Nível 5. Comiseração.

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Vídeo game trivial

Ouvi por toda a minha vida que não devemos conversar com estranhos, muito menos pela internet. Era costumeiro ouvir minha mãe dizer: "Nunca sabemos quem está por trás da tela".

Definitivamente concordo com seu pensamento, até mesmo porque a internet é cruel em vários aspectos e todo cuidado é pouco dentro dela, mas infelizmente foi o que me acolheu por grande parte da minha adolescência.

Pessoas que me aconselhavam sem querer nada em troca.

Casos de amizade verdadeira e contínua existem sim naquele mundo, onde você com o tempo cria um vínculo inestimável com o outro ser humano. Não é a proximidade física que define uma amizade, por pouco seu valor.

Isso se aplica tanto a V quanto ao Yoongi.

A sua presença era e é mais real que as pessoas presentes à minha volta.

Nossos físicos não importam e nunca importaram, há coração e sentimentos entre tudo que decorre com pessoas que se importam com a alma, verdadeiramente. O lugar é diferente, a sintonia não.

Não é preciso provas quando se consegue sentir.

O pensamento que o personagem cruzou meu caminho apenas para seguir o seu se foi completamente, não acredito nisso como acredito em nossa inesperada amizade. Ele não deu as caras desde ontem quando cheguei no apartamento, pensei na possibilidade dele estar lá para me acordar, mas não estava.

E os pesadelos continuaram, novamente não me lembro de sequer uma cena do mesmo, faço meu máximo para lembrar, contudo, não consigo.

Estou com o vídeo game portátil em minha mochila seguindo para a biblioteca com intenção de mostrá-lo à Yoongi, e também com esperança de não desmaiar ao ver o garoto que me acompanhou de longe por tanto tempo.

Minhas roupas são quase completamente pretas com a exceção dos botões em meu casaco que são brancos acompanhado de uma boina igualmente branca presente em minha cabeça, acho que o contraste preto e branco combina comigo. Esse acessório para cabeça só é usado para eventos importantes, e hoje eu considero um dia especial nesse tanto.

O corredor em direção ao local marcado nunca me pareceu tão grande como agora, a cada passo dado o lugar se estende, ou talvez apenas seja minha cabeça brincando com meu coração.

Meus pés quentes dentro da bota se fixam no momento que chego em frente à biblioteca, meu peito não para quieto no lugar com essa respiração desajeitadamente irritante. Tudo deveria estar colorido nesse meu mundo no qual mal consigo enxergar cores, porém o desespero ainda me deixa cegamente tonto.

Passo pelas portas de vidro abertas do local já colocando o telefone em mãos para falar com Yoonie, o ar gelado da biblioteca me faz encolher os ombros, ou então talvez seja só o nervosismo. Ergo meus olhos e não consigo genuinamente acreditar no que meus pequenos olhos vêem, até mesmo chego a esfregá-los para ver se meu cérebro não está fazendo mais uma de suas pegadinhas, o que vem sendo normal ultimamente.

Ali está ele, sentado com o celular em mãos, ajeitando a gola de sua blusa preta enquanto os óculos vintage laranja recaem sobre seu rosto angelical. Vou chegando mais perto para ter certeza, mas tenho sim, é ele. É o garoto que me salvou ontem.

Então ele é real?

Aquela súbita coragem que cresce em mim sem avisar me faz caminhar devagar até o garoto e sentar na poltrona cor vinho ao seu lado, isso faz com que o mesmo olhe em minha direção pela agitação repentina. Agora estamos sentados, nos olhando e respirando baixinho.

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