OUI, CHEF | L.S

tomlinson.

─ Oui, chef! - todos os cozinheiros gritaram, em uníssono, depois de ouvirem as ordens de Louis.

Não estava sendo fácil pra ele deixar sua cozinha para trás... Quer dizer, "para trás" era um exagero completo, mas o que Tomlinson podia fazer? Ele era apegado demais naquele lugar.

O adeus seria temporário, no entanto, ele só ficaria afastado durante o tempo em que estivesse participando do Club Of Chefs - o maior programa culinário da atualidade. E, por temporário, ele queria dizer, até o último dia do tal programa, pois tinha certeza de que ganharia.

Aquela seria sua chance... Louis sempre sonhou em ter seu próprio restaurante, desde quando era um molequinho. Seu passatempo favorito era ver seu avô cozinhar e, quando o mais velho deixava-o participar de uma ou outra receita, ele sentia-se no céu. Quando o monsieur William faleceu, Tomlinson sentiu-se sem chão por um bom tempo, até que decidiu que seguiria os passos do mesmo e daria orgulho à ele.

Foi então que decidiu iniciar os estudos na area de culinária. Foram dias e mais dias estudando receitas, técnicas, testando combinações diversas de alimentos, desde as mais tradicionais até as mais exóticas. Ele gastou a maior parte do dinheiro que seu avô havia deixado para si em um dos melhores cursos da França, e depois que conseguiu seu diploma com honras, foi a hora de batalhar em seu primeiro estágio em uma cozinha.

Essa parte não foi fácil, quer dizer, nenhuma parte depois da morte de seu avô havia sido fácil... Mas o estágio na cozinha de Jacques havia sido um inferno. O chef era soberbo e impaciente, Louis havia acabado de se formar e suas experiências prévias na cozinha foram sempre regadas em amor e inspiração, em sentir o calor das bocas do fogão e a quentura do forno aquecendo-o por dentro... Mas ali, foi diferente.

Sua experiência foi traumática, por assim dizer. Louis era o único novato da turma de cozinheiros de Jacques, portanto, a maior parte de berros era direcionada à ele. Ele deve ter descascado mais de mil batatas na sua primeira semana no local, sem contar as inúmeras cebolas que teve que picar e todas as pilhas de louças que teve de lavar.

Foi absolutamente horrível, mas com o passar do tempo, Tomlinson provava cada vez mais que merecia seu lugar ali, e suas tarefas começaram a ser cada vez mais importantes. Até que, somente um anos depois do seu primeiro dia, Jacques havia o nomeado como seu sous-chef.

Louis sabia que não tinha sido fácil, mas que conquistara seu lugar devido ao seu próprio mérito, e tinha muito orgulho disso.

Ele ficou sendo o segundo chef na cozinha francesa por muito tempo, aprendendo cada vez mais com Jacques - que em algum momento de sua jornada, acabou por virar seu mentor. Suas receitas inusitadas começaram a ganhar espaço, primeiro no cardápio daquele restaurante, e depois por toda a França, onde cada vez mais os chefs tentavam seguir seus passos.

Depois de reconhecido, Louis ainda permaneceu sendo o braço direito de Jacques, contentando-se com o lugar que havia conquistado. Mas o chef mais velho sabia que ali ele não tinha mais como crescer, pois não abriria mão de sua cozinha por mais uns bons anos. Foi quando ele soube que um de seus amigos de longa data estava atrás de um chef que pudesse substituí-lo em sua cozinha, que era conhecida e renomada, em Londres.

Sem pensar, Jacques indicou Louis para a vaga, que sentiu-se traído a princípio, pois ele gostava de estar ocupando lugar que havia batalhado tanto para preencher, mas depois de uma longa conversa - regada a vinho, com seu mentor, ele entendeu que o outro havia feito aquilo pensando em seu futuro.

Não foi fácil ir embora da França, tudo o que ele conhecia e amava estava ali. Despedir-se de Jacques havia sido um martírio, e Louis sentiu-se novamente com dezoito anos, quando perdeu seu avô.

Oito anos haviam passado desde então, boa parte desse tempo ele havia passado dedicando-se aos estudos e a outra parte dedicando-se à cozinha de Jacques. Mas agora ele estava indo em busca de ser chef por conta própria, e aquilo era assustador.

A jornada de Tomlinson até ali havia sido suada, mas satisfatória. Conhecer Jason, o chef da cozinha que ele havia assumido em Londres, havia sido uma dádiva. Ele era um homem doce e sensível na cozinha. Depois de treinar o francês durante um tempo significativo, Jason olhou em seus olhos azuis e disse que estava pronto para entregar sua preciosa cozinha em suas mãos, e que tinha certeza que ele faria um trabalho maravilhoso ali.

Naquele dia, Louis chorou. E só de lembrar, seus olhos enchem de lágrimas novamente.

Algum tempo depois, o francês de olhos azuis descobriu que havia assumido o lugar de Jason pois ele estava doente, e não muito mais depois, ele partiu. E Louis chorou novamente, prometendo-lhe pela última vez que honraria sua cozinha, e assim ele fazia até hoje.

Agora, depois de dois anos a frente do local, ele se afastaria... Mas repetia para si mesmo o tempo todo que seria por um bom motivo. Ele ganharia o Club Of Chefs, e não só isso, ganharia mais espaço dentro da culinária londrina, mais reconhecimento, faria seu nome crescer e ser mais e mais prestigiado. Abriria seu próprio restaurante, e daria orgulho à seu avô e à Jason, que olhavam por ele de algum lugar... E, claro, a Jacques, que ainda era vivo - e rabugento.