styles.

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─ Eu não aguento mais comer carne de cordeiro. - a irmã de Harry disse, quando ele posicionou o prato em sua frente. 

O aspirante a chef achou muito indelicado de sua parte, diga-se de passagem.

─ Gemma, você deveria estar me agradecendo, sabia? A carne de cordeiro é uma das mais nobres do mundo. - Styles respondeu e parou na frente da garota — com quem ele se parecia tanto, esperando ansioso que ela cortasse o carré para que então ele pudesse saber se acertou o ponto.

─ Eu não tô falando que é uma carne ruim, idiota, apenas não aguento mais comê-la. - ela disse, cortando-o ao meio e virando o prato para que o irmão analisasse seu trabalho.

Harry entendia que a primogênita Styles tinha razão em reclamar, afinal, aquele era o sétimo carré de cordeiro que ele servia no período de sete dias — apesar de que ele nunca admitiria tal coisa em voz alta.

Acertar o ponto de carnes era algo muito importante, quase que vitalício, para ele conseguir ter um bom desempenho no Club Of Chefs. Agora faltava pouco demais para que ele começasse sua jornada no programa de culinária, ou seja, pouco tempo para ele correr atrás de seu maior sonho.

Na semanas anteriores àquela, ele havia treinado o ponto em carnes bovinas, em frango e em peixe. Styles havia atingido a média de acertos necessários — que ele mesmo havia imposto, e sentia-se confiável. Quer dizer, na medida do possível, né?

Harry não era um chef de cozinha propriamente dito. Não tinha feito faculdade na area ou qualquer curso para aprender a cozinhar... Ele apenas seguia seu coração

Nos seus vinte e quatro anos, todas as suas lembranças — desde a infância, envolviam a cozinha. Se fechasse os olhos agora, mesmo depois de tanto tempo, ele seria capaz de sentir o cheiro das panelas de Mary, sua avó materna. Era fácil de sorrir recordando de todas as vezes que a mulher deixava-o ajudar no preparo das refeições. 

Anne, mãe de Styles, também havia seguido os passos da matriarca para dentro da cozinha — e foi com ela que Harry aprendeu boa parte do que sabe. 

Quando Mary partiu do plano terrestre, o garoto de olhos verdes ainda era jovem demais. Acompanhar sua mãe na cozinha parecia aliviar o luto dos dois e, então, o amor pelos utensílios e pelas receitas formaram o caráter e a personalidade do Styles mais novo.

Aos onze anos ele já era capaz de executar a receita de massa caseira de sua avó, que sua mãe havia o ensinado depois dele tanto insistir, e aquilo fez com que ele tomasse gosto pela coisa.

Enquanto os outros garotos de sua idade estavam na rua jogando bola, ele estava na cozinha, ao lado de Anne — pedindo que ela fosse um pouco mais devagar enquanto ele anotava a receita e o passo a passo da mesma. 

Conforme os anos iam passando, ele ia tomando o lugar de sua mãe e apossando-se de sua cozinha... Sempre que uma refeição precisava ser preparada, ele estava lá com o seu infalível discurso — "Descanse, mamãe, eu cozinho hoje.", era o que Harry dizia, fazendo sua mãe sorrir e concordar. E quando a mulher admitiu que ele cozinhava tão bem quanto Mary, ele chorou emocionado. 

Seus sonhos hoje em dia não são absurdamente visionários, na verdade, passam longe disso. 

Styles nunca trabalhou em uma cozinha industrial, apesar de ter deixado seu currículo em vários restaurantes de sua pequena cidade. O mais perto que ele chegou de uma, foi quando trabalhou na padaria da Sra. Jones — sua função era ficar no caixa, mas ele fugia pra cozinha para vê-la preparar os pães, bolos e doces. As vezes, a senhora de cabelos brancos e abraço aconchegante, deixava-o ajudá-la em algum preparo quando estava sem movimento na loja.

Portanto, o que Harry queria, era uma cozinha para chamar de sua. Seu restaurante, sua forma mais pura de arte. Queria poder fazer as pessoas perderem a vontade de fotografar seus pratos, trocando tal ato por apenas sentar-se e apreciar sua comida.

E, acima de tudo, ele queria poder continuar cozinhando com o coração. 

Deixar Holmes Chapel não o amedrontava, longe disso. Sua avó faleceu quando ele estava prestes a completar nove anos, mas antes disso, pediu que ele ganhasse o mundo. E então, ele o faria.

Harry Styles ganharia o Club Of Chefs e, então, o mundo.

E por todos os lugares que ele passasse, ele faria questão de gritar "vovó, eu ganhei" — sempre acrescentando o nome da cidade junto. 

Ele veria o mundo com seus olhos verdes — que eram idênticos aos de Mary, e então ela o veria também.

─ Você já começou a arrumar as malas? - Gemma perguntou, depois de comer todo o cordeiro — apesar de ter reclamado.

─ Tá quase tudo pronto. - Harry respondeu, escondendo o fato de que já tava tudo pronto há alguns dias. 

Não queria que a irmã pegasse no seu pé e começasse com o discurso de que ele não precisava ficar tão ansioso, porquê ele estava ansioso ─ de fato. Muito, inclusive. Aquele era o sonho dele, afinal. E, tudo bem a mais velha não entender, mas ele já estava cansado de explicar.

─ Certo, que dia iremos visitar a mamãe para que você possa se despedir? - Gemma perguntou.

Anne havia se casado novamente, e mudado de casa. Os irmãos Styles moravam juntos, e a mãe com seu novo marido.

─ Amanhã? Eu preciso ir pra Londres na terça. - Harry respondeu, dando de ombros.

─ Combinado, vou mandar uma mensagem avisando. Ela vai encher o saco de você ter ido tão em cima da hora de se despedir. - Gemma resmungou, porquê era aquilo o que ela fazia de melhor.

Mas o mais novo apenas deu de ombros ─ mais uma vez. Ele sabia que sua mãe não iria encher o saco por conta daquilo. Ela sabia que ele esteve ocupado treinando, ela o entendia. Sabia do peso dos próximos passos de Harry, da importância que seu sonho tinha em sua vida.

Anne era uma boa mãe, mas não era só isso... Também tinha o fato de que aquele também havia sido o seu próprio sonho um dia.

OUI, CHEF | L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora