Ilícito (Capítulo único)

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Pré-leitura:

1. "Nunca jamais" é uma estrutura redundante e, em português, agramatical, mas eu gosto de usá-la para dar mais intensidade à oração, então usei algumas vezes;

2. Há alguns poucos diálogos no conto, mas eu não fiz marcação com aspas ou travessão, o que não é erro, é apenas o estilo adotado por mim para esse texto e tá tuuuuudo bem, mas aviso de imediato para que não pensem que não sei usar pontuação. Ademais, quando houver diálogos, mesmo sem marcação, vocês perceberão;

3. Se você gostar do conto, comenta, vota, por favor. Se não gostar, comenta também, dizendo o que poderia ter sido melhor e tal, assim posso tentar escrever melhor no próximo.

Boa leitura! ♥

ILÍCITO

Paulo entrou em seu quarto afrouxando o nó da gravata, já se preparava para reclamar do dia estressante que tivera quando deu com a esposa sentada em frente à penteadeira, compenetrada em ajeitar os compridos cabelos loiros. Achou-a tão serena que não quis incomodá-la com assuntos enfadonhos. Deram-se boa noite com um beijo casto, falaram algumas amenidades sobre a rotina doméstica e a esposa o convidou para acompanhá-la à igreja, o que Paulo negou, alegando estar muito cansado. Quase nunca ia, não gostava, e a esposa sabia disso, mas também ele sabia que ela apenas o chamava porque era amável o suficiente para tal, uma vez que ir à igreja após um longo dia de trabalho - ou qualquer outro dia - não era de seu caráter, mas da esposa, que ia religiosamente todas às quintas-feiras desde sempre, sim.

Celina sorriu ao sentir o beijo rápido mas carinhoso que o marido depositou no topo de sua cabeça antes de se direcionar ao banheiro. Coitado! Tão exausto. Observou-o se afastar e quando ouviu a porta sendo fechada, voltou sua atenção à atividade interrompida com a chegada dele. Terminou de escovar os cabelos, deixando-os soltos. Depois pegou um batom na gaveta, pintando os lábios num tom discreto, apenas um pouco mais escuro que sua pele clara. Levantou-se pegando a echarpe de cetim azul que estava pendurada na cadeira e colocou-a em volta do pescoço. Bateu de leve no vestido vermelho, que alcançava até um pouco abaixo dos joelhos, como que para ajeitá-lo melhor ao corpo. Olhou-se nova e rapidamente no espelho e saiu sem se despedir do marido, não havia nem necessidade, nem tempo para isso, pois a missa começaria logo e corria o risco de pegar trânsito se não se apressasse.

Com o som do seu salto ecoando sobre o assoalho da igreja, entrou fazendo o sinal da cruz. Olhou a sua volta: nunca havia muitas pessoas o suficiente para ocupar todos os espaços nos bancos, mas era sempre uma quantidade considerável. A missa começaria logo e o padre estava ocioso no altar, Celina aproveitou para pedir-lhe a bênção. Beijou sua mão devotamente após as palavras do homem. Agradeceu-lhe e tomou seu lugar num banco próximo a uma saída lateral, a noite seria quente, precisava ficar numa área arejada.

A missa tinha começado, todos ficaram de pé, mas menos de dez minutos depois, assim que o padre dava início ao ato penitencial, em que os fiéis reconheciam perante Deus serem pecadores e fracos, despercebida, Celina saia furtivamente pela lateral da Casa: por mais que fosse temente a Ele, não queria pedir perdão por falhas das quais ela não se arrependia e nem mesmo tinha pesar em cometê-las.

Seguiu pela rua lateral que tomou ao sair do templo. Não precisaria pegar o carro, como fizera para chegar à igreja, onde iria era na vizinhança, poderia ir a pé por poucos minutos e, além disso, dada a necessidade de descrição, era até melhor apenas tirar o automóvel do estacionamento ao final da missa.

Ao chegar no prédio de destino, seu acesso já tinha sido liberado. Apertou o treze no elevador e, enquanto ele subia, sentiu-se demasiadamente ansiosa. Saltou dele e, com a perna um pouco bamba mas fazendo-se caminhar depressa, finalmente pôde alcançar a porta do apartamento já tão conhecido.

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