Colapso da Mente

I - Delírios do Nômade da Areia Negra

Sobre a brisa mortal do Sahara, caminhava um homem, era alto e protegia-se do sol com um longo manto que arrastava sobre os grãos preto-brilhantes de areia. Uma pequena parte de seu rosto estava à vista, tocada levemente pela luz carmesim do sol, não parecia ter muito mais do que vinte e cinco anos, sua pele era negra e podia-se ver algumas cicatrizes recentes e uma curiosa tatuagem, “7674” formava o desenho abaixo de seu olho direito. Em sua costas debaixo do manto, havia uma pequenina jovem, sua pele pálida cujo sol não poderia tocar estava bem escondida, podia se ver apenas um pouco do azul de seus olhos. O cenário em que passavam esbanjava melancolia, o cheiro da morte pairava sobre o ar —, bastante notável pelas moscas que os rodeavam —, era possível observar grandes pedaços de ossos e monumentos estranhos por quase todo o caminho — que pareciam mais uma mensagem de que não deveriam estar ali. Haviam também alguns enormes pássaros horrendos se alimentando de algum pobre coitado que não conseguira completar sua jornada. 

    — Athos, acho que você deveria voltar para casa, seus amigos devem estar te procurando — dizia a criança com uma voz extremamente calma e doce.

    — É, talvez seja hora, mas a essa altura eles já devem ter se adaptado a minha ausência — respondeu o jovem, sua voz rouca soou triste.

— Nunca se sabe, se fosse eu, estaria atrás de você até o fim. 

—"crianças, tão ingênuas e cheias de esperança, essas coisas até aquecem meu coração" — pensa Athos.

— Você é um ser especial Yris.

A garota abre um sorriso.

— Mas mesmo assim, por tudo que me contou, faz muito tempo que está longe deles, e também já se passou um ano e alguns meses que passamos a andar juntos por esse deserto.

— Ainda tem algumas coisas que eu preciso fazer antes de voltar. Agora vamos mais rápido, o sol logo vai se pôr. 

Eles então pararam sobre o topo de uma duna e observaram o que estava logo adiante, uma imensa pirâmide os esperava. Seu objetivo se mostrava mais próximo do que ele imaginava.

— Encontramos! — diz Yris entusiasmada.

— Consegue andar?

— Ah, acho que eu aguento.

Athos então desce a menina de suas costas e passam a andar lado a lado. O caminho era repleto de armadilhas, carregá-la neste momento seria arriscado para ambos, mas este é o menor dos problemas com o qual eles terão que lidar. Conforme se aproximavam da pirâmide, ele sentia a ameaça crescer, ecoava do monumento um som de agonia e desespero. Yris apertava forte a mão dele, que tentava não demonstrar sua preocupação com ela, já que ela só poderia se movimentar por um curto período de tempo. 

       Então num pequeno deslize ela pisou em um ativador, de início nada acontece, mas a sensação que Athos tivera anteriormente aparentava ter sido triplicada. Logo era possível ouvir um barulho abominável vindo da pirâmide, o que parecia ser uma centopéia gigantesca então começou a se movimentar rapidamente pela areia indo direto na direção deles, o jovem se afastou o máximo possível daquele ser e deixou Yris na areia.

— Espere por mim aqui, eu não vou deixar aquilo chegar até você — dizia ele enquanto cobria ela com o manto.

— Athos, não morra… — respondeu a menina cabisbaixa.

— Não se lembra de tudo o que passamos juntos? Eu não vou, eu prometo!

O mesmo então sacou sua katana e foi em direção ao centipede, que também não tardou e partiu para cima do sujeito. Seria um desafio e tanto acabar com o animal sem muita movimentação para mantê-lo longe da garota, sem contar que todo aquele barulho poderia atrair os pássaros também, mas ele estava disposto a tudo. Ao se aproximar, a centopeia levanta seu corpo e avança rapidamente com suas presas em direção a ele, que de imediato desvia e contra-ataca cortando umas de suas pernas, o bicho logo se enfurece ainda mais e cospe rajadas de veneno em direção a Athos, ele consegue desviar deixando apenas uma pequena quantidade acertar seu braço esquerdo, assim percebendo que substância era altamente corrosiva, deixar aquilo atingi-lo com certeza não era uma opção.