Quanto apoio temos durante esse período de altos e baixos de hormônio?
Eu só lamento ter esse espaço para falar abertamente das dores e sofrimentos que me acometem.
Alguém vai ler? Talvez. Alguém vai se importar? Não deveria. Não há o que se fazer.
Talvez pensem que a diabetes gestacional seja por minha opção, seja porque não me cuidei, não vejo nem sinto ninguém me apoiando verdadeiramente.
Carinho, afeto, chamego, não existem mais. Talvez nunca tenham existido.
Carência, ausência, baixa auto estima, dúvidas, ciúmes, afastamento, tudo isso te transforma em alguém que ninguém quer por perto, mas é justo passar por tudo isso sozinha? É tão difícil compreender que a única coisa que queremos é nos sentir amadas, respeitadas, desejadas e amparadas.
Atualmente estou resfriada. Além do peso de arcar com o nariz entupido e vazando, as dores nas costas e cabeça, os enjoos e sintomas da gravidez, tem o peso de pensar nos detalhes do quarto, das dúvidas quitar para fazer mais dividas, dos móveis a comprar, da possibilidade de não ganhar nada, da ansiedade em saber se lavarei cuecas ou calcinhas, do medo do futuro, da dúvida se serei boa mãe, se terei apoio, que entra em conflito com meu lado selvagem garantindo que dou conta mesmo sozinha.
Novamente indago, perceber-se sozinha na imensidão do mundo é assustador. Como escrevi num texto anterior, me decepciono por criar expectativas, erro comum na raça humana.
Dúvidas, tristezas, choros, medos, angústias, desejos.
Espero ansiosamente pela sensação de ter a barriga pesada, sentir mexer, conversar e de dentro da barriga ser respondida.
Converso com a barriga, acaricio, sonho e imagino. Não posso esperar que façam o mesmo né, considerando que eu que sou a mãe.

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⏰ Última atualização: Jun 08, 2021 ⏰

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