A lua erguia-se atrás de mim, seguindo cada passo e cada respiração meus, que era a única coisa que se ouvia na rua, exceto quando passavam carros a alta velocidade e que deixavam os meus cabelos taparem-me a visão. Devia ser quase meia noite e eu continuava a andar, mas sentia que estava perto do meu destino. Mais duas ruas e alcancei finalmente a casa branca tão familiar. Eu só queria voltar para casa e esquecer que este dia alguma vez acontecera. A este ponto, por mais que estivesse envolta numa paisagem de arrependimento e de pena, eu só queria vingança. Queria vingar-me de tudo o que não vinguei antes de voltar a cair nos encantos de Harry.
Na manhã seguinte, e com umas fundas olheiras no meu rosto, fui para a revista. Passei o resto da manhã concentrada no trabalho, talvez pensassem que estava mal-disposta ou sisuda.
Na parte da tarde, fui surpreendida quando ouvi baterem à porta e pude ver Rebecca encostada à ombreira da porta, fitando-me com um sorriso largo.
- Precisas de alguma coisa, Rebecca? - tentei não parecer surpresa.
- Não, estou bem. - ela acomodou-se na cadeira à minha frente - Só te vim mostrar uma coisa.
- Ai sim? O que é?
- Bem, não quero parecer intrometida, mas eu sei que tu e o Harry estão juntos. - desta não estava à espera, mas de qualquer maneira, já não era verdade. Permaneci calada e ela lançou-me um meio sorriso - Vim avisar-te que esse lugar nessa cadeira devia ser meu, em vez de estar a servir cafés. Por isso deixo-te uma escolha, ou fazemos isto a bem e despedes-te, ou então o mundo vai saber do vosso caso.
Cabra hipócrita. Ela estava a fazer um jogo comigo, mas eu não ia ceder. Sempre soube que ela não ia trazer nada de bom.
- E como pretendes prová-lo? - agora também sorria falsamente.
- Digamos que tenho alguns contactos. - ela dispôs de uma fotografia e deslizou-a na secretária para mais perto de mim, como se isto se tratasse de uma série policial.
Na imagem podia ver-se eu e Harry, claro, de mãos dadas a escapulir-nos por trás da minha casa, como acontecera no dia anterior. Mas como é que a foto foi tirada, se eu me certifiquei que nenhum paparazzi nos seguia? Rebecca tinha um bom baralho, mas eu tinha de me certificar que dava as melhores cartadas.
- Fazemos assim: basta despedires-te e sugerires o meu nome ao chefe. - a sua gargalhada era fria.
Quão hipócrita! Devia estar pálida, mas fiz os possíveis para não me ficar atrás.
- Tenho muita pena, mas eu não vou ceder, Rebecca. - voltei a deslizar a fotografia na direção dela. - Para tua informação, eu e o Harry já não estamos juntos.
- Então ainda melhor, passas por prostituta, o escândalo seria ainda maior.
- Deixa-me lembrar-te que tu e o Niall estão juntos secretamente. - já tinha esta ideia há vários dias, mas nunca cheguei a saber a verdade.
- Não me consegues chantagear, Stella. - a Rebecca não negara, o que queria dizer que o que eu insinuei estava certo, eles estavam juntos.
- Bem, então parece que vais ter de conquistar o teu lugar com talento. Agora sai, por favor.
Ela assim o fez, irritada, guardando a fotografia e andando a passo acelarado.
Depois de algumas horas de trabalho pareceu-me que os meus colegas tentavam evitar falar comigo ou até passarem pelo meu gabinete.
Mas até chegar à hora de sair o tempo parecia duplicar e o dia custou mais a passar do que o habitual.
Quando cheguei a casa deparei-me com a Hannah na cozinha. Já não a via à demasiado tempo. Parecia que tinha tanto para lhe contar, mas queria saber porque é que ela andava tão ausente e nós tão distantes.
- Hannah, não estava à espera de te ver aqui. - mandei-lhe um sorriso brincalhão e pousei a minha pasta do trabalho na bancada.
- Ainda é a minha casa, certo? - podia estar a falar por falar mas notei uma urgência da minha resposta na voz dela.
- Claro. - respondi-lhe mas estava decidida a perceber a razão do nosso afastamento - Porque é que as coisas não são como antes?
- A que é que te referes? - eu sabia que ela sabia ao que eu me referia.
- A nós. Já não somos como éramos e agora mal nos vemos. O que é que aconteceu entre nós?
- O destino, acho eu. Nenhuma de nós tem culpa disto. Mas talvez assim seja melhor. - eu não estava a entender aquilo.
- Tu estás a falar a sério?
- Sim, Stella, estou. Às vezes as coisas acontecem por uma razão.
- Eu acho que isto tem tudo a ver com o Liam.
- Stella percebe que o Liam não te odeia, o Harry não te odeia e o mundo não te odeia. - cada vez estava mais indecisa acerca disso - Agora, com licença, hoje não durmo cá.
Hannah passou atrás de mim e subiu as escadas rapidamente. Segui-a escadas a cima até à porta do seu quarto.
- Vais ter com o Liam?!
- Vou ter com ele quer queiras quer não. - ela guardava um monte de roupa numa mochila.
- Eu não acredito... - estava mais a falar para mim do que propriamente para ela.
- Stella, eu gosto mesmo do Liam e nós estamos bem os dois juntos. Só peço que o respeites.
- Eu fá-lo-ei quando ele o fizer. - eu sei que o Liam me odeia e que de mim apenas quer distância. É impossível eu alguma vez suportá-lo.
- Só quero que não se matem um ao outro. - ela agarrava a minha cara - Vocês são ambos muito importantes para mim.
Ela tinha razão. Apesar de não apoiar a relação deles eu devia zelar pela felicidade da Han. E se essa felicidade significava o namoro dos dois, então eu tinha que respeitar. Já tinha cometido demasiados erros ultimamente, perdido demasiadas pessoas e não podia dar-me ao luxo de perder a minha melhor amiga.
- Desculpa Han, eu não queria ser controladora ou ciumenta. Mas eu sempre te quis só para mim e tenho se perceber que tu não és só minha. Eu vou tentar respeitar o Liam e tentar ver esse lado positivo dele.
Ela sorriu e eu senti que aquele sorriso era um dos mais verdadeiros.
Ela voltou para a minha beira e abraçou-me.
-Sempre soube que ias compreender.
-Tenho outra opção? - ela riu nas minhas costas e largou-me pouco depois.
Eu tinha de deixá-la ir, era só uma noite, ela não ia morrer.
Depois de me sorrir outra vez, saiu até à porta e desapareceu para lá da madeira. Ouvi ainda o motor do carro a trabalhar e o som a dissipar-se.
Tinha de novo a noite só para mim e a casa vazia e não fazia a menor ideia do que fazer comigo.
Era nestes momentos solitários que eu começava a pensar no passado: que talvez tenha magoado o Niall; em tudo o que tive com o Harry; se em algum momento fiz a escolha errada em viajar para Inglaterra; em como estariam a lembrar-se de mim em portugal.
Às vezes imaginava o Harry a entrar em minha casa novamente e a reconquistar-me.