Juramentos Incorruptíveis

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...

Depois de tantas emoções de uma só vez, Armin me ajudou a levantar do chão. Não conseguia dizer uma sequer palavra. Sua mão segurava a minha, me levando apressadamente pelo caminho. Porém, eu me sentia sem forças. Sem forças para falar, sem forças para andar. Sem forças para pensar, ou até mesmo chorar.
Caminhava com os olhos fixos no chão. Tão fixos, que chegavam a arder. Não haviam lágrimas. Eu não conseguia mais chorar. Não restou força alguma. Eu me sentia como em "piloto automático".
Em um momento do percurso, deixei meu livro, sujo de sangue, cair. Minha mão soltou bruscamente a de Armin, que logo percebeu e parou de andar. Queria me abaixar e pegar o livro. Queria voltar a andar e segurar sua mão, sua tão macia mão. Mas não conseguia. Não agora. Não depois de tudo isso.

-Kya, por favor... -Armin praticamente implorava.
O loiro voltou alguns passos, respirando fundo. Então se abaixou, ainda apressadamente, e pegou meu livro colocando-o abaixo de um de seus braços.
Seu outro braço, agora entrelaçado ao meu. E assim, Armin me carregava rapidamente até o navio.
Quando chegamos, quase era tarde. Seu avô já estava lá dentro, aparentemente extremamente preocupado.

-Onde você... Onde você estava?! -perguntou, segurando os ombros de Armin fortemente.
Armin resmungou baixo, ainda segurando meu braço.

-Eu...-

-Deixa, isso não importa. Você aqui agora é tudo o que interessa.

O mais velho soltou-o, suspirando baixo. Tornou a sentar-se, e Armin começou a se esticar, procurando por algo. Ou melhor, alguém.
Encontrou Eren e Mikasa, entrando no navio, por um milagre. Estavam atrasados, mais do que nós.

-Eren...!

-Deixa ele, Armin... Sentem, vocês dois. -o avô de Armin virou seu olhar a Eren e Mikasa.- Pobrezinho, deve estar traumatizado. -seu avô disse, então. Engoli em seco, ouvindo as últimas palavras.
"Pobrezinho... Deve estar traumatizado."
As lágrimas voltaram a cair, e senti um enorme cansaço em meu peito. Todo meu ar foi tomado em um suspiro profundo, que, fez com que eu finalmente desabasse. Depois de tudo o que presenciamos, eu estava finalmente soltando tudo o que estava preso. Outra vez.
Não tinha mais forças para gritar, mesmo que quisesse. Tudo o que sabia fazer era chorar, encolhendo meu corpo o máximo que podia. Como se pudesse simplesmente sumir a qualquer momento, ou então explodir.
A única pessoa que eu ainda tinha... Se foi. Para sempre. Ele se foi. Assim como a mamãe, ele se foi.
Caí de joelhos, ali mesmo onde estava, apertando o livro fortemente contra meu peito. Tão forte, que doía. Minhas unhas, cravadas na capa do próprio, provavelmente criando marcas. Já não importava mais, o livro já estava completamente sujo de sangue. O sangue do meu irmão.
Eu chorava profundamente, soluçando e gemendo entre cada lágrima que caía direto ao chão.
Me perdoa, por favor, eu não queria te deixar falando sozinho... Me perdoa, me perdoa... Eu te amo, não me deixa por favor...!

-P-Po-or fa-vor...!

Meus pensamentos por vezes saíam em voz alta, contra minha vontade, como sussurros embolados. Mas isso não importa. Nada mais importa.

Armin's Point of View

Kya deslizou pelo chão, voltando a chorar. Meu avô a encarava assustado, e eu não sabia o que fazer. Me sentia perdido.
Como uma pessoa que não tem família, não sabe consolar alguém que acabou de perder a sua...?
Por minutos, continuei apenas parado a encarando, me questionando sobre o que deveria fazer. Não sabia sequer o que falar.
As vezes penso que meu problema é pensar demais.

-K-Kya... -tentei sussurrar algo, mas nada saiu.
Apertei meus punhos com força.
Armin, é hora de agir! Você não pode deixar ela chorando no chão assim, fala alguma coisa! Você sabe o que fazer, você consegue. Você sabe que consegue.
Me ajoelhei a sua frente, franzindo a testa enquanto apertava meus punhos, tomado pela coragem repentina.

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