Depois de uma vida inteira dentro do orfanato e do convento recebi a notícia que a Madre Superiora, Madre Mary Anne, havia me registrado em uma agência de emprego e que já havia conseguido uma vaga para mim como babá.
Nunca imaginei uma vida fora do convento St. Germany, como diria Irmã Grace, "estou perfeitamente acomodada aqui", depois que fiz 18 anos continuei aqui, morando no convento e ajudando no orfanato.
Enquanto lavo as panelas do almoço me vem à lembrança a conversa que tive mais cedo com a Madre Mary:
"Madeleine, você está com 23 anos, já passou da época de decidir se vai continuar conosco e fazer os votos ou sairá do convento"
Madre Mary fala com aquela voz amorosa que identifico como a voz de uma mãe seria.
"Madre, sou feliz aqui, me acostumei com as atividades do convento e amo trabalhar com as crianças do orfanato. Se eu fizer meus votos poderei continuar trabalhando com as crianças do orfanato?"
"Não meu anjo, você terá que ficar o período de uma ano na Cláusura e mais um ano dando assistência em um convento que o Vaticano indicar, você só poderá optar por uma atividade depois de cinco anos".
"Não sei o que fazer Madre, minha vida sempre foi deixar as decisões para depois e fui vivendo de qualquer jeito... nunca decidi nada."
"Madeleine, não deixe mais sua vida para depois, a vida é sua, quem terá de suportar as conseqüências pela omissão será você. Você precisa ser forte e encarar os obstáculos que a vida colocar em seu caminho. Não será fácil, mas quem disse que você não consegue? Menina, você superou todas as torturas da Madre Terhesa, sofreu desde criança, o que eu pude fazer para socorrer eu fiz, mas tudo atrás desses muros, você tem uma força e uma capacidade de superação que poucos têm, Mas está com medo e vive adiando sua decisão, você quer ficar, mas também tem vontade de ir."
A Madre estava certa, queria ficar, mas também queria ir, eu estou com medo do desconhecido, medo de encontrar pessoas como a Madre Terhesa, mas poderia encontrar pessoas como a Irmã Grace, sempre de bom humor fazendo suas brincadeiras com as noviças ou como a própria Madre Mary, não é?
"Minha filha, se você permitir que o seu medo te domine e impeça de fazer alguma coisa, estará se tornando refém desse medo. Se permita tentar, quando você notar estará fazendo coisas que você nunca imaginou fazer."
As lágrimas que haviam se acumulado nos meus olhos agora escorrem livres pelo meu rosto.
"Bom, chamei você aqui para te dizer que você poderá fazer uma experiência de seis meses fora do convento, registrei você em uma agência de emprego e hoje me informaram que há uma vaga que se encaixa exatamente no que nós precisamos. È uma família com quatro crianças e seus pais, se aceitar você será a babá dessas crianças, durante as férias você irá viajar com a família. O horário é de 7:00 às 19:00 durante o período das aulas e nas férias de 08:00 às 18:00, um dia na semana de descanso.
"Posso pensar?"
A Madre me olha com olhos amorosos e diz "mas é claro minha filha, mas tenho que responder à agência até às 16:00 de hoje".
Volto para a realidade, olho para o grande relógio do refeitório, já era 13:00 horas, ter que tomar minha primeira grande decisão na vida me angustia, olho para as noviças e as freiras envolvidas na limpeza de depois do almoço. Aquilo tudo era a minha vida, o convento, o orfanato, as crianças abandonadas...
Penso nas meninas que já saíram daqui, algumas voltaram para nos visitar, parecia que estava tudo se encaminhando, como a Madre falou, não era fácil, mas com dedicação, respeito e honra tudo daria certo.
Lembro da Irmã Grace, ela veio para o convento depois que ficou viúva, ela ainda era nova quando isso aconteceu, deixou-a devastada, acho que vou conversar com ela.
Termino a limpeza da cozinha com as outras noviças e saio à procura da Irmã Grace, a encontro no jardim, era sua hora de descanso do trabalho no jardim e na horta.
- Irmã Grace? Posso falar com você?
- Mady!!! Mas é claro que pode minha flor! Do que você precisa? Margaridas? Antúrios? Aqueles antúrios em miniatura floresceram e são lindos!
Saímos da estufa e nos sentamos em um banco rodeado de azaléias, próximo ao muro.
- Não Irmã, não é sobre as flores, é um assunto delicado, é sobre a sua vida fora daqui, antes de tudo acontecer - ao perceber sua mudança de postura emendo rapidamente – sei que a senhora não gosta de falar sobre isso, mas eu preciso de seus conselhos e da sua ajuda, por favor.
Percebo que aos poucos ela relaxa e ao olhar para mim dá um pequeno sorriso e diz:
- Quer saber de uma coisa?, sim minha flor, pode perguntar, o passado pertence ao passado e se eu puder contribuir com você com alguma coisa, estou aqui.
- Irmã, como é viver fora do convento? Sei que a senhora tinha um marido, mas não teve filhos...
- Sim minha flor, eu tive um casamento maravilhoso, amei e fui muito amada, mas tudo terminou em um acidente de carro quando tínhamos 08 anos de casados. Eu quis morrer também, mas aí o Padre Benrson veio conversar comigo e convenceu a mim e a Madre superiora da época que seria bom para ambas que eu passasse um tempo no convento ensinando as irmãs as minhas técnicas de botânica.
Naquele momento ela olhava para o céu cinza de Londres.
- A senhora trabalhava como botânica? - Não sabia disso.
- No jardim botânico e na escola do governo, amava trabalhar com as crianças, foi uma vida abençoada, realizamos muitos dos nossos sonhos, sabe, quando novos, eu e meu marido gostaríamos de viajar e depois que estávamos trabalhando conseguimos conhecer lugares lindos.
- Admiro a senhora por não ter se tornado uma pessoa amarga como a Madre Theresa.
- Minha flor, Deus tem um propósito para tudo, Ele escreve certo por linhas certas, a gente é que entorta essas benditas linhas. Eu não conseguiria viver fora daqui sem o meu Benjamim, poderia ter feito uma bobagem, para mim foi certo ter vindo para cá e me dedicar a algo bom e dignificante.
Ela olha para mim com aquele olhar alegre e me diz:
- Você tem uma vida inteira para ser vivida, as vezes será difícil, as vezes será tão fácil, em alguns momentos pode doer um pouco, mas tudo vai ficar bem no final, seja fiel ao que você acredita, viva com dignidade e não esquece de ser grata a Deus.
- A senhora sabe que tenho uma oportunidade para sair daqui não é?
- Sim minha flor, eu sei e você quer que eu aponte a direção, mas isso não posso fazer, só você pode decidir .
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Você mudou tudo
RomanceProibido para menores de 18 anos. Cenas de sexo. Proibido adaptações. Capa produzida por @AtelieCGS Abandona, maltratada, subestimada, mas nunca infeliz, isso me recusei a ser. Pagar o mal com o mal? Jamais! Prazer, sou Madeleine Smith, órfã criada...