4| Um Olhar Frio de Enterro

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— Oh, babaca! Sai da frente!

Gritaria e buzina. Um Fiat prata modelo dois mil e sete repleto de adolescentes com jaquetas do time da escola passava pela direita da caminhonete.

— Toma, seu otário! Pra você acordar, filho de uma puta.

Com metade do tronco para fora da janela traseira, um rapaz negro e de jaqueta vermelha arremessou a lata com o resto de refrigerante na direção da caminhonete, atingindo o vidro da frente e causando uma pequena rachadura na janela. Abri rapidamente a porta e me livrei do cinto para sair do automóvel e ir verificar o estrago.

— Só podem tá de sacanagem — resmunguei em um tom desanimado.

Toquei os dedos sobre o vidro levemente quebrado e arfei quando senti o mesmo ser cortado próximo à unha. Levei o ferido até minha boca e chupei algumas gotas de sangue que por ali escorreram antes de voltar para dentro do carro e acelerar. A ideia era sair do meio da estrada sem correr maiores riscos.

Eu, que havia jurado que nunca mais pisaria naquele lugar, naquele instante estava desligando o motor da caminhonete em frente a Glendale High School. Era gente saindo de todos os lados, garotos com seus skates, atletas com seus carrões e alguns que, assim como eu, sempre passaram despercebidos nesta pequena selva que era o ensino secundário. Respirei fundo e larguei o volante para tomar a iniciativa de sair finalmente do conforto de minha caminhonete para enfrentar a provável irrealidade do que estaria por vir.

Estava um tanto catatônico, sem saber o que fazer, como agir, para onde ir. De repente me bateu um pequeno desespero. Lembrei-me que sequer sabia em que dia da semana estávamos. O desejo de sumir se tornou persistente, assim como a ânsia para que tudo aquilo evaporasse e me levasse de volta para realidade do que era a minha vida perfeita. Fechei os olhos e abri diversas vezes na esperança de que em algum momento tudo aquilo fosse desaparecer, mas cada vez que eles se abriam, mais gente aparecia. Gente nova, pessoas que eu reconhecia, outras que eu não fazia ideia de quem eram.

Me afastei da lataria do carro e tomei coragem de dar os meus primeiros passos na direção das enormes portas que davam acesso ao prédio escolar. Em minha volta, o cenário era daquele típico filme de adolescente americano, onde os jovens se dividiam em suas patotinhas. Em um canto encontrava-se os populares, alguns jogadores de futebol e algumas líderes de torcida penduradas em seus pescoços. Do outro, os nerds com suas revistas de história em quadrinhos, vivendo em um mundo completamente paralelo ao da realidade. No mesmo recinto, mas em um distanciamento totalmente oposto aos demais, estavam os roqueiros. Inclusive pude reconhecer uma figura ou outra, eles mandavam bem no som e eu, como sempre fui muito fã de música, conseguia me lembrar do nome de um ou outro.

Levei um tapa bem ao centro da minha nuca, o susto foi tão grande que acabei me engasgando na própria saliva e tendo uma crise de tosse. O som da gargalhada de quem havia me batido me pareceu extremamente familiar.

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