Realidade Cruel

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               ALERTA DE GATILHO




Amanheceu, a luz do sol entra pela janela do meu quarto refletindo em minha face, o som dos pássaros cantando lá fora e os outros barulhos do mundo exterior ao meu quarto invadem e colorem todo aquele meu terrível mundo me fazendo acordar com uma estranha porém gostosa paz, saio dos meus cobertores e sento na cama, o dia parece incrivelmente bonito, a medida que pisco e minha visão embasada se torna inexplicavelmente clara, a luz machuca meus olhos, mas de algum jeito estranho isso é bom, pego meu celular e já são onze e meia da manhã, levanto-me e parto em direção ao espelho do meu guarda-roupa, quando meus olhos encontram o espelho posso ver o contraste entre o dia tão lindo e minha aparência tão desolada, meus olhos estão vermelhos e minhas olheiras mais marcadas que o normal, mas de algum modo eu não sinto a tristeza e a dor que outrora eram as únicas coisas presentes em minha alma sumiram, eu me sinto em paz, a casa está bastante silenciosa, em dias comuns mesmo com a porta trancada os barulhos dos meus familiares seriam perfeitamente audíveis, porém agora só ouço os mesmos sons anteriormente citados, acho que já faz 4 dias desde a última vez que sai do meu quarto, toda vez que considerava essa ação meu corpo congelava e minha mente se enchia de medo por não querer encarar a realidade fora do meu mundo cinzento, agora, nada disso está presente em mim, decido então sair para ver se alguém está em casa, respiro fundo e abro lentamente a porta de madeira que rangia por sua velhice, porém, assim que termino de abri-la e olho pra frente em direção a sala da casa me deparo com uma cena terrível, vejo uma corda pendurada no teto, a medida que direciono minha visão para o resto da corda vejo ele lá, pendurado, seu corpo está roxo e o chão está coberto de sangue que pinga dos seus pulsos e braços mutilados, automaticamente toda a paz anteriormente presente em mim se transforma em cinzas e como um chute no estômago o pavor e o desespero me atingem em cheio, o belo canto dos pássaros se transforma em gritos ensurdecedores, o dia escurece e começa a trovejar, corro em sua direção, mas o caminho que seria curto parece ser uma corrida sem fim, quando finalmente consigo alcançá-lo para tentar tirar seu corpo dali ouço sua voz chamando meu nome:
-Gabriel, por favor me ajude, por que você não me impediu?- essas palavras atingem o fundo da minha alma.

-Me desculpa, Nathan, me desculpa, eu não sabia, eu teria de ajudado, teria estado com você, mas eu não tinha ideia, me desculpa-falo em meio ao choro-

-É sua culpa, você não percebeu por que estava muito ocupado com seus próprios problemas egoístas, você me matou, é tudo por sua causa, VOCÊ ME MATOU!

O chão então se abre, início uma queda sem fim rumo a escuridão, eu não posso voltar.

Finalmente acordo desesperado, meu coração está acelerado e minha respiração descompassada, minhas mãos tremem e finalmente percebo a realidade a minha volta, coloco as mãos sobre o rosto e começo a chorar como uma criança perdida sem encontrar seus pais, meu corpo inteiro treme e sinto como se meu coração pudesse parar a qualquer instante-Nathan, me desculpa, por favor, me perdoa- meu choro antes silencioso se torna alto e descontrolado, finalmente a minha ficha cai, ele já morreu, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

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