Capítulo 5

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Dinara

Levou todo meu autocontrole quase inexistente para não transparecer o meu choque ao ver Adamo Falcone em Nova York. Que porra ele estava fazendo aqui? Eu sabia que o capo da famiglia era aliado dos Falcones, mas não imaginei que Remo confiava nele a ponto de permitir que seu irmão trabalhasse para Luca. Eu me perguntei se deveria informar isso para o meu irmão. Com certeza, eu deveria já que... sou leal a ele. Ou quase. Não pude deixar de pensar que eu não esqueci que Adamo foi uma das únicas pessoas que já foi gentil comigo, sem esperar nada em troca. Mas aparentemente eu sou uma pessoas mais esquecível do que imaginava, ele nem sequer se lembrou de mim. Ou... eu havia mudado tanto assim? Foram menos de cinco anos...

Franzi a testa quando percebi um carro atrás de mim em alta velocidade. Merda. Se alguém em Nova York descobriu quem eu era e que estava no território deles... muita merda poderia dar para mim. Por que eu fiz isso mesmo? Ah, claro. Precisava disso. De algo que me fizesse sentir vontade de viver, do meu vício por adrenalina. Sem contar que também estava precisando passar um tempo sozinha, apenas com minha própria companhia. Não que eu não goste dos meus amigos, eu os amo. Mas... eu me sentia sufocada. Precisava de um tempo deles e do meu irmão. Eu sempre serei grata a ele por ter me acolhido e ter fornecido comida e um local para morar. E todos os presentes incrivelmente caros que ele me dava também. Mas Grigory é sufocante. Muito. Possessão e paranóia são uma combinação perigosa, por isso sempre preciso estar em alerta com meu irmão. 

Arregalo meus olhos quando o carro começa a me ultrapassar. Porra. Aperto o freio com força quando o motorista do carro me fechou. Merda. Ok, eu não sou nenhuma covarde, não vou fugir disso. Inalo ar profundamente e me preparo, meu irmão me ensinou a não fugir dos nossos demônios. Saio do carro com um enorme sorriso no rosto, sem demonstrar um pingo da hesitação que sentia nas veias. Eu havia aprendido que preciso esconder meus verdadeiros sentimentos das pessoas das pessoas, evitar ao máximo que enxergassem vulnerabilidade em mim. Mas meu sorriso morreu quando Adamo saiu do carro e fechou a porta com um estrondo. Aí. Coitado do carro. Eu tinha apego demais aos meus para fazer algo assim. Meu coração acelerou dentro do peito quando vi o olhar determinado em seu rosto. Será que... ele se lembrou?

- Quem é você? - ele exigiu enquanto se aproximava. Revirei os olhos para mim mesma. Sério?  Não imaginava que ele fosse uma pessoa lerda desse jeito.

- Eu... - hesitei. Merda, merda, merda. Pensa, Dinara. Pensa. A última pessoa que conseguiu me deixar sem reação desse jeito foi Damon. Na verdade, ele sempre consegue me deixar assim. É por isso que ele é meu namorado, afinal. Ou ex-namorado. Ou quase namorado. Mais um dos motivos para ter dado um tempo de casa. - Eu - repeti, sentindo-me uma boba por estar sem palavras - Não sou ninguém.

É sempre melhor que as pessoas não saibam quem eu sou. E se Adamo não lembra de mim... se eu dissesse meu nome para ele, ele poderia me reconhecer. Sem contar que não sei se posso confiar nele. A vida na máfia muda as pessoas e tenho certeza que ele não é mais aquele garoto por quem me encantei quando tinha doze anos.

- Tenho uma proposta para você - seus olhos castanhos brilhavam no escuro. Ele se aproximou mais de mim, até seu rosto ficar poucos centímetros de distância do meu. Claro, tive que erguer a cabeça para encará-lo.

- Uma proposta? - repeti baixinho - Diga-me, Adamo Falcone, qual seria essa proposta?

- Você sabe quem eu sou?

- Todo mundo sabe quem você é. - rebati

- Claro - sua voz amargurada não passou despercebida por mim. Ele não gostou que eu já soubesse quem ele é. Interessante. - Quero disputar uma corrida com você.

Pisquei. O que? Ele quer... correr comigo.

- E o que eu ganharia em troca? - Adamo me lançou um sorriso malicioso que me fez quase engasgar com minha própria saliva. Eu nunca conseguiria imaginar aquele garoto quem conheci assim. Adamo está mais sombrio e maduro. Não parece mais um garoto...

