Capítulo I

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- Não há capela nessa cidade.

- Ore ao seu Deus de onde estiver, querida, e se for um Deus digno, há de escutar.

A discussão inicial foi despretensiosa e eu acho que não ouvi mais nada depois de "a capela me deixa mais confortável". Nunca entendi como algo podia ser mais confortável que a rede que teríamos na nossa nova varanda mas o que me impediu mesmo de dar devida atenção as contínuas palavras da minha bela flor primaveril foi o canto das marés que vinham em ondas espalhafatosas até a costa, nos convidando a olhar, como um bom anfitrião que diz "Fique à vontade para entrar, a casa é sua!". Instantaneamente me senti magnetizado, mas os dedos finos da minha interlocutora me guiaram rumo as escadas de tablado e fez-me consequentemente adentrar no que chamamos de nossa casa de verão.

- Podemos chamá-la de ninho de amor, certo?- iniciei certa vez.

- Você já foi mais romântico que isso! Agora soa como um pervertido.- ela reclamou, não contendo um sorriso.- Mais um motivo para não nos intalarmos numa cidade sem capela.

Eu tive argumentos como "não vamos nos instalar permanentemente, é apenas nossa casa de férias.", mas no fim sucumbi, e o ninho de amor se perdeu. Naquele tempo, ainda não sabíamos que a casa de verão se tornaria... se tornaria o que posteriormente, você, leitor, virá a descobrir.

De cara, tínhamos uma sala com algumas samambaias, pequenos quadrinhos com cenários litorâneos e uma estante improvisada com livros envelhecidos e desgastados. Pendurado perto à porta, um porta chaves de crochê azul, com os dizeres "agradeça as pequenas felicidades", mas a graça estava no chaveiro que consideramos um brinde do caseiro que organizou tudo para nossa chegada. O chaveiro tinha um letreiro com a inscrição "pequena felicidade". Nós rimos. Nós agradecemos.

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