1 ▪︎ Wrald

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      As piores manhãs eram aquelas, quando o calor era tanto que em plenas oito da manhã qualquer um que não estivesse no conforto de um ar frio estaria correndo em busca de qualquer mísera brisa. Os transportes eram infestados pelo odor desagradável do suor e todos pareciam triplamente mais aborrecidos.

      Como uma boa cidadã de Wrald, eu me orgulho de ser uma dessas pessoas que defende com força os dias frios e nublados, isso porque ninguém merece as roupas marcadas pelo suor e os cabelos que insistem em ficar desgrenhados. Sinto que nasci no lugar errado, afinal em Wrald temos trezentos dias de calor intenso e sufocante, cinquenta de ar abafado e levemente nublado e, os últimos quinze, são de chuva incessante e com direito a leves geadas que servem mais com o propósito de reabastecer as reservas de água que sempre se encontram em estado crítico nos últimos dias de verão.

     Enquanto as províncias de Terrarum e Elfígia, possuem as cinco estações: Inverno, Primavera, Verão, Outono e Moções. Nós de Wrald temos somente calor de matar, raras chuvas arrebatadoras e o cacimbo, que é essa curta época em que o ar é abafado e ainda mais quente, mas onde os dias são mais úmidos, sendo basicamente aquilo que antecede as chuvas.

     Wrald é a terceira província do grande império de Ragnnar, possuindo um dos três líderes que auxiliam diretamente o grande Ragnnar. O homem que uniu as três províncias e governa todo o nosso mundo. Alguns dizem que Ragnnar é um deus, afinal o cara tá no poder há mais de dois séculos. Ninguém deveria poder viver tanto tempo. Há quem diga que o verdadeiro Ragnnar já faleceu décadas atrás, assim como seu filho que supostamente teria herdado o trono, segundo esses conspiracionistas é o neto de Ragnnar que está no poder, como um Ragnnar III. Sinceramente eu não me importo com nenhuma das duas ideias, não muda em nada na minha vida.

      Cada província é distinta em diversos aspectos e Wrald é, em termos leigos e resumidos, a província do futuro. Somos a maior fonte de tecnologia do nosso mundo e de muitos outros, Wrald jamais para e estamos em constante desenvolvimento tecnológico. Com o auxílio das nossas tecnologias criamos uma sociedade única, baseada principalemente em ideias, criações e conhecimento. Mas obviamente nada é perfeito. Em Wrald somente aqueles considerados gênios são prestigiados e levados a uma vida digna. Então ou você nasce um gênio e trabalha para o sistema, ou você terá de se contentar com trabalhos triviais e geralmente muito pouco valorizados.

       Aliás, eu não me apresentei. Meu nome é Aura, estranho, eu sei, mas fazer o quê né. Eu vivo em Wrald desde que me entendo por gente, jamais deixei esse lugar e não planejo deixar, e de qualquer forma eu não poderia. Eu sou uma propriedade do governo de Wrald. Sei que pode parecer estranho, mas essa é a minha realidade, afinal eu fui criada durante toda a minha vida em uma organização institucional focada na criação e desenvolvimento de jovens gênios.

     Geralmente essa instituição recebe somente jovens adolescentes prodígios e os prepara para o futuro, mas no meu caso foi diferente pois, aparentemente, fui abandonada em frente a essa instituição quando eu tinha somente um ano. A instituição não é um orfanato ou algo assim, mas uma das instrutoras pareceu ter pena de mim e permitiu que eu fosse testada. Mesmo que parecesse impossível que uma criança melequenta passasse no quase impossível teste destinado aos possíveis gênios, eu passei. Pois aparentemente desde o meu nascimento eu fui uma criança prodígio.

     Eu não me lembro do que houve antes da instituição, afinal era praticamente um feto, mas aos dois anos eu já sabia ler e escrever sem qualquer dificuldade a língua de Wrald, assim como aos quatro eu aprendi fluentemente as línguas de Terrarum, Elfígia e a língua Universal ao assistir as aulas das turmas mais velhas. Já aos cinco eu participava das turmas dos jovens com mais que o dobro da minha idade e, aos dez anos, eu já estava formada, sendo que geralmente mesmo os gênios só se formavam aos vinte anos. Não estou querendo me gabar, mas com tudo isso eu acabei me tornando um instrumento valioso da instituição e fui alvo de inúmeras pesquisas, mesmo que jamais tenham descoberto como era possível a existência de alguém como eu.

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