Quando Safira acordou naquela manhã, fazia frio. Muito frio. Seus pelos estavam eriçados antes mesmo de sair debaixo dos elegantes cobertores de sua cama. Ela ouviu o alarme soar, e se não fosse pela geada lá fora, provavelmente não teria despertado com o toque. As cortinas automáticas se abriram, e por mais gelado que estivesse lá fora, o sol brilhava fortemente.
Malditas mudanças climáticas, resmungou em seus pensamentos, assim que abriu os olhos e mirou o ambiente externo através das paredes de vidro.
- Bom dia, Srta. Safira - disse Amy, a inteligência artificial de seu apartamento. - São sete e meia e já tem duas ligações perdidas. Novos três e-mails também chegaram na sua caixa de mensagens durante a madrugada. O que gostaria de conferir primeiro?
Safira sentou-se na cama, jogando os cobertores acima de suas pernas. Os cabelos curtos e ruivos pendiam sobre seus olhos que ela mal conseguia os manter abertos, então não se incomodou em ajeitá-los atrás da orelha.
- Um banho quente, por favor - Safira murmurou em quase sussurro, mas a IA entendeu o comando.
Forçou-se a sair da cama e caminhar os poucos passos até o banheiro. Colocou o pé para dentro do box e sentiu a água quente queimar suas costas, já estava acostumada com a sensação da dor e no fundo até gostava.
Se distraiu no começo pensando em como a água escorria para o ralo, descia até a estação de tratamento do prédio e em poucos minutos voltava para seu chuveiro. Era uma boa ideia, principalmente com toda a devastação que tinha acontecido no meio ambiente, só se ressentia por não ter sido ela a pensar nisso.
- Toque o recado mais antigo, por favor, Amy - pediu para Amy, após sentir que estava finalmente pronta para encarar o mundo real.
- Chamada realizada às onze e doze da noite de três de outubro por Mãe - informou ela. - "Olá, querida. Como você está? Sei que deve estar com o escritório cheio, mas tire algum tempo para nos visitar. Estamos com sau...."
Safira revirou os olhos.
- Próximo recado por favor - pediu. Ainda não estava pronta para encarar qualquer um de sua família, não depois da última discussão.
- Chamada realizada à meia-noite e duas do dia quatro de outubro por Mathias. "Safira, sei que o horário é inconveniente, mas preciso que me encontre amanhã... Hoje, no caso. Temos um trabalho. É importante."
Safira parou um pouco para pensar enquanto se ensaboava. Mathias estava estranho, bem distraído e o horário era realmente inconveniente, algo completamente estranho para o homem.
Assim que colocou o pé para fora do box, sobre o tapete, o sensor desligou o chuveiro e ar quente saiu das ventilações, logo ela estava totalmente seca. Seguiu pela porta adjacente à do quarto e entrou no closet. Enquanto esperava que o cabideiro preparasse a roupa do dia, checava os novos e-mails pela tela de projeção do espelho, nada além de entediantes formulários do escritório de advocacia.
Assim que seguiu para a cozinha, já estava vestida e o café já estava pronto. Pegou um copo térmico e despejou todo o conteúdo ali. Sem mais enrolação, pegou seu carro no estacionamento e seguiu para o escritório de advocacia.
Ficou lendo palavras e mais palavras de documentos até o horário de almoço. Avisou à uma das colegas que almoçaria fora e que não retornaria até o dia seguinte, então saiu em direção ao restaurante em que sempre encontrava Mathias Borges.
- Da próxima vez que me ligar naquele horário, cortarei sua garganta - ela o ameaçou, apontando uma faca de mesa para o homem, assim que ele se sentou à mesa.

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No Encalço
AksiQuando Safira, uma assassina profissional disfarçada de advogada é contratada para matar a dona do bordel mais famoso do Brasil de 2087, Felipa Alves, um esquema de tráfico de drogas vem à tona. Entusiasmada para o que seria o maior contrato de sua...