I - Queimem as bruxas!

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          Atualmente.

            O céu soturno e lúgubre daquela manhã era o prelúdio da sangrenta batalha que estava prestes a começar. No horizonte, as nuvens turvas e cinzentas serviam de plano de fundo para a barbárie que ocorreria na fronteira entre Píthanno e Erboaens. As lanças estavam içadas, os escudos a postos e as espadas empunhadas.

           Mais uma guerra, mais mortes, mais destruição...

           — Atacar! — O primeiro general de Píthanno, Magglio, gritou com tamanha ferocidade que alguns acreditaram que sua articulação temporomandibular poderia ter partido-se. E, galopou em direção ao inimigo.

           E, ao passo que a torrente chuva caía, as gotas ácidas de água se uniam com o suor e sangue derramado. O ódio impregnado nos corações dos guerreiros os motivava a continuar, pois aquilo que um dia fora uma simples desentendimento entre monarcas virou uma luta por espaço e sobrevivência. Os Pithanneses, adornados com majestosas armaduras de ferrylúdio — metal carregado de propriedades mágicas, encontrado somente nas minas de Píthanno —, eram homens comuns: pais, filhos, irmãos, maridos, pessoas sem treinamento militar. Rei Philey sabia que seria um massacre e, ainda assim, mandou seu povo para uma guerra perdida, por puro orgulho ferido, contando com apenas uma arma, o ferrylúdio.

         Já Anatriát, quando tomava a conformação de nação única, possuía poder bélico tão imponente quanto os Espartanos. Assim, tal qual a Grécia antiga, Anatriát era uma potência continental, não importava a quantidade exorbitante de conflitos internos, nenhum dos quatro reinos deixava de ser Anatriatiano, nem por um segundo, mas era fraca quando separada. E a Ordem de Ytresis gostava disso, de deter o monopólio da fragmentação política do saudoso império construído por Elkyor.

          Os estandartes das casas reais de Erdan, Kiasly e Quedrum foram hasteados. A frente ao exército de Anatriát estavam os três príncipes: Lorezzo, Octávio e Marín.

          No alto do corcel negro, Lorezzo comandava o ataque, brandindo a lâmina mortal, forjada no seio encantado dos Zubors, que lhe conferiu o apelido de cavalheiro da morte. A Illennest logo acertou o vão entre a armadura e o elmo do guerreiro inimigo, a carótida foi atingida e, antes que o homem pudesse gritar, seu líquido vital jorrava para fora do seu corpo, banhando a armadura reluzente de vermelho sangue. Lorezzo riu do feito, assim como olhou satisfeito por cima do ombro e contou as dezenas de homens que acabara de matar, lacerar e decepar. O ferrylúdio podia garantir a segurança temporária dos soldados adversários, no entanto perdiam suas propriedades sempre que o herdeiro de Erdan se aproximava e proferia palavras antigas, entre murmúrios.

            A amarga sinfonia dos cascos dos cavalos colidindo com o chão rubro e os grunhidos de dor, que se alastraram pelo ambiente, levariam muitos homens à loucura. Outrossim, os bravos guerreiros de Anatriát seguiam firmes no seu propósito, a conquista.

           "Conquista", o marvócio Octávio apreciava a palavra com fulgor, ansiava por ela. Nascido para guerra, o primogênito de Kiasly empunhava sua espada sem nunca recuar, não demorou para se lançar ao chão e enfrentar os cavaleiros em uma ferrenha luta corporal com movimentos meticulosos e precisos de alguém que treinou a vida inteira para esse momento. Só a glória importava para ele, as almas que havia ceifado nesta manhã eram apenas um meio para um fim.

           Enquanto Marín permanecia assombrado com a violência desnecessária, ele não queria estar ali. Todavia, era um príncipe e deveria ser tão feroz quanto os primos distantes e também príncipes, Lorezzo e Octávio. Deveria deferir golpes cruéis contra aqueles que nunca lhe fizeram mal, apenas tentavam sobreviver na gestão de um rei egocêntrico, que ignorava o sofrimento dos seus para resistir a Ordem de Ytresis.

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2022 ⏰

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