Nível 1. Cuntatório e presente.

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É a primeira vez que a poluição é bem-vinda ao meu pulmão, junto ao ar gelado cortante e as luzes que dificultam parte da minha visão. Tudo que sempre sonhei está se realizando agora, nessa noite sem estrela alguma no céu.

Estou embriagado de sensações novas e coragem. Por instantes juro por estar nas nuvens, como se observasse a cidade de cima, vendo a grande sociedade de outro ângulo.

Com menos julgamentos.

A janela do táxi está refletindo os piercings pratas brilhantes da minha orelha enquanto fico cada vez mais hipnotizado por Seul, é cada detalhe do mesmo jeito que imaginei, e ao mesmo tempo, muito melhor.

Agora sou eu e o mundo. E bom... meu celular vibrando em minhas mãos também.

— Já chegou em Seul Jimin? — A pergunta é disparada logo que atendo a ligação.

— Sim, já estou no táxi indo para o apartamento, mãe — digo simplista.

Quanto mais o carro anda, mais extasiado eu fico. Estou certamente nervoso, contudo, as ruas bonitas me acalmam, minha mente até então nublada, agora estão crescendo flores juntas à esperança do desconhecido. Pela primeira vez, farei dar certo.

Nem por um momento eu consigo redirecionar minha visão, estamos passando por inúmeros prédios gigantes e restaurantes decorados.

— Você deveria ter me mandado mensagem assim que chegou à estação de trem — ela fala ríspida. Mesmo sem conseguir ver seu rosto sei exatamente a feição que está fazendo, a boca franzida junto ao olhar vazio.

Park Yunah está certa, eu esqueci completamente.

— Me desculpe, mãe, eu estou tão distraído que acabei esquecendo.

O táxi estaciona em frente a um prédio que aparenta ser antigo, com tinta amarela descascando revelando a massa branca já meio suja por baixo, claramente habitado por universitários. Há até algumas moças de mais ou menos minha idade fumando em frente a fachada. Estendo o dinheiro que estava em meu bolso ao senhor taxista e saio do táxi observando a rua ao meu redor.

É reconfortante ver como aqui é iluminado, mesmo com várias árvores a iluminação continua forte. O que é perfeito tendo em vista que sempre tive um certo receio do escuro.

— Espero que não seja distraído assim na faculdade, não esqueça que estamos pagando o aluguel do quarto e trinta por cento da sua bolsa. Não nos decepcione, Jimin. — Sua voz carregada de autoridade me assusta, tirando minha atenção do lugar e a voltando para a nossa conversa.

Tão específica que machuca.

Tenho uma relação diferenciada com a minha mãe, admito que não é das melhores, mas faria qualquer coisa por ela.

O chiclete que me lembro ser cereja já está sem gosto dentro da minha boca, mas nem sequer por um momento eu paro de mascar-lo fortemente. Balas e chicletes são os meus maiores amigos, me deixam menos ansioso mesmo que por um mísero minuto, então sempre que posso estou com um na boca, resultando em dores na mandíbula em épocas de grande nervosismo com estudos.

— Pode deixar mãe, anotado. — Tento não parecer afetado com sua fala e solto um longo suspiro depois de minha frase. É uma pressão do cacete, meu maior medo é continuar decepcionando ela. — Irei desligar agora, já estou na frente do prédio.

Em minha mente muitas vezes acabo por diminuir as minhas próprias expectativas em cima de mim, mesmo colocando pressão para alcançar a perfeição, sei que uma hora ou outra irei falhar em um quesito simples e então tudo virará uma bagunça em questão de segundos. Ainda reside desespero por todo lugar, mas aqui dentro é pior, mil vezes me odeio por um só erro.

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