Não sei o porquê, mas sempre achei minha vida comum demais. Muito previsível, e não sou das que se dá bem com a mediocridade. A previsibilidade, aliás, estava em mim, Valerie, e não no mundo inconstante e volúvel ao meu redor. Eu não era como as pessoas sinistras de minha rua. Tampouco era como os famosos da televisão, ou como meus familiares. Eu não sabia quem era. Sabia apenas que, de uma maneira ou outra, eu não pertencia a mim mesma, apenas às circunstâncias.
Estas ponderações, porém, não eram tão levadas em consideração como minhas afirmações. Havia pessoas que acreditavam veementemente serem melhores do que as outras. Por terem isso em mente, achavam justo impor essa superioridade como verdade absoluta, rebaixando qualquer um que os questionasse. Atitudes assim costumavam me tirar do sério.
Um exemplo claro disto era Roger Martin — menino brilhante, inteligentíssimo e vindo de uma família muito humilde. No passado, antes de ser apossado pela arrogância, ele se mostrava um ser com futuro incrível pela frente, sempre respeitoso e pró-ativo. Os anos passaram e a revolta em seu coração pela condição de sua família, bem como as influências de seus amigos, acabaram o transformando em alguém detestável, narcisista, amargurado...
E violento. Muito violento.
— Isso é uma ameaça? — Roger disse, e sua voz não poderia estar mais terrível.
Já que já havia chutado o balde, resolvi enfrentá-los de uma vez. Respirei fundo, usando o resto de minha coragem suicida para dizer:
— Não sou de fazer ameaças. Isso é uma promessa.
Ele apertou as pálpebras, saindo de cima do garoto surrado e aceitando o desafio. Max fez o mesmo, levantando-se e indo ao seu lado, estralando os dedos.
— Sua promessa não me vale muito. Afinal, o que exatamente você poderia fazer contra mim com esses galhos que chama de braços? Ou me arranhar, me morder... Ou até me xingar se quiser. Ofender a minha pessoa é uma possibilidade, se sobreviver para tentar isso — Roger começou seu discurso; ou melhor, o anúncio de minha sentença de morte.
Eu até teria criatividade para respondê-lo, mas a ficha de que eu estava prestes a levar uma surra bloqueou a minha mente e — graças aos céus — travou minha língua.
— Não há nada de ruim que você possa fazer contra mim. Nada que vá me afetar. Mas há certas coisas que eu aceitaria de você. Coisas interessantes.
Imediatamente compreendi suas intenções, conforme seu olhar áspero e malicioso analisava meu corpo de cima a baixo.
— Você está louco?
— Tenho certeza de que deve ser bem esquentadinha na cama também.
. Ele passou as mãos na minha cintura. Afastei-me bruscamente, com uma expressão de nojo no rosto.
— Me larga!
— Uma cadela como você não deveria ser tão crítica — Max ria enquanto falava.
Senti-me desrespeitada e furiosa, com todas aquelas pessoas ao redor vendo minha humilhação. Não consegui evitar e retruquei antes de refletir:
— Se algum dia você virar homem, quem sabe.
Vi seus olhos arderem em resposta. Nenhum garoto resiste a um belo chute no seu ego.
— Quer apelar, não é? Prefere ir pelo caminho mais perigoso — Roger se aproximou com a raiva transbordando em seu olhar voraz.
— Tente agir como adulto, por favor.
— Valerie... Eu posso te quebrar todinha, você sabia?
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ULTRAVIOLETA | A Monarquia das Rosas
Novela JuvenilAlgo está errado em Noary. O mundo entrou em guerra - fugitivos imigrantes se alojaram nesta melancólica cidadela às margens da floresta para se refugiarem. Valerie é um deles. Todavia, a garota nunca imaginaria que, logo após a morte misteriosa de...