o alfa

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Depois do ocorrido com Hoseok, vários meses se passaram, soube que ele havia se casado com a ômega dele um mês após nosso "término", e estava extremamente feliz. Como descobri? Meu pai fez questão de me contar. E o que eu menos queria aconteceu, chorei amargamente na frente dele, recebendo risadas maléficas da minha mãe que me fitava com desgosto.
Não entendia o porquê de ser tratado tão mal, se fosse pelo acontecido, já tinha pedido perdão e feito de tudo para me redimir.
Se antes já não saia do meu quarto, depois de tudo que aconteceu, não tive nem ânimo para comer. Cada dia que passava via no espelho aquela imagem tremendamente horrível refletida, cada vez mais magro ao ponto de marcar os ossos do rosto, das costelas e das costas.
Minhas orelhas nunca mais se ergueram novamente, pois era mais um sinal da minha tristeza quase palpável no ar.
Quando levei as surras, ouvi cochichos dos empregados e até mesmo risadas maldosas, mas com o tempo isso acabou. Às vezes escutava um contando ao outro fofocas e novidades do que acontecia na alcatéia em que meu pai é o líder, e numa delas pude ouvir algo que me chamou a atenção minimamente.
— O líder Kim está devendo favores e até mesmo dinheiro ao líder Jeon da alcatéia do sul. Ouvi também dizer, que se ele não pagar o que deve, irão vir e matar todos nós, mas o líder resolveu isso com uma aliança de paz.
A beta fofocava baixo mas o bastante para que eu pudesse ouvir. Uma aliança de quê?
— Eles virão esta noite, e eu espero poder vê-lo! Dizem que ele não tem ômega por ser rigoroso. — as outras empregadas riram entre si.
— Se ele acabar casando com a senhorita Jennie, ela vai o colocar na linha só com a beleza dela— Uma delas falou. — Ou até mesmo a senhorita Ryujin.
Elas continuaram a rir e conversar, mas nada mais me chamou atenção, pareciam animadas com a futura presença de alguém que era importante. Não era sempre que tínhamos visitas.
Me assustei quando a porta do quarto foi aberta e a mesma empregada que conversava no corredor adentrou com uma bandeja na mão.
— Esse horroroso ainda está vivo? — riu, sendo acompanhada pelas outras que me olhavam com nojo — A senhora ainda não tomou a medida certa de te matar. Não passa de um mau agouro para o líder.
— Só de olhá-lo pode me dar azar para o resto da vida.
Por que sou tão indesejado assim?
Suspirei profundamente me encolhendo na cama, ciente dos olhares fulminantes delas, parecia que cada pedaço da minha pele queimava.
— Me desculpe, não queria lhe dar má sorte— soltei baixinho com lágrimas nos olhos, com a culpa já me tomando, meus choros eram frequentes.
— Ainda se atreve a me responder? Quem você acha que é?
Rosnou agarrando-me pelo braço afundando as unhas longas na minha carne, e empurrou-me contra a parede de madeira avermelhada.
Fechei os olhos fortemente quando a outra beta se aproximou e desferiu um tapa forte que me fez virar o rosto, que quase me fez perder os sentidos.
— Devemos te ensinar uma lição?
Perguntou uma à outra com um sorriso maligno estampado na face.
Novamente?