- O que você quer como premio? - Sinceramente? Eu não faço ideia. O que eu poderia querer dele?

- Vamos fazer o seguinte - eu me aproximei dele, sorrindo com sua surpresa por ter deixado nossos rostos tão próximos - Vou passar mais alguns dias na cidade, até lá... você me convence de apostar uma corrida com você. E se conseguir me convencer... - pensei por um instante - então combinamos qual será o premio de quem vencer.

A risada dele ecoou, senti seu hálito bater diretamente em meu rosto. Uma mistura de fumaça de cigarro com algo refrescante. Inalei. Ele fuma... mordi o lábio inferior. Liam fumava também, desde muito novo. A má influência dele sobre mim fez efeito desde que começamos a andar juntos. Eu já sentia falta da nicotina em meu sistema. Me afastei de Adamo quando percebi que fiquei tempo demais olhando para sua boca.

- Fechado - ele concordou. Seus olhos escuros estavam ainda mais brilhantes. Quase fiquei lisonjeada por ele ter me considerado uma adversária boa o suficiente para ser desafiada.

Me virei para ir embora, mas Adamo agarrou meu antebraço, assustando-me. Ele me puxou em sua direção novamente. Senti meu corpo inteiro ficar rígido. Ele percebeu isso também porque me soltou e deu um paço para longe de mim. Idiota. Odiei que ele tivesse percebido o modo como fiquei desconfortável com sua proximidade. Eu não demonstrava isso nunca. Não com Grigory, Damon ou Liam. Muito menos com qualquer outro dos meus irmãos ou meu pai. Meu maldito pai.

- Ainda não sei seu nome.

- Me chame de D.

- D? - ele repetiu incrédulo.

- Só por enquanto.

- Não me parece muito justo que você saiba quem eu sou enquanto eu não posso saber nem mesmo seu nome.

Eu o encarei. Ele realmente não se lembra de mim?

- Porque não considera isso como seu premio se ganhar a corrida? Saber o meu nome. - porque se dependesse de mim, ele nunca saberia. E ele não ia ganhar de mim mesmo, não precisava me preocupar.

- Ainda não - ele sorriu de novo. Adamo enfiou as mãos no bolso e tirou um maço de cigarros. Ele os acendeu e colocou um na boca, tragando. - Posso pensar em coisas mais interessantes como premio.

Sorri para mim mesma, ele parecia muito seguro de que ganharia. Iludido. Eu nunca perco.

- Se você diz... - me aproximei e tirei o cigarro de sua boca. Traguei o máximo que conseguia sem começar a tossir e devolvi para sua boca quando terminei. Ri ao ver sua expressão de cautela. - Nos vemos por aí, Falcone.

Dessa vez, entrei dentro do meu carro antes que ele dissesse qualquer outra coisa. Saí de lá o mais rápido que pude e me certifiquei que Adamo não estivesse me seguindo de novo. Dei algumas voltar pela cidade antes de para em um hotel simples, não muito luxuoso. Eu dei a recepcionista minha identidade falsa e paguei a hospedagem com meu cartão que havia apenas o dinheiro que ganho com as corridas. E o único cartão do qual meu irmão não tem acesso. O quarto era simples, como já era de se esperar. Mas eu gostava. Bem diferente do luxo da mansão do meu irmão. Suspirei. Precisei comprar outro telefone e arrumar outro número porque o meu antigo já estava com um chip implantado. Assim como a maioria dos meus carros. Meu irmão ficava cada vez mais obcecado e paranóico. Ele sempre se certificava de saber onde eu estava, com quem eu estava, o que estava fazendo. Não que ele fosse me proibir de fazer algo, Grigory não dava a mínima pelo meu novo interesse pelo álcool, drogas e festas. Mas ele morria de medo que eu o deixasse. Esse era o grande problema em nossa relação. Ele parecia um louco de tão paranóico que era a respeito do meu pai e meus irmãos. Não que eu pudesse culpá-lo. Meu pai é o culpado por ter arruinado toda a minha família. No entanto... Grigory passava dos limites às vezes.

Mandei uma mensagem para Alex avisando que estava bem, mas sem fornecer mais informações. Se dissesse onde estava, ela falaria para Liam que deixaria escapar para  Damon que viria atrás de mim. Franzi a testa para as mensagens de Damon e desliguei o telefone. Como todas as noites, eu sabia que não conseguiria dormir. Por isso tirei um livro da minha mochila e comecei a ler. Esta seria uma longa noite.

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⏰ Última atualização: Jul 03, 2021 ⏰

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