O sol ao tocar o meu rosto me fez acordar. Estava quente como nunca havia sentido em Catskill. Com as pálpebras ainda fechadas, estiquei meu braço e joguei-me para o lado à procura do calor de Amélia, mas ao invés de tocar o corpo quente da mulher, encontrei a queda até o piso frio de madeira.
— Ai! — exclamei ao tocar o maxilar esquerdo que ficou dolorido após o toque contra o chão.
No susto, meus olhos se abriram e pude perceber que eu não estava em Catskill. Passei as pontas finas de meus dedos sobre os olhos e notei tudo embaçado e confuso, mas ainda assim reconheci meu antigo quarto na fazenda.
— O que...
Estiquei os braços e toquei a antiga cama de solteiro não vista desde meus dezessete anos. Levantei o torso até ficar sentado, esfreguei as mãos no rosto e a partir daí notei a diferença. Comecei a tatear a face com os dedos e senti que faltava algo. Fiz uma breve avaliação de meu corpo, enfiei os dedos por entre os cabelos e ao puxá-los percebi que estavam mais longos e bagunçados. Me levantei tão rapidamente que, não sei se pelas pernas mais finas ou pela ausência dos óculos, não consegui me sustentar e desabei. Gritei algumas dúzias de palavrões e praticamente arrastei meu corpo magricelo até o banheiro do corredor, apoiando as mãos sobre a pia para me olhar no espelho enquanto encarava meus olhos verdes através de meu reflexo.
— Que porra é essa?
Abri rapidamente a torneira da pia à minha frente e enchi as palmas das mãos com água para lavar meu rosto e esfregar um pouco mais os olhos. Voltei a atenção para o reflexo que, apesar do aspecto molhado, manteve-se o mesmo. Inclinei-me sobre a pia, chegando perto do espelho o suficiente para embaçá-lo com meu hálito, e comecei a tocar com as unhas os poucos pelos presentes em meu queixo acompanhados de três espinhas. Não havia tatuagem e tampouco pelo em meu peito. Conforme eu analisava mais pontos diferentes de mim, mais eu concluía que nada daquilo poderia ser real. Era um sonho.
Sim, só poderia ser um sonho. Passei mais uma vez as mãos em minha cabeleira loira e joguei todos os fios para trás antes de me afastar efetivamente da pia e voltar para o quarto. A visão ainda estava embaçada, pelo menos até eu começar a procurar os óculos, os quais só fui achar ao me deitar no chão e avistá-lo embaixo da cama. Coloquei o acessório no rosto e voltei correndo para o banheiro a fim de mais uma vez encarar o que estava diante de meus olhos: eu estava mais jovem.
— Amélia! — gritei, mas não houve resposta. — Amélia! — berrei novamente o nome da esposa amada, dessa vez saindo do banheiro e começando a andar um tanto quanto desorientado pelos corredores da casa. — Lina?! — chamei ao invadir o quarto da irmã caçula, não a encontrando.
Continuei caminhando até descer as escadas e chegar à enorme cozinha que eu tanto conhecia. Uma mulher, de costas para mim, mexia em algo próximo ao fogão.
— Mãe?
A moça se vira de frente e imediatamente eu a reconheço. Estava diferente, não havia rugas em seu rosto e os fios de cabelos eram mais longos e trançados até quase no meio das costas.
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De Volta para Brielle
Teen FictionO QUE VOCÊ FARIA SE PUDESSE RETORNAR AO PASSADO? Após superar a morte da filha, concebida no auge de seus dezessete anos, Rudy Sawyer se torna um homem de vinte nove anos, casado e pai de um menino de nove meses. Ao despertar em uma manhã de calor...