×××

A noite cobria o céu com um véu azul escuro, quase imperceptível. Pouco antes daquela cor se formar, escutei ao longe falas e risadas no andar de baixo.
Acho que a pessoa importante chegou.
Forcei meu corpo machucado a levantar da cama, minha curiosidade para saber quem era estava quase a me matar de ansiedade.
Nunca me atrevi a aparecer para ninguém de fora, eles não deixavam, e tão pouco eu tinha coragem de mostrar minha aparência horrenda.
Mesmo com ferimentos abertos e o corpo dolorido me esgueirei para fora do quarto cautelosamente para não ser visto pelos empregados ou meus irmãos.
Após andar todo o corredor desci alguns degraus da escada e assim pude ver as pessoas que estavam ali reunidas. Meus pais sentados num sofá bebericando um líquido marrom em uma taça, como todos os outros, minhas irmãs em pé, mostrando os melhores sorrisos e os visitantes do outro lado, ambos sentados em poltronas.
— Obrigado pela recepção, líder Kim. Mas agora vamos tratar de negócios. — o rapaz de cabelos negros falou suavemente, cruzando as pernas.
— Perdão, mas com todo o respeito, achei que seria o senhor Park que resolveria isso comigo.
Meu pai falou com um sorriso falso no rosto.
— Por ele ser um alfa e eu ser um ômega? Seja mais direto.
— Não foi o que quis dizer… mas se insiste — tomou todo o líquido do copo e o deixou de lado.
A tensão na sala era sufocante, pareciam ter ódio um do outro.
— Então vamos direto ao ponto, essas são suas únicas filhas? — o alfa perguntou, cortando a conversa.
— São nossas únicas filhas ômegas. Temos um alfa também, mas acho que não seria adequado.
Minha mãe respondeu e em seguida se arrependeu quando recebeu um olhar de repreensão do meu pai. Para ele, os ômegas nunca devem falar.
— Hm, são lindas— o alfa sorriu.
— Obrigada! — Ryujin respondeu sorrindo toda animada.
Arregalei os olhos, me encolhendo ali mesmo quando o alfa passou o olhar pela escada e levantou.
— Mas pelo que eu lembro, você tem quatro filhos, mas um deles foi deserdado.
— Oh sim… mas ele é um caso perdido, senhor Park, minhas filhas são únicas.
O mais velho levantou também, dando risadas sem graça, enquanto o rapaz de fios loiros se aproximava perigosamente de onde eu estava.
Com cuidado me arrastei sem fazer barulho e ao chegar no topo da escada dou de cara com uma das empregadas que havia me agredido mais cedo.
— O que pensa que está fazendo?
— Me desculpe, me desculpe! — suplico baixinho me ajoelhando.
Me protegi com os braços ao receber chutes e tapas fortes, que acabam me fazendo desequilibrar e rolar escada abaixo.
Meu corpo dolorido gritava de dor, minha barriga parecia revirar e dar nós no estômago, era quase insuportável.
O alfa que antes conversava com meu pai, se abaixou ao meu lado com o olhar assustado, quando cai ao pé da escada. Aterrorizo até mesmo os visitantes.
A empregada desceu com os olhos arregalados, pareciam que iam pular do rosto e começou a me puxar.
— Eu mandei cuidarem dele!
Meu pai rosnou e a beta se desculpou reverenciando várias vezes.
— Quem é este?
O ômega que antes estava sentado, olhou-me confuso, tocando minhas orelhas descobertas, e me afastei com medo.
— Seu filho deserdado, não é? — o alfa riu arqueando a sobrancelha.
— Levem-no de volta— respondeu com grosseria.
— Ninguém sai daqui. — o loiro o olhou sério e o ômega empurrou a beta que antes me puxava.
Olhei para o chão com medo de ter feito algo ruim, que acabasse machucando meus pais.
— Ele não vale nada é um ômega horroroso, desvirtuado.
O park assentiu com a cabeça e reverenciou.
— Vamos, Seokjin.
Sem que eu pudesse fazer nada, o rapaz loiro passou um dos braços ao redor dos meus ombros e por trás das minhas coxas.
— O que…
— Será este ômega— arregalei os olhos tentando me libertar dos braços alheios, mas a dor em meu ventre foi maior e não pude fazer nada— Se sair novamente da linha, Kim. Da próxima vez levarei sua cabeça e irei oferecer seus filhos e sua mulher como sacrifício por ser um monstro.
Disse por último e me levou casa afora, entrando em seguida em um carro preto confortável, me apertando sem muita força.
— O que está sentindo?
Tocou minha testa com o dorso da mão e subiu os dedos para minhas orelhas caídas, fazendo carinho.
— Você está queimando de febre.  — suspirou profundamente— Iremos cuidar de você agora. Eu prometo, tudo bem?
Falou num sussurro, e não pude ouvir mais nada quando a escuridão tomou meus sentidos e eu desmaiei nos braços do meu salvador.



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