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Dois anos, dois anos que Sandù ShengShou usufrui de uma velha companheira: a solidão. Ele pode estar rodeado de discípulos, servos e conselheiros, mas ele sempre sente aquela mesma sensação, a mesma sensação de quando ele viu tudo ruir ao seu redor, a mesma sensação que sentiu ao perder tudo e todos, a solidão.

Jin Ling...

O único motivo para Sandù ShengShou não se sentir mais tão sozinho durante dezesseis anos, seu sobrinho, seu tão pequeno e precioso A-Ling, já era um homem, adulto e com uma seita sob seu comando. Ele tinha muito orgulho do homem que o sobrinho se tornou, só não sabia como expressar corretamente.

Mais um dia se encerrava na Seita YumengJiang, o céu era tingido pelos mais variados tons de laranja, amarelo, vermelho e roxo que se misturavam com a crescente escuridão da noite, havia sido um dia e tanto para o Líder de vestes roxas, discípulos a serem ensinados, papéis a serem lidos e assinados, reuniões a serem feitas, velhos a serem ouvidos, a única coisa que o líder Jiang queria no momento era paz, nem que fosse por meros minutos, minutos esses em que apreciaria o por do sol para então ir treinar suas habilidades. 

Ele se encontrava no píer da residência principal, ele estava parado no fim do píer observando as lótus que flutuavam suavemente pela água, a correnteza não era tão forte, era possível se ver alguns peixes se arriscando na superfície deixando suas belas escamas visíveis refletindo os últimos raios solares.

O líder se pegou apreciando aquela obra de arte natural e seus pensamentos voaram para anos atrás, antes da queda do Píer Lótus, quando seus pais e sua irmã eram vivos, quando seu relacionamento com seu irmão estava inteiro, lembrou das brincadeiras entre eles e os discípulos, o gosto da sopa de sua A-Jie lhe veio à boca, fraco e quase esquecido, mas ainda estava lá, aquele mesmo gosto, o gosto de sua infância e inicio de adolescência, o gosto de algo que não sente a anos, segurança.

Ele balança a cabeça para tentar afastar os pensamentos sobre o passado e fechou brevemente os olhos, respirou fundo e tornou a abri-los, remoer o passado não iria mudar nada, oque esta feito esta feito, as atrocidades que fez não seriam apagadas, os mortos não retornariam, assim como os sentimentos daquela época.

Subitamente o líder de vestes roxas escuta muxoxos, muxoxos que ele não ouvia a anos, estes que foram aumentando até se tornarem um fraco choro, ele olhou ao redor mas não viu nada até que seus olhos pousaram em algumas plantas perto da margem do rio, embrenhado no meio delas ele avistou um cesto, ele conseguia sentir uma energia vinda do cesto, o cesto estava a alguns metros da margem do rio então ele teria que entrar, ele tirou suas botas e pulou no rio nadando na direção do cesto, nadando contra a correnteza, até que ele conseguiu pegar o cesto e voltar ao píer tranquilamente, ou quase, o choro podia ser fraco mas ficava dez vezes mais alto por ele estar ao lado dele, o líder apoiou o cesto no píer e depois subiu, ficando sentado na borda, ele abre o cesto e se surpreende com oque seus olhos veem, uma criança, já era imaginável pelo choro, mas ele ainda parecia surpreso, ele pegou a criança delicadamente nos braços, parecia não ter muito mais que seis meses, a criança possuía pequenas madeixas negras e uma pele branca imaculada, ele balançou levemente a criança em seu colo que se acalmou aos poucos até  que começou a abrir os olhos, ele se depara com um par de íris lilases o encarando com curiosidade um pequeno sorriso se forma no rosto da criança e uma risada gostosa sai por entre seus lábios, o líder se perde olhando para a criança, ele se perde tanto que não percebe um pequeno sorriso se formar em seus lábios.

- Veja só oque a correnteza trouxe - falou para si mesmo - como acabou no rio? - perguntou à criança mesmo sabendo que não obteria uma resposta.

O líder se levanta indo em direção à enfermaria com a pequena criança nos braços, sem se importar que estava descalço, alguns servos passavam por ele e olhavam-no surpresos por vê-lo com uma criança nos braços, assim como alguns discípulos que estavam voltando para seus dormitórios. Bateu na porta da enfermaria assim que parou na frente sendo recebido por Xu Yeng, o médico da seita, que assim como todos se surpreendeu por ver seu líder com a criança nos braços.

~Oque a correnteza trouxe~Onde histórias criam vida. Descubra agora