Em menos de uma hora Kent e eu já havíamos mudado quase tudo. Sentei ao seu lado no chão do que seria meu quarto mais para frente e ofereci-o uma garrafinha d'água que havia trazido comigo. Ele aceitou em silêncio e ficamos assim por um tempo, o único som do ambiente sendo nossas respirações ofegantes pelo esforço físico de mais cedo.
Estávamos próximos o bastante que nossas coxas se tocavam de quando em vez, causando choques em minha pele. Fitei os braços de Clark esticados sobre seus joelhos atentamente. O mesmo relógio prateado residia em seu pulso direito e num impulso, toquei-o de leve, o analisando. Ele continuou quieto deixando que eu estudasse o objeto. Em algum momento meus dedos roçaram contra os pelos ralos em seu braço e mais um arrepio percorreu meu corpo.
Olhei para o garoto e sua expressão era humorada, como se estivesse entretido pela minha curiosidade à cerca do relógio. “Herança do meu pai.” A voz dele soou grossa e imponente, proporcionando outro arrepio em minha espinha.
Kent moveu-se distraidamente e fez com que eu tocasse seu braço de novo, dessa vez de maneira deliberada, e trocamos mais um olhar demorado. Meu coração estava a mil àquela altura, ameaçando deixar meu peito de malas feitas. Engoli em seco considerando suas palavras, voltando a fitar o relógio para ver que horas eram. Faltavam alguns minutos para as três, o que significava dizer que ainda tínhamos duas horas até meus pais chegarem do trabalho. Não sei o que me deu ali, talvez meus vários anos de adolescência e rebeldia reprimidos, mas ofereci um sorriso sugestivo ao rapaz.
Sim, sugestivo.
“É muito bonito”, respondi baixo, lentamente, lançando um olhar de soslaio ao relógio. Clark sorriu minimamente, acompanhando meus olhos até o objeto. “Igual ao dono”, murmurei mais baixo ainda, o que fez com que ele me olhasse humorado de novo.
“O gato comeu sua timidez?”, soltei uma risada com suas palavras, meu rosto corando de imediato ao constatar o que de fato eu havia acabado de dizer. Dei de ombros e peguei a garrafa da sua mão sem pedir, tomando um farto gole de água. Suspirei com o alívio de matar a sede e quando voltei a encará-lo, seus olhos assistiam vidrados a cada movimento meu. Houve outro silêncio pesado no local, até que de repente sua face estava tão próxima da minha que jurei poder contar cada poro existente ali com clareza. Ele balbuciou, sua respiração batendo contra minha boca: “você também é muito bonito, Bruce.”
Meu rosto esquentou novamente, fazendo-me baixar a cabeça envergonhado. “São seus olhos”, brinquei, incapaz de conter meu sorriso gigantesco. Clark me acompanhou no ato, tocando minha mão delicadamente enquanto me fitava sem parar. Encarei-o inquisitivo. “O que foi?”
“São seus olhos.”
Não tive tempo de responder quando seus lábios se chocaram contra os meus de abrupto. Ele me abraçou desajeitadamente e permiti que me puxasse para mais perto sem pestanejos, quase ficando em cima do seu colo. Um arrepio imorredouro me acometeu quando sua língua invadiu minha boca despudoradamente, arrancando de mim um gemido involuntário. Eventualmente nos separamos para recuperar o fôlego e meu peito subia e descia conforme meus pulmões buscavam por ar.
Kent me lançou um olhar cheio de luxúria e voltou a atacar minha boca, dessa vez apertando qualquer parte do meu corpo que chegasse em suas mãos. Desalinhei seus fios por instinto e os puxei levemente quando senti seus beijos descendo por meu maxilar, pescoço e então busto. Mordi os lábios para conter os sons eróticos que lutavam para escapar. Segurei seus ombros numa tentativa inconsciente de conseguir algum apoio, sua ereção dura feito pedra debaixo de mim já começando a incomodar um pouco. Meu interior era frio e quente ao mesmo tempo, como a chuva e os ventos atacam o céu no mesmo instante em que há sol.
Ele ainda beijava minha clavícula por sobre a camiseta, apalpando meu torso de leve aqui e ali. Minhas calças estavam apertadas há tempos e senti que poderia gozar com a mera visão que eu tinha de suas carícias em meu corpo.
“Agora entendi porque você não é de falar muito”, abri um sorriso pequeno quando ele murmurou, voltando a fitar meu rosto com o mesmo desejo de antes. Clark arqueou as sobrancelhas, divertido com a situação. “Você é mais de demonstrar.”
“Bingo.” Beijei-o rapidamente, sorrindo contra sua boca quando ele tentou aprofundar o beijo em vão. Afastei-nos para encará-lo, apontando com o queixo para a janela. “Ainda tem umas coisas pra trazer.” Suas mãos dançavam por minha cintura, brincando abstraídas com a barra da minha cueca. Ele fechou os olhos dramaticamente, encostando a cabeça na parede. Fitei-o humorado. “Ué, você que se voluntariou a fazer o serviço e agora está aí fazendo corpo mole?”
“Não é óbvio que eu só fiz isso pra me aproximar de você?”, cerrei os olhos e Clark sorriu, mais uma vez indo até meu pescoço e o colorindo com beijos molhados. Suspirei trêmulo quando seus lábios encostaram em minha orelha e ele sussurrou: “desde que vi você estou completamente fissurado, Bruce Wayne.”
“Tenho esse poder sobre as pessoas”, dei de ombros e ri quando ele me olhou sério, mas logo voltou a mordiscar e lamber meu lóbulo. Reprimi outro gemido e suas mãos atrevidas desceram até a barra da minha calça novamente, ameaçando abrir o zíper. Arqueei as sobrancelhas e avisei, a contragosto: “não há nada que eu gostaria no momento mais do que isso, juro...”, fitei nossas intimidades pontualmente. “Mas meus pais podem chegar mais cedo do que o esperado e eles ainda não sabem da minha sexualidade. Melhor não arriscar.”
Observei o conflito nas írises de cerúleo de Kent, até que ele suspirou e se deu por vencido. “Certo. Mas não tenho culpa de você ser tão lindo...”, pulei levemente de susto quando suas mãos apertaram minha bunda com força. Dei um tapinha em seu braço e ele apenas riu, voltando a procurar meus lábios.
“Você é muito atrevido, cowboy”, sorri durante o beijo, sentindo a madeira gelada do guarda-roupa contra minhas costas quando ele mudou nossas posições. Suspirei contente, analisando suas feições igualmente serenas. “Sabe, eu nunca fiz isso”, resolvi ser sincero. Aquela nunca havia sido uma prioridade minha, afinal; a biblioteca da mansão sempre mostrou-se mais interessante ao meu ver.
Clark franziu a testa, mas eventualmente entendeu o que quis dizer. Ele deu de ombros, abraçando meu corpo e encostando o rosto em meu peito. “Então será uma honra ser seu primeiro.”
“Um cowboy sentimental”, reflito em voz alta, o que o faz virar o pescoço para me olhar. “Maravilhas que só o Kansas pode me proporcionar.”
Kent apenas revirou os olhos e aproveitei a deixa para trazê-lo a outro beijo, guardando minha timidez no bolso por aquele instante. Socializar de vez em quando até que não era tão ruim...
FIM
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KANSAS | 𝘴𝘶𝘱𝘦𝘳𝘣𝘢𝘵
Fiksi PenggemarOs Wayne vão à falência e precisam se mudar para uma pequena cidade no Kansas.