Capítulo 10

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5 anos depois – Buenos Aires

Como o tempo passou rápido, parece que foi ontem que eles nasceram, que eu ainda os amamentava, que eles disseram pela primeira vez a palavra mamãe. Alice e Matteo já tem cinco anos. Cinco anos de tudo, da faculdade, do parto, do coma, da aposta. Cinco de anos que eu não tenho notícias daquele imbecil e covarde de Ruggero.

Há um ano eu voltei para Buenos Aires. Recebi uma proposta de emprego e resolvi aceitar.

-Por que eu simplesmente não posso esquecer ele? Seria tão mais fácil. Mas como esquecer uma pessoa, quando você tem cópias idênticas dela, dentro da sua casa – Pensei.

Olhei para os meus filhos enquanto arrumava Alice para ir à escola. Matteo é a cópia fiel do pai, Alice também, porém, ela tem o mesmo gênio que eu e os olhos. Alguém tinha que puxar algo meu. Matteo já é mais brincalhão, meu filho fala cada coisa. Os dois são muito espertos e inteligentes. Os dois nasceram com uma marquinha no braço que tanto Carolina como Ruggero tem.

Eu? Bem, eu consegui me graduar em Oxford e da graduação fui direto para o doutorado. Eu era uma das melhores alunas e isso não foi difícil. Hoje tenho meu título de doutora, sou uma geneticista de conceito e muito, muito rica com apenas vinte e três anos de idade. Criei meus filhos sozinha, nunca conversei com Ruggero, ele nem se quer sabe da existência dos filhos e eu até acho melhor assim, mas as vezes me culpo por esconder isso dele.

No entanto, é como eu disse, meus filhos são espertos. Quando chegou uma certa idade, eles começaram a perceber que todos os coleguinhas da escola tinham um pai nas festas de dia dos pais e eles tinham a mim. Sei que fui mãe e pai deles, mas eles sentiam falta de uma figura paterna. 

Lembro da vez que Matteo me perguntou a primeira vez sobre o pai.

-Mamãe por que os meus amiguinhos tem um papai e eu e a Ali não temos? – Perguntou me deixando assustada.

-Quem disse que vocês não têm um papai, filho? – Perguntei de volta.

-Ninguém disse, eu vejo. Os pais dos meus amigos sempre estão nas festinhas. – Falou e me deixou sem reação.

-Mas vocês têm o vovô o tio Estêvão. – Disse.

Estêvão é meu melhor amigo. O conheci em Oxford e uma das poucas pessoas que sabem de minha história. Ele acompanhou o crescimento dos meus filhos e tanto Ali quando Matt, amam muito ele, mas também sei que não é a mesma coisa.

-Eu sei, mamãe, mas não é a mesma coisa. – Respondeu.

Eu entendia a dor do meu filho e mesmo que eu não estivesse preparada, eu sabia que esse momento iria chegar. Eu fiz uma promessa. Chamei Alice e coloquei um em cada perna para conversar.

-Filha vem aqui. Senta aqui com a mamãe e o Matt. – Pedi.

- O que foi mamãe? -Ali perguntou.

-Vou falar algo para vocês e quero que prestem bastante atenção. Certo? – Disse.

-Sim, mamãe. – Os dois falaram juntos.

-Ali, Matt, não é porquê os coleguinhas de vocês levam os papais deles para as festinhas, que vocês não têm um também. – Falei.

-Como assim mamãe? Então nós temos um papai? – Matt, perguntou.

-Sim, filho. Vocês têm. Só não conhecem ainda. – Falei.

-Ebaaaa...onde ele está, mamãe? – Ali gritou animada.

-Prestem atenção. O pai de vocês teve que fazer uma viagem muito longa. Ele ainda está viajando. A mamãe não sabe quando ele volta. – Falei.

Cinzas do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora