Madeleine
Sinto mais uma vez meu rosto queimando pelos tapas que levei, a Madre Superiora está gritando descontrolada e acaba cuspindo em mim:
- VOCÊ É UMA DESGRAÇADA!! INFELIZ! NINGUÉM TE QUIS E CONTINUA SEM NINGUÉM TE QUERER! VIVE AQUI POR CARIDADE E AINDA ME DESRESPEITA! DEMÔNIO!!!
Estou muito magra, tenho 17 anos, por ser constantemente obrigada a ficar sem comer, estou muito fraca, é fácil a Madre me segurar pelos ombros e jogar contra a parede - ela tem 1,75 de altura e eu só tenho 1,65, peso uns 55 quilos – minha cabeça bate com força, estava tonta pela fome agora quase desmaio.
Mesmo grogue das agressões, falo:
- Não me arrependo do que fiz!!! Vou furtar comida quantas vezes forem necessárias. Nunca vou deixar essas crianças com fome de novo, ELES SÃO SÓ CRIANÇAS, FAZEM XIXI NA CAMA PORQUE VIVEM COM MEDO!!! PODE ME BATER, MASSACRAR, MAS FAREI DE NOVO SE PRECISAR!!
Vejo o ódio nos olhos da Madre Theresa, ela pega o chicote, me levanta com brutalidade, me joga contra a parede novamente e sinto na minha boca gosto de sangue e na costa o chicote descer, na primeira vez, não rasgou minha blusa, sinto o ardor doloroso, na segunda a blusa cede agora a dor é lancinante, na terceira chicotada já sobre a minha pele nua a dor é excruciante, não aguento e faço xixi nas roupas.
Ouço uma porta sendo derrubada e a voz da Irmã Mary Anne:
- Você não encosta MAIS UM DEDO NESSA CRIANÇA!!!
Já de joelhos, meu corpo mole desaba no chão e não vejo mais nada.
Acordo com o dia claro, olho pela janela da enfermaria do orfanato, deve ser cedo, está tudo silencioso.
A última coisa que me lembro é a dor que senti quando jogaram alguma coisa pra limpar a ferida na minha costa. Ainda de bruços olho para o lado e vejo Irmã Alice se aproximar com uma bandeja com alimentos.
- Como você se sente hoje criança?
- Como se tivesse levado uma surra.
E rimos da piada sem graça, então digo:
- Não posso rir. Mas sério Irmã estou com muita dor de cabeça, meu joelho dói, meu punho também, minha costa então, nem se fala.
- Porque você desafiou ela?
Tento me virar na maca, mas a dor transpassa meu corpo.
- Não podia deixar ela fazer com aquelas crianças o mesmo que ela fez comigo – falo baixo, mas de forma resoluta, tentando limpar a lágrima que escorre para o travesseiro. – Eles fizeram xixi na cama por medo, eles têm medo de tudo, eu não tinha quem me protegesse - ela me olha triste - mas eles têm a mim, deixar três crianças com fome por dois dias é muito cruel, desumano. Eu aguento fome, frio as surras mas ela não toca mais em nenhuma criança.
- Graças a Deus o sr. Jhonson ainda não havia ido embora, ele que conseguiu arrombar a porta, se não, sabe Deus o que teria acontecido com você.
- Sei que todos têm medo dela, então o que deu na Irmã Mary Anne?
Então Irmã Alice me conta tudo o que aconteceu depois que fui resgatada.
- Ficamos sabendo que alguém denunciou os maus tratos no orfanato e o desvio de verba, Irmã Mary Anne foi enviada pelo Bispo para investigar, pois já faz um tempo que a igreja vem enviando para o orfanato e para o convento somas em dinheiro mais substanciais, era pra nós termos cama para todas as crianças, além de bons alimentos, também foi doado dinheiro para a reforma da cozinha, mas nada disso aconteceu, então descobriram que Madre Theresa estava mandando dinheiro para a família dela na França, então o Padre Berson chega daqui a pouco para nos orientar.
- Que estória! E agora? O que vai acontecer?
- Irmã Mary Anne vai ficar no lugar dela, infelizmente, por enquanto vamos ter que passar o mês com o pouco que restou, mas só o fato de ela ter ido embora já é um grande alívio.
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Você mudou tudo
RomanceProibido para menores de 18 anos. Cenas de sexo. Proibido adaptações. Capa produzida por @AtelieCGS Abandona, maltratada, subestimada, mas nunca infeliz, isso me recusei a ser. Pagar o mal com o mal? Jamais! Prazer, sou Madeleine Smith, órfã criada...