Capítulo VII

6 2 0
                                    

Dois dias depois, a mulher que tanto amei se preparava para partir. Numa conversa com a mulher do caseiro, falou que passaria a gestação toda na casa dos pais dela, porque não suportaria passar por tudo aquilo sozinha. A dor que eu sentia por dentro não produzia lágrimas e isso me deixava cheio de agonia. De contra ponto, minha pobre esposa, então viúva, chorava compulsivamente durante toda a noite.

Quanto ao meu jovem assassino, eu mantinha meus olhos sobre ele cada vez que saía daquele casebre onde viviam. Sua expressão indiferente ao que tinha feito me revoltava. O barco a vela onde consumou seu crime estava limpo e em boas condições, bem diferente da versão dele onde eu me mantive, que conservava o vermelho espesso do meu sangue pelo convés.

Na manhã do terceiro dia, de malas feitas, minha amada apenas aguardava a mulher a quem chamava "amiga" para se despedir antes de partir. Ela colocava as bagagens no porta-malas do carro como se cada uma pesasse uma tonelada, mostrando o quão fraca estava.
Era ainda manhã bem cedo, o sol havia saído a pouco, e a expressão em seu rosto sempre belo era agora bastante abatida. Olheiras e bolsas sob os olhos, nariz vermelho e boca ressecada e machucada, provavelmente por mordidas nos próprios lábios... como me partia o coração vê-la assim. Mas a mão, ah, sua delicada mão se mantinha acariciando o ventre de minuto em minuto, como se nosso filho estivesse tão triste quanto ela e ela tentasse o acalentar e dizer "eu sei, meu filho, eu sei".

A movimentação diferente e os murmúrios incoerentes que saíam da morada do caseiro na noite anterior me deixou receoso. Queria que ela partisse logo.
Quando todos os três saíram da casa a alguns metros de distância rumo à minha esposa, senti um formigamento percorrer todo o corpo imaterial do qual era feito agora. Aquilo não era nada bom.

O presságio da tragédia era petrificante.


O Último Verão De Férias Onde histórias criam vida. Descubra agora