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Violett Cardinsk

Morar em St. Cloud estava perfeito. Nada seria mais satisfatório que morar em uma cidade que, a maior parte do ano chove ou faz frio. Em St. Cloud raras as vezes que faz sol ou calor e, por esses mínimos detalhes, aquela era a melhor cidade de todo o mundo.

Frequentar uma escola física não era tão ruim quanto Violett imaginou ou o quanto Jason Morris — o pai dela — afirmava ser. Pelo contrário, todo aquele ritmo, adolescentes e conversas eram agradáveis, e distraía Violett da sua verdadeira tristeza. Todo aquele ritmo que não parava, conseguia deixá-la fora de sua bola pessoal e melancólica.

Tudo estava muito bom, Violett até conseguiu uma amiga. Na realidade, Violett não sabia se poderia considerar a garota uma amiga ou se confiava nela para dar um título muito íntimo como de amiga. Mas a garota estava se saindo muito bem em conversar, falar sobre tudo e todos daquela escola. E quando a garota começava a falar, não parava mais.

— Eu te contei o que aconteceu na festa de ontem?

E mais uma vez, Mallory estava fazendo fofocas. Não que Violett se importasse, pelo contrário, ela gostava de saber tudo sobre as pessoas ao seu redor e era ótimo que tinha uma fonte confiável para transpassar os fatos.

— Não — ela comentou, enfiando um pouco de salada de frutas na boca.

Mallory arregalou os olhos, animada para começar a tagarelar.

— Sabe o Sebastian?

De repente, engolir a salada de frutas passou a ser uma tarefa muito complicada.

— O capitão?

— Sim — pronunciou, empolgada. — Ontem, ele estava dentro do banheiro com uma garota desconhecida. Algumas pessoas viram eles no banheiro, mas parece não ter acontecido nada além de beijos. Quando eles saíram as roupas dele não estavam amassadas e a garota estava arrumada demais para quem transou em um banheiro. Todos estão dizendo que foram apenas beijos ou que eles estavam discutindo a relação.

— Discutindo relação? — exclamou Violett, surpresa. — Eu não achei que ele namorasse alguém.

— E não namora, ele é solteiro. Mas você não acha estranho tudo isso?

— Você tem razão.

A cada dia o babada de olhos azuis — apelido carinhoso que recebeu de Violett —, vinha se superando nos boatos que corriam pelos corredores. O primeiro boato que Violett ouviu sobre ele, quando entrou na escola foi que Sebastian era traficante. As pessoas achavam isso porque não conheciam a vida dele e muito menos, ele costumava falar sobre isso. O segundo foi que Sebastian matou o pai, por isso ninguém nunca o viu. Nesse segundo, Violett sentiu vontade de gargalhar. Sebastian parecia não ligar para os boatos e pelo que Violett observou, ele tinha apenas um amigo que também jogava no time.

Violett e Sebastian são vizinhos e, para vizinhos eles vivem demais um na casa do outro já que, Megan e David desenvolveram uma amizade suspeita. Muito suspeita. Mas era bom jantar na casa de David, mesmo Megan exigindo que Violett comesse apenas coisas leves e não pegar pesado nas comidas gordurosas.

— Vamos comigo na festa de sábado? Por favorzinho! — Mallory olhou com aqueles enormes olhos pidões.

Violett encarou a garota negra e piscou, formulando uma frase que soasse gentil para a recusa daquele convite.

— Eu agradeço o convite, mas eu odeio festas.

Mallory fez um biquinho.

— Você é tão chata! Vai ser divertido.

— Desde quando encher a cara e assistir um bando de adolescentes bêbados fazerem merda, é divertido, Mallory? — Violett ergueu a sobrancelha esquerda.

— Desde sempre — Mallory deu de ombros. — Sempre sou a única sóbria dessas festas e sempre sei as merdas das outras pessoas.

— Então você vai para essas festas, basicamente para olhar o que as pessoas fazem quando estão bêbadas?

— É — ela ergueu os ombros. — Faço isso para me lembrar de nunca beber, pessoas bêbadas são um pouco idiotas e sem noção.

— Um pouco? — Violett exclamou, com ironia.

— Nem um pouco!

As duas garotas caíram na gargalhada.

Graças a Mallory os dias de Violett naquela escola não eram chatos. Ninguém além de Mallory arriscou uma abordagem amigável ou tentou uma aproximação. E naquele momento, Violett decidiu que Mallory era sim a sua amiga e que ela era confiável.

Mallory era negra, com trancinhas vermelhas no cabelo, gorda, lésbica e foi adotada por um casal branco. A garota foi abandonada aos três anos de idade pelos pais biológicos na Colômbia e cerca de sete meses depois, foi adotada por um casal de viajantes que fizeram uma visita naquele orfanato. Além de Mallory, o casal adotou mais duas crianças: uma garota ruiva e um garoto albino. Nessa família perfeita, Mallory é a irmã mais nova e a mais mimada por eles. Tudo isso, a garota contou para Violett no segundo dia de amizade e pelo contrário, Mallory não tinha raiva dos pais biológicos. Ela agradecia a eles, afinal, se não fosse por eles, George e Ellie nunca teriam a adotado.

— Ontem eu fiz um bolo de chocolate — Mallory começou, emendando um assunto no outro.

Era assim que a garota era: sempre emendava um assunto no outro.

— Carl disse que ficou horrível e a Alessa disse que estava com gosto de pneu queimado. Eu perguntei como ela sabia o gosto de pneu queimado, ela disse que imaginava pelo cheiro. Minha irmã não é estranha? — ela parou para respirar. — E meus pais disseram que o bolo estava muito bom e hoje, não tinha nada na geladeira, eu acho que eles comeram tudo, né?

Violett não segurou a risada.

Mallory era péssima na cozinha e não tinha exageros. Violett sentiu na pele porque Mallory levou um brownie de castanhas para ela e bom, no lugar do açúcar, tinha sal. Violett não tinha dúvidas que os dois irmãos ou até mesmo os pais da garota, tinham jogado o bolo fora.

— Com certeza!

E como sempre: Mallory emendou um assunto no outro, arrancando várias gargalhadas de Violett.


E como sempre: Mallory emendou um assunto no outro, arrancando várias gargalhadas de Violett

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