The Ocean Behind Your Eyes

Um Abismo em Meu Peito

Armin's Point of View

Passaram-se dois anos desde a queda da muralha de Shiganshina. Dois anos, desde o dia em que tudo o que construímos, acabou; Ou melhor dizendo, começou.
A idéia de que meus pensamentos pessimistas naquele dia atraíram os acontecimentos sobre a muralha me assombrava por dentro. Pessimistas não... Realistas.
Respirei fundo.
Eu não fui um pessimista, apenas um realista. Só preciso aceitar isso de uma vez.
O homem careca e alto a nossa frente caminhava de um lado para o outro, falando. Gritando, coisas nas quais eu não prestava a mínima atenção. Mas, mantinha os olhos fixos em sua direção, como quem se interessasse. Como quem conseguia engolir cada palavra dita e saciar-se daquele discurso intimidador, mandando assim energia e força para cada veia, cada gota de sangue desse tão frágil e mortal corpo humano.
Mortal, finito. Somos como máquinas, nosso corpo trabalha como uma máquina pré-programada para trabalhar exatamente como o planejado. E se um único órgão, uma única engrenagem falhar... Morremos.
O homem parou de caminhar, mas continuava a falar, sem cessar. Passei meu braço sobre a testa, limpando o suor ali acumulado. Lembranças daquele dia, o fatídico dia, vagando em minha mente.

Todos nós, no fundo, queríamos isso. Sair das muralhas, fazer parte da tropa de exploração. Odiamos aquelas muralhas a vida toda.
Sentia os ossos tremerem conforme pensava. Nada que fosse muito perceptível à quem me observasse, mas eu conseguia sentir. E a sensação de que qualquer pequeno empurrão pudesse quebrar minha espinha, era torturante. As mãos frias,-o que para mim era particularmente estranho, já que o dia estava bem quente, e o tecido da roupa de treinamento que usávamos não era um dos mais frescos- começando a suar. Movimentava meus dedos lentamente, tamborilando-os nas laterais de minhas pernas. Os braços, junto ao corpo.
O calor fazia meu corpo inteiro suar, e o vento, fazia grudar meus cabelos no suor de minha testa e pescoço.
Kya nunca gostou de sujeira e fedor, mas, isso se intensificou com os acontecimentos de dois anos atrás. Provavelmente pelo trauma de ter estado completamente suja do sangue de seu próprio irmão. O cheiro não era nada agradável.
Se sentir grudenta não deve estar sendo a melhor das experiências.
Evitava desviar o olhar de nosso instrutor, mas, pensar em Kya atraiu meu olhar para ela- mesmo contra minha vontade. Estava a alguns metros de distância, aparentemente concentrada em cada ato do instrutor. Os olhos âmbar brilhando como duas jóias reluzindo ao sol, os cabelos ruivos ornando-lhe o rosto, e cada curva de seu corpo, até pararem pouco abaixo de sua cintura.
A promessa que fizemos aquele dia, ainda ecoava em minha mente. Já tinha mencionado o mar com Eren uma ou duas vezes, mas, com Kya... Foi totalmente diferente. Ela não questionou, não duvidou, não hesitou. Ela apenas ouvia tudo o que eu tinha a dizer atentamente, uma expressão que nunca vi em toda a minha vida. Era hipnotizante, a atenção que ela prestava em cada palavra minha. Cada frase, cada sílaba e letra eram como sementes, crescendo em seu coração a cada chegada de ar em seus pulmões. Nunca vi tanta esperança, tanta curiosidade, tanto... Tanto amor em um par de olhos, como vi àquele dia nos olhos de Kyasurin.
Nunca fui do tipo de pessoa que fala pelos cotovelos sobre coisas que ama ou sente, sempre fui mais reservado. Não por não querer falar ou compartilhar meus sonhos, mas pelo medo. Medo da repreensão, medo de julgamentos. Mas, naquele dia, naquele momento...
Todas essas barreiras se quebraram. Eu não tive medo, eu não tive insegurança. Os olhos de Kya pareciam tão brilhantes quanto os meus, e isso afastou simplesmente qualquer medo que houvesse em mim. Eu sonhei em voz alta, pela primeira vez em toda a minha vida.
Notei os olhos dos outros "aspirantes a cadetes" começando a me encarar pouco a pouco, incluindo Kya. Então, desviei meu olhar rapidamente, percebendo o instrutor parado a minha frente, quase me engolindo com seus olhos assustadores. Quase deixei meu susto transparecer, mas engoli em seco mantendo a postura.