3. Solidão

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Solitário. Traído. Sozinho.

Não era a primeira vez que Jin Ling se sentia assim. Abandonado. A tão esperada conferência de cultivo foi um fiasco. Ele imaginou que seria uma oportunidade para reencontrar os novos amigos e, admitiu que ficou feliz quando Mo Xuanyu apareceu e o ajudou a dar uma bela surra em Jin Chan e seus comparsas, mas a revelação de que ele na verdade era Wei Wuxian o havia tirado do sério. Jin Ling agora estava sentando observando toda a ornamentação e o mar de faíscas em meio à neve. Era um cenário bonito, mas o clima na torre de carpa estava caótico. Todos comentavam: o patriarca Yiling havia retornado.

Pessoas andavam de um lado para o outro. Mesmo com tanta gente em casa, Jin Ling se sentia sozinho. Afogado em seus próprios sentimentos. Sua cabeça parecia ferver. Por que ele havia feito aquilo? O garoto abraçou Suihua com força e desviou de todos que o ofereciam brindes e comemoravam o grande feito: com Suihua, que um dia havia pertencido a Jin Zixuan, Jin Ling havia atravessado o abdômen de Wei Wuxian, que ficou desacordado. Quando finalmente ficou a sós em seus aposentos, Jin Ling se jogou no chão e chorou. Ele sentia que o que havia feito foi muito errado. Depois de conviver com Mo Xuanyu por um tempo ele aprendeu a admirar aquele jovem homem. Ele era inteligente, sagaz, do tipo que não guardava o conhecimento para si mesmo. Sua presença era sempre divertida. O garoto pensou que teria Mo Xuanyu para sempre como um amigo com quem poderia contar... ao descobrir que ele, na verdade, era Wei Wuxian, ele já não sabia no que acreditar.

De uma coisa ele estava certo: não devia ter ferido Wei Ying. Ele nem mesmo tinha dado ao outro a possibilidade de se defender, de explicar. As coisas estavam muito confusas. Será que tudo que tinha ouvido desde seu nascimento sobre o patriarca Yiling era verdade? Então por que ele tinha salvado a sua vida? Se ele era tão cruel como todos diziam, por que a sua mãe Jiang YanLi tinha impedido sua morte ao preço da própria vida?

Foi quando uma batida soou na porta.

Jin Ling não queria falar com ninguém. Fingiu que não estava ali, mas a porta foi aberta num estrondo. Ele já havia esquecido que o seu tio, Jiang Cheng, também estava na Torre de Carpa e havia presenciado tudo.

"Tio?" falou surpreso.

"Então você se lembra que eu sou seu tio", Jiang Cheng parecia triste, seu tom normalmente hostil não estava presente em sua voz. Para Jin Ling isso era assustador. O garoto cresceu em meio aos resmungos do tio e conhecia as nuances no tom de sua voz, o olhar, normalmente irritado. O brilho em Zidian que oscilava de acordo com seu temperamento. Ele sabia que Jiang Cheng usava a raiva e o sarcasmo para esconder a tristeza que ele não conseguia acalmar em seu peito. Quando seus pais morreram, Jin Ling era um bebê, embora ele tivesse sofrido com a ausência de seus pais e avós, Jin Ling não podia reclamar. Sempre foi cercado de amor pelo tio Jiang Cheng. Eles até mesmo pareciam pai e filho. Muitos falavam que Jin Ling tinha as feições do tio, nem a delicadeza de Jiang Yanli, nem a suntuosidade de Jin Zixuan. Era a cara do tio. Eles haviam convivido por tanto tempo que o temperamento também era muito igual. E ele sabia que o seu tio era superprotetor por ter perdido aqueles que amava quando ainda era jovem.

"Tio, você está triste?" Jin Ling perguntou, sabendo que não teria resposta. Mas uma lágrima escorreu pela bochecha de Jiang Cheng, mas logo foi impedida pelos dedos do líder de seita Jiang. "Ele realmente é Wei Wuxian?"

"Então você ainda não acredita? Acha que eu não teria reconhecido Wei Ying depois de tanto tempo? Você não sabe de nada pirralho!" Jiang Cheng respondeu, logo voltando a ficar em silêncio. "Tio, se ele era Wei Ying, por que ele me salvou tantas vezes? Por que simplesmente não me deixou morrer, já que teve tantas chances? Por que você não o matou agora a pouco?"

