Capítulo 4

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New York

Adamo

Meus olhos vagaram pela rua, checando se todos os pilotos estavam ali. Faltava apenas um. Suspirei, não posso mais adiar.

Desde que me mudei para Nova York, minha vida está relativamente tranquila. É... fácil. Depois das primeiras semanas, tudo se tornou incrivelmente fácil. Não preciso encarar meus irmãos todos os dias, o que significa que não é todos os dias em que me lembro do meu erro desastroso. Da culpa que me corrói em todo momento. Meus irmãos não estão por perto para me protegerem, isso, de certa forma, me fez ficar mais independente, sabendo que aqui terei de lidar com as consequências de minhas ações. Mesmo assim, minha mente ainda está uma bagunça, assim como meus sentimentos. Por um lado, sinto falta da minha família. Das conversas com Kiara, das repreensões de Nino, as explosões emocionais de Remo, as piadas de Fabiano, até mesmo sinto falta do idiota do Savio. Ao mesmo tempo, não sei como será quando me juntar a eles novamente em alguns meses. Estou apavorado só com a ideia de que lá, com o mínimo problema que me aparecer, terei uma recaída...

Balanço a cabeça, não. Isso não vai acontecer. Vou compensar meus irmãos por tudo. Por toda a confusão e o desespero por tudo o que causei. Mesmo ainda não sabendo como. Como se pode compensar o fato de você ter visto as pessoas que mais ama na vida quase morrerem? Se eu fosse Nino, ou até mesmo Remo, não me perdoaria. Os filhos e esposas deles poderiam estar mortos agora. E tudo seria culpa minha.

Uma comoção na largada chamou minha atenção, aparentemente o piloto que faltava decidiu dar as caras. Finalmente. Franzi o cenho, esse cara não deveria ter responsabilidades com nada na vida. Observei enquanto os espectadores se preparavam para o começo da corrida, vários homens começavam suas apostas. Examinei rapidamente o último carro que chegara, não era nada demais. Apenas um carro de corrida simples. Nada demais

A mulher que mascava um chiclete andou até os carros, seus saltos fazendo barulho contra o asfalto. Ela parou bem no meio entre os quatro carros que irão competir. Assim que ela gritou "Vai!" e se abaixou, os motoristas pisaram fundo no acelerador. A diversão estava começando.

Dinara

Sim. Isso, eu amo essa sensação. Meu coração acelerando, minha pele se arrepiando, meu estômago embrulhando e o sangue em minhas veias correr mais rápido. A adrenalina está tomando conta de mim e eu amo isso. Quase não consegui chegar a tempo para a corrida, um pequeno contratempo com meu irmão.

Estou vivendo com base naquela linda frase "o que os olhos não veem, o coração não sente". Não é como se meu irmão precisasse saber sobre minha rápida visita às corridas de rua organizadas pela máfia italiana. Além disso, ninguém me conhece. Ninguém sabe quem sou, graças a extrema paranóia do meu irmão e pai com nossos inimigos. Todos, dentro do mundo da corrida, só me conhecem como D. Exceto no Japão, não consegui evitar que minha fama se espalhasse por lá. Isso, na verdade, é impossível depois do que eu fiz...

Um pequeno sorrisinho apareceu em meus lábios ao me lembrar da dor de cabeça que dei a meu pai com meu envolvimento com a Yakuza. Bons tempos... uma pena que meu irmão tenha me proibido de voltar para lá. Mesmo sabendo que a qualquer momento poderia simplesmente fugir de casa, como sempre faço, e pegar um avião e voar direto para o Japão, não o fiz. Decidi não cruzar a linha com Grigory e provar que ele pode confiar em mim... de vez em quando.

Senti uma sacudida e cerrei meus dentes, muito irritada. Uma das coisas que mais odiava no mundo era quem não competia limpo e sempre tentava achar um jeito de trapacear. Infelizmente, isso é mais comum do que eu gostaria.

O homem (tinha que ser um homem, obviamente) não contava com minhas habilidades impecáveis de derrapadas, o que sempre era uma vantagem. As pessoas não davam ao dift o valor que ele merecia, era algo realmente difícil.

