Minhas pálpebras pesavam sob meus olhos, mas aquilo não impediu-me de abri-los, mesmo que vagarosamente.
Bem a minha frente um rapaz de fios loiros acariciava os pêlos de um pequeno filhote de gato de cor cinza, que ronronava manhoso, contente pelo carinho.
Não demorei muito a relembrar dele, pois seu rosto era muito marcante, com bochechas fofinhas e lábios carnudos. Era o mesmo que estava em minha casa e que me arrastou para fora de lá.
Suspirei profundamente, levantando o tronco e automaticamente o alfa me olhou abrindo um pequeno sorriso.
— Olá, Taehyung. Bom dia!
Me encolhi passando meus braços envolta dos meus joelhos. Como ele sabe meu nome?
— Por que está com os olhos vermelhos?
Sua expressão alegre foi substituída por uma de preocupação, e imediatamente caminhou com o filhote nos braços até a cama grande em que eu estava.
— Você é muito bonito, não deveria chorar.
Escondi meu rosto entre meus joelhos, me encolhendo ainda mais, deixando agora meu choro baixo sair.
— Shhh… olha, meu nome é Jimin. Não precisa sentir medo, sou amigo, tá bom? — o alfa se afastou. — Irei chamar o Jeongguk, ele é o seu alfa agora… não oficialmente. Enfim… Até logo.
Senti meu peito doer como se estivesse em chamas. O único que poderia ocupar esse lugar era ele, mas por ser uma aberração com certeza nem fiz parte de uma das opções de escolha.
Sentia raiva por ter nascido estranho e não ter a mesma vida que todos levavam. Ao menos o destino deveria presentear-me com algo bom… ele era tudo que eu mais queria. Mas agora...
Logo o rapaz se retirou do quarto e eu quis arrancar minhas orelhas acinzentadas, mas tudo que aconteceu foram pequenos cortes e unhadas, que resultaram em uma dor fina e chata.
A porta foi aberta e passos calmos foram ouvidos por mim, não ousei olhá-lo, sua presença fazia-me sentir medo dele. As palavras do alfa — Jimin — que estava conversando com meus pais, só de lembrar os pelinhos dos meus braços e das minhas orelhas se eriçam. Ele iria mesmo os matar? Se ele pode fazer isso, o que esse outro alfa também pode fazer?
Estremeci de medo chorando ainda mais, apertando os joelhos contra o meu peito.
— No seu estado, não é recomendável ficar assim.
Ouço a voz firme pela primeira vez.
Do mesmo jeito que está me fez ficar inerte, seu cheiro refrescante invadiu meus sentidos, tirando-me momentaneamente do ar, servindo até como um calmante.
Levantei a cabeça, mas não o olhei, ao invés disso observei meus dedos marcados com o sangue das minhas orelhas, enquanto minhas lágrimas desciam pelos meus olhos como duas cascatas.
Mal percebi quando duas mãos envolveram minha cintura e me forçaram a encostar na cabeceira da cama. No momento não pensei duas vezes e empurrei a pessoa para o lado sem o mínimo de delicadeza e foi só nesse instante em que vi o belo rosto do alfa, pois este agarrou minha mandíbula e me forçou a olhá-lo.
— Não é porque você está nessa condição que eu irei aturar atitudes como essa. — Falou com o mesmo tom de antes, não aparentava estar irritado. — Gentileza se retribui com gentileza, se fizer de modo que não me agrade, não me culpe por ser severo depois. Entendeu?
O homem arqueou a sobrancelha, encarando meus olhos tão profundamente que quase me afoguei em minhas próprias lágrimas e na cor de seus olhos. Um ser inútil sendo tratado gentilmente?
Não pude discordar ou fazer qualquer outro movimento brusco, não havia nenhuma escolha, mas quando foi que já tive isso alguma vez?
Me concentrei nos traços do rosto do alfa que se afastou aos poucos de mim. Os olhos azuis destacavam-se como se fossem duas jóias, eram hipnotizantes, a língua certamente raspava em sua bochecha interna e aquilo o deixou ainda mais bonito, de forma que senti inveja daquela face tão linda.
— Não chore mais, aqui é melhor do que o lugar que veio. — O moreno tombou a cabeça para o lado. — Não farei nada com você por hora, mas quando melhorar lhe darei minha marca em uma cerimônia.
Franzi a testa sem entender o que ele falava.
— E-eu não sei do que o senhor está falando.
Ele suspirou levantando da cama cruzando os braços fortes contra o peito.
— Não se preocupe, não teremos nada além disso. Até lá, pedirei ao Jimin que o acompanhe para lhe mostrar o lugar.
Falou com um semblante de desconforto.
— Irei te assumir, não se preocupe, não irá manchar sua reputação.
— Eu realmente não entendo, senhor.
O respondi confuso, limpando minhas lágrimas que mancharam o meu rosto.
— Me chame de Jeongguk. — Sorriu pequeno e pela primeira vez vi seus adoráveis dentes que lembravam um animalzinho que eu tinha quando criança. Então ele é a pessoa que as empregadas comentavam? — Mais tarde você ficará sabendo de tudo, agora preciso cuidar de alguns assuntos. Se precisar de algo, Seokjin, Jimin e Sana estarão aqui para orientá-lo.
Ele se curvou levemente e deixou o quarto sem mais nenhuma palavra. Mais tarde, perguntaria a alguém sobre o que o alfa — que aparentemente seria meu futuro par —, estava falando. Seja lá o que fosse, não parecia que eu tinha alguma escolha.
Voltei a deitar na cama confortável, puxando os cobertores até o queixo. Parando pra pensar que nunca havia deitado em uma cama tão macia, precisava aproveitar aquilo enquanto durava. Pois não pretendia permanecer ali.
E assim adormeci agarrado ao edredom. Durante a noite jurei ter escutado alguém caminhando pelo quarto, mas logo Hoseok inundou minha mente com sonhos repletos de amor, que ao menos dei importância ao dono dos passos.

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Redenção
FanfictionJjk+Kth|ABO Um ômega recessivo considerado uma aberração e um alfa com um passado trágico e amargo, o destino os une a partir do mesmo sentimento: a dor. Filho de um líder severo, Kim Taehyung é deserdado após o nascimento por nascer diferente de to...