Cometi muitos erros na minha vida.
Já me deixei ser dominado pela raiva e graças a isso machuquei gravemente um colega da escola nos meus quinze anos, e muitos outros homens. Já fugi de casa para ir a uma festa que terminou com tiroteios, e o meu primo foi atingido por minha causa, já ofendi e dei um soco num agente da polícia e acabei preso, e não digo tudo isso porque sou um homem mau ou que só comete erros. Eu simplesmente agia sem pensar, não tinha em conta as consequências. O que eu quero dizer, é que de todas as vezes que eu errei, essa foi a pior de todas. Esse foi o pior erro que já cometi e sei que vou me arrepender pelo resto da vida.
Isso ainda me assombra durante a noite, e é algo que não pode simplesmente ir embora. Não gosto de tocar no assunto ou falar sobre isso, prefiro guardar para mim, deixar enterrado no meu coração. Prefiro acreditar que ninguém sabe e que tudo está bem.
Mas está longe de estar bem.
Não dá para mudar o passado e sinceramente, não acho que gostaria de fazer isso. O meu passado não foi tão agradável assim. Bem, houve duas partes: a parte boa e a má. Na parte boa, eu só vejo os meus pais e, claro, a mulher que eu amava loucamente — ainda amo — e na parte má, a morte de tudo o que amava e a pobreza. Ser pobre não é uma coisa tão ruim, o que é ruim é você ter o compromisso de cuidar de alguém e não conseguir fazer isso. Todos podem me julgar, mas ninguém nunca irá entender porquê eu fiz aquilo.
Essa é a parte do meu passado que não me deixa dormir à noite. O que eu fiz, o que eu sou não me deixa respirar. É difícil olhar para mim ao espelho e sempre faço um esforço para que ninguém perceba que dentro de mim só há destroços. E as pessoas que me amavam, já não amam mais.
— Você nunca tinha dito antes, Sebastian — Thompson arregala os olhos com a minha confissão. Eu nunca tinha dito antes porque sabia que ele nunca aprovaria a minha decisão. — Se eu soubesse...
— A decisão era minha. Eu tive que fazer o que precisava ser feito.
— Sei disso, filho. Mas tinha várias outras saídas.
— Eu precisava deixar o meu passado para trás, todas as coisas ruins para trás.
Ele levanta com o seu copo de whisky, admirado, um pouco desiludido e furioso também. Não gosto desse olhar porque ele traz consigo uma onda de sermões.
— Todas as coisas ruins? Aquela pobre mulher infernizava a tua vida?
— Não é isso que eu quis dizer. — Encosto o meu corpo contra a parede de vidro, onde a água escorre por causa da tempestade impiedosa que está lá fora.
— Eu preciso entender, Sebastian. Não encontro a sua razão nessa história. Nada justifica o que você fez.
— Não se coloque no lugar dela, mas sim no meu. — Digo calmamente. Ao longo dos anos, consegui aprender a controlar a minha raiva. Dificilmente grito com alguém, bato em alguém ou quebro tudo o que está na minha frente, quase nunca faço isso. Sou outra pessoa, talvez a que ela merecia amar.
Ou não.
— Vou tentar.
— Não digo que tenho toda a razão, mas não dava para continuar, Thompson. Como eu poderia continuar?
— Você odeia o seu passado por isso?
— Talvez. Isso significa que eu seja um monstro?
— Você não é um monstro, Sebastian. Apenas cometeu um erro.
— O meu passado foi um erro.
— Isso significa que ela foi um erro? É assim que você a chama? De erro?
Minha atenção está toda nele agora, por conveniência, os trovões aparecem também para acompanhar o meu olhar furioso. Eu nunca chamaria ela de erro.
— Provavelmente. — Continuo calmo apesar de estar com raiva. — Aquilo foi um sacrifício. Algo precisava ser feito, mas o que parecia certo acabou por machucar ela. É por isso que ela deve me odiar.
— E você é feliz agora? Hoje?
— Sinceramente, não. Estou bem, mas não sou feliz. E vou explicar porquê.
Ele volta a sentar e prepara-se para ouvir a minha história. Uma história que deixou uma grande marca no meu coração. E tenho a certeza que no dela também.
Uma história triste.
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Agora e para sempre [COMPLETO NA AMAZON E KINDLE UNLIMITED]
RomanceSebastian e Janet tiveram uma intensa história de amor e a meio as dificuldades, Sebastian simplesmente desapareceu, sem deixar pistas, deixando Janet completamente sozinha carregando o seu filho na barriga. Anos depois, Janet decide procurar u...