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Euforia. São apenas nove e meia da manhã de sexta-feira, e a palavra que descreve o som – ou melhor, a algazarra – que ecoa na arena, é euforia. Por que? Porque mais uma vez, o time de hockey foi o grande vencedor do Frozen Four.

É meu segundo semestre na Ontario University, consequentemente meu segundo ano dividindo o rinque com os brutamontes que todos insistem em chamar de jogadores. Grande coisa. Desde que comecei os estudos na universidade, tive que aprender a lidar que meus treinos não me serviriam mais como uma forma de relaxamento, pois é impossível se sentir calma com os gritos constantes que vem do lado esquerdo do rinque, onde os Hawks praticam suas jogadas.

Não me leve a mal, eu amo hockey. Céus, amo esportes no geral. O meu problema é com o caráter dos jogadores do Toronto Hawks – ou a falta dele. O "hockeycentrismo" é uma filosofia muito disseminada pela Ontario U, e faz com que o time pense que eles têm prioridade em qualquer situação.

Qualquer uma.

Eu observo o zoológico no gelo enquanto aguardo a treinadora Hollis e meu par, Alexander, para nosso treino da manhã. Meus patins já estão em meus pés quando vejo o cabelo curto e loiro de minha treinadora se aproximar de mim na arquibancada.

- Annia! Assunto Urgente.

Como se o universo avisasse, os garotos do hockey vão saindo do gelo, esvaziando a arena. Me levanto, tensa, esperando a notícia que irei receber.

- Alexander está fora. 6 meses de recuperação.

- O que? – Minha garganta se fecha, e minha voz sai mais alta do que o planejado. Como assim, fora? Depois de termos preparado a coreografia toda para as competições que vinham aí? O que diabos poderia ter acontecido? – Fora? O que houve?

- Ele foi passar o fim de semana no Alaska com a família, resolveu esquiar e rompeu o ligamento do tornozelo. Ele me ligou agora pela manhã, quando recebeu o laudo médico sobre o caso. Eu sinto muito, Annia.

Eu me sento, atordoada com o que acabei de ouvir. Isso significa que meu ano praticamente inteiro está no lixo, enterrado. Mesmo que Alexander retornasse em setembro, as competições já teriam passado. E com o pequeno e insignificante programa de patinação da universidade, eu não tinha nenhum par reserva. Ele é o único rapaz que participa da patinação.

- Eu posso seguir como solo. A coreografia é simples, e a parte dele pode ser ajustada. Não preciso de apoio para realizar todos os movimentos, posso dar um jeito nisso. Vamos conseguir dar um jeito nisso, não é?

A treinadora me lança um olhar de pena, e é como se abrissem um buraco onde estou sentada.

Não, não daríamos um jeito nisso.

- Annia, suas inscrições foram feitas em dezembro. Todas constam como categoria de duplas. Eu sinto muito querida, mas você sabe que eles não aceitam mudanças na inscrição depois do prazo. Sua única saída seria ter um outro par. – Ela suspira.

Inacreditável. Não quero soar como uma idiota, mas todos nós sabemos que precisamos tomar cuidado com o que fazemos quando a temporada começa. Não estamos mais em férias, então por que diabos Alexander foi viajar e se arriscar esquiando? Talvez eu esteja sendo uma idiota, mas minha frustração é grande demais para eu me importar com isso.

- Eu estou indo encontrar com ele agora no médico, para entender melhor o que aconteceu e ter uma ideia de como vai ser a recuperação. Eu te ligo se tiver alguma notícia. Eu sinto muito mesmo, Annia. Você iria brilhar nas competições esse ano, como sempre. – Ela se despede, me deixando sozinha na arquibancada gelada da arena.

Light the LampOnde histórias criam vida. Descubra agora