Eu tinha uma vaga certeza de que ganharia. O erro das pessoas eram subestimar seus oponentes e era isso o que normalmente faziaM comigo. Às vezes pelo meu carro não ser considerado o mais veloz e sempre por ser uma garota, os competidores achavam que seria muito fácil ganhar de mim. Muitas vezes nem me considerava digna de sua atenção, apenas zombavam.

E o sabor da vitória na minha boca, depois de todas as zombarias era deliciosa. Uma coisa realmente doce ver seus rostos chocados quando percebiam que foram derrotados por uma garota. Era isso o que eles mereciam depois de subestimar o somos capazes de fazer.

Ofeguei no carro. A corrida já acabou e eu... sinceramente esperava mais. Ouvi falar muito sobre as corridas de rua de Nova York, mas não foi nem de perto uma das mais emocionantes em que participei. Conforme meu corpo ia se acalmando, percebi que estou decepcionada. Merda, todo aquele sacrifício por nada.

Dirigi o carro devagar até o homem que era responsável pelas corridas, não posso ficar muito mais. Preciso correr de volta para Chicago antes que algum dos brutamontes do meu irmão me encontre por aqui. Baixei o vidro e coloquei minha cabeça para fora.

Adamo

Merda, essa foi uma das raras vezes em que eu estava errado. Esse cara simplesmente detonou, literalmente. Ele causou um prejuízo para nós. Olhei ansioso enquanto o carro se aproximava, estou em êxtase para ver quem é ele e guardar seu nome para, algum dia, desafiá-lo em uma corrida. E ganhar dele, é claro.

O vidro se abaixou e uma cabeleira ruiva surgiu na janela. Eu pisquei, atordoado. Os cabelos são longos e perfeitamente ondulados nas pontas, obviamente muito bem cuidados. Apesar de usar um óculos de sol redondo, que cobre toda região de olho e um pouco mais, é simplesmente óbvio que é uma garota. A delicadeza do rosto não deixa dúvidas sobre isso.

Uma garota, Uma garota em uma corrida. Não, não apenas em uma corrida, mas apostando corridas. Até hoje eu só vi mulheres como mascotes ou encarregadas da largada das corridas, nunca tinha vista uma competindo. Mas aqui está ela. E além de competir, essa garota acabou com os adversários. Olhei para o carro amassado dela e o outro carro completamente destruído de outro competidor. Literalmente.

Ela abriu a porta do carro e saiu. Ouvi um murmurinho alto ao nosso redor, fiquei feliz em saber que não sou o único em choque. Quando a desconhecida ficou de pé na minha frente, pude examiná-la com cuidado. Ela é bem mais baixa do que eu, não deve passar dos 1,60. Usa uma blusa branca de manga comprida e uma calça jeans justa e... coturnos. Preciso admitir ela é... impressionante.

- Meus olhos estão aqui. - ergui o olhar para o seu rosto, agora livre do óculos de sol. Ela o tinha puxado sobre a cabeça, fazendo com que seus cabelos ficassem longe do rosto. Ela definitivamente não é mais velha que eu... talvez tivesse uns quinze ou dezesseis. Foi então que me toquei, que tipo de pessoa usa óculos de sol à noite?

Parabéns - consegui reconhecer. Surpresa brilhou em seus olhos verdes.

Seus olhos... há algo estranhamente familiar nela. Será que já esbarrei com ela por aqui, em Nova York?

Um pequeno sorriso se espalhou por seus lábios e minha atenção ficou neles por algum momento. Eles são levemente rosados e não muito cheios. Apesar de seu sorriso ser meio... travesso eu diria, malícia brilhou em seus olhos. Isso me assustou porque, ela parecia tão angelical... parecia impossível que fosse capaz de fazer qualquer mal no mundo.

- Obrigada - ela disse docemente. Uma expressão inocente voltando para sua face - Não preciso do meu pagamento, aliás. Já vou indo. - ela deu de ombros - só achei que deveria avisar você - ela correu os olhos pelo meu rosto e ergueu dois dedos, como uma saudação - Adeus.

A garota desconhecida deus as costas para mim e entrou no carro, sem me dirigir mais qualquer um olhar. Antes que eu pudesse impedi-la, o carro saiu em alta velocidade.

Twisted CravingsOnde histórias criam vida. Descubra agora