Mas Jiang Cheng não queria responder aquelas perguntas. Ele sabia que Wei Wuxian não tocaria num fio de cabelo de Jin Ling. Também sabia que era incapaz de matar Wei Ying, mesmo que todos do mundo da cultivação acreditassem veementemente que ele havia encerrado a vida do irmão na colina sepultura. Jiang Cheng sentia emoções que estavam sob controle há mais de uma década o inundando de corpo e alma. A morte dos seus pais. A morte de Jin ZiXuan, a morte de Jiang YanLi, tentando impedir que um cultivador decepasse a cabeça de Wei Wuxian, o corpo da irmã em seus braços e o suicídio de Wei Wuxian. Ele perdeu toda a sua família. Quando pensava que havia reconstruído o píer lótus e que finalmente teriam paz, seus irmãos morreram, num cerco que ele mesmo esteve à frente. Ele não conseguia parar de se culpar. Se sentia tão fraco e imponente. Não queria que Jin Ling o visse daquela maneira. Ao ver que o garoto estava bem e protegido na Torre de Carpa, decidiu voltar ao píer Lótus.

"Tio, por que está chorando?" Jin Ling não entendia porque Jiang Cheng estava tão emotivo. O garoto agarrou a mão que carregava Zidian e puxou o tio de volta para o quarto. Mas Jiang Cheng era mais forte e voltou a sair "Jin Ling, se encontrar com Wei Wuxian novamente, mantenha distância. Não é como se ele fosse da sua seita. Mesmo no corpo de Mo Xuanyu, não é como se ele fosse seu tio. Ele já morreu uma vez. Não vamos nos manchar com o sangue dele mais uma vez, sim? Wei Wuxian e quem mais o seguir não são da nossa conta. Ele sabe se virar sozinho. Vou voltar ao Píer Lótus, mas você deve permanecer seguro, ele não vai voltar à Torre de Carpa. Fique aqui, mantenha fada ao seu lado. Se ousar me desobedecer, quebro suas pernas" e Jiang Cheng saiu dali como um furacão raivoso. Ele não queria deixar Jin Ling sozinho, mas sabia que o problema com o Wei Ying precisava ser resolvido.

Desde criança, estar com Wei Wuxian era sinal de atrair problema. Por onde ele passava, Wei Ying sempre chamou a atenção de fantasmas, ghouls e todo tipo de confusão, fossem envolvendo humanos ou criaturas perversas que estivessem num raio de 10km. Automaticamente tudo se direcionava para ele. Jiang Cheng sabia que Jin GuangYao estava escondendo algo e que, mais uma vez, Wei Ying estava sendo acusado de crueldades que não haviam sido culpa dele. Mas quem acreditaria que o Patriarca Yiling não era autor daquelas atrocidades? Que outra pessoa realmente seria capaz de causar tanta confusão? Jian Cheng sentiu mais uma vez que tinha de tomar uma decisão difícil. Apoiar o seu irmão numa das encrencas que ele se meteu ou reafirmar o seu poder como o líder de seita Jiang.

Mas ele não era mais o mesmo Jiang Cheng, infantil, que receou se unir ao irmão. A seita Jiang também não precisava mais da aprovação de ninguém. Mais de uma década se passou desde que o Píer Lótus foi reconstruído e Jiang Cheng estava mais do que ciente que a seita Jin havia cometido erros no passado, quando Jin GuangShan queria se tornar o cultivador chefe. Jiang Cheng montou em Sandú e partiu para Yunmeng, onde havia escondido Chenqing.

Com um assovio, Jin Ling chamou fada para si. Ele não sabia como, mas precisava encontrar Wei Ying e sanar todas as dúvidas que estavam em seu coração. A cadela correu em sua direção. Ele prendeu Suihua em sua cintura e saiu em busca do patriarca Yiling e Lan WangJi.

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Obs: os capítulos não estão sendo revisados. Sinalizem ou  me mandem mensagem a qualquer erro ortográfico, me desculpem, ok? Quando terminar de escrever vou revisar tudo.

O primeiro beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora