Olho admirada para cada mesa da cafeteria — todas ocupadas por casais apaixonados —, e penso em como o dia dos namorados é lindo. Pelo menos para quem está namorando, o que não é o meu caso. De todas as minhas amigas, eu sou a única que já tem dezoito anos e nunca namorou sério. Claro que já fiquei com alguns garotos, mas nenhum conseguiu me conquistar a ponto de me fazer pensar em ir além. E minha vida ultimamente anda tão corrida que nem paro para pensar nisso. Mas, sendo sincera comigo mesma, eu gostaria de ser tratada assim, com tanto carinho.
Esse é o meu primeiro emprego. Faz exatamente cinco meses que estou trabalhando aqui. Assim que completei dezoito anos, já saí em busca de um serviço para ajudar nas contas de casa. Ser a mais velha de cinco filhos não é fácil, ainda mais agora que meu pai faleceu e minha mãe está tendo que se virar. Ela trabalha como doméstica na casa de um pessoal rico, e mesmo assim tem sido difícil dar conta de tudo; água, luz, aluguel, comida... É claro que eu não poderia deixar todas as despesas em suas costas. Tenho tentado ajudar como posso, ficando com no máximo cem reais do meu salário. Minha mãe sempre cuidou de mim sem reclamar, e agora chegou minha vez de fazer isso por ela.
— Dia dos namorados é um saco! — resmunga Tatiana ao parar ao meu lado no balcão.
Tati é a balconista do café. Ela é divertida e um pouquinho temperamental às vezes, mas uma excelente amiga. Ela me ensinou muito com toda a experiência que obteve em seus empregos anteriores, e por isso sou muito grata.
— Não fala assim. Você só está emburrada porque está solteira como eu. Se estivesse namorando e sendo paparicada, amaria esse dia. — Cutuco seu ombro e Tati sorri, mas logo disfarça.
— Verdade — concorda Cleide.
Cleide abriu essa pequena cafeteria muitos anos atrás, junto com seu marido Murilo. Ela nos contou que com eles foi amor à primeira vista. Será que isso realmente acontece? Cleide é aquela romântica incurável, e posso dizer que o dia dos namorados é o seu dia favorito no ano.
— O papo está ótimo, mas preciso voltar a atender as mesas. — Coloco meu bloquinho no bolso do avental junto com a caneta, pego o pedido da mesa sete e vou até eles entregar.
O dia está sendo resumido a casais e mais casais, alguns beijos para lá, outros para cá, e muitos presentes e carícias. Nesse momento já estou concordando com Tati. Não vejo a hora de acabar. Sei que é dor de cotovelo, mas ver tudo isso está me deixando deprimida. Quando estamos em casa é mais fácil superar esse dia, mas aqui no trabalho é impossível.
— Olha aquele homem que acabou de entrar. — Tati aponta disfarçadamente com a cabeça em direção a porta.
Me viro e vejo um homem tão lindo, mas tão lindo que pela primeira vez sinto meu coração disparar e minhas pernas fraquejarem. Ele parece ter saído daquelas revistas de empresários poderosos. Aparenta ter em torno de uns trinta anos, ou um pouco mais; e o bronzeado de sua pele faz parecer que acabou de pegar uma praia. Queria ver seus olhos, mas está de óculos de sol. Sua barba é muito bem feita, embelezando ainda mais seu rosto, e o terno preto que veste parece ter sido desenhado em seu corpo. Ele é perfeito.
— Vai atender o rapaz, Sofia. — Cleide gesticula com as mãos.
Vou em direção à mesa, e a cada passo para mais perto dele sinto meu coração acelerar ainda mais. Por um momento acho que estou tendo alguma coisa. Não é possível um coração bater tão rápido assim. Ao parar na sua frente, consigo sentir seu cheiro. Que perfume delicioso. Nunca senti um perfume assim. Parece que entrou por meu nariz, chegou em meu pulmão e se espalhou por todo o meu corpo. Será que é isso que os perfumes caros despertam nas pessoas? Porque com certeza esse homem não é um desses empresários que frequentam a cafeteria. Ele é diferente. Seu cabelo castanho está perfeitamente cortado e é bem liso, com reflexos dourados em algumas mechas. Deve ser um príncipe do mundo moderno. Rio de meu pensamento. Às vezes minha mente vai além.
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Surpresas Do Destino (Trilogia Destino Livro 01)
Romance⚠️ Completo na Amazon ⚠️ Sofia é uma humilde garçonete de dezoito anos que conseguiu seu primeiro emprego em uma cafeteria no centro da cidade de São Paulo. Mais velha de cinco filhos, trabalha duro para ajudar sua mãe no sustento da casa. O que ela...