Capítulo 3

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Levantei-me imediatamente. Ele é um Falcone, tenho certeza disso. Sei disso apenas pelos seus olhos castanhos escuros e seus cabelos negros. Só não sei qual deles é... não, sei sim. Não é Remo e muito menos Nino, Adamo está deitado aos meus pés e só sobrou Sávio. Este é Sávio Falcone, então.

- Você é a garota Mikhailov? - ele perguntou em um tom zombeteiro. Precisei de toda a força do mundo para não fazer uma careta ao ouvi-lo me chamar pelo meu sobrenome provindo do nome do meu pai.

- Obviamente - murmurei, se ele fosse esperto de verdade não precisaria fazer essa pergunta.

- O que é que você estava fazendo debaixo dela, irmãozinho? - sorri um pouquinho ao ver a careta de Adamo e o olhar mortal dele para o irmão.

- Eu a ajudei - Adamo apontou para os cacos de vidros espalhados em um canto da cozinha e para os meus pés descalças.

- Sei. - Sávio parecia muito descrente nas palavras do seu irmão mais novo.

Decidi não falar nada quando ouvi passos se aproximarem, não dava para escutar muito claramente por conta da discussão de Sávio e Adamo ao meu lado. Porém... havia aprendido algumas coisas com o tempo que morei com meu pai, aprendi a prestar atenção até aos mínimos detalhes. De tudo. Literalmente, tudo. Principalmente de conversas.

Não me assustei quando Remo e Nino Falcone apareceram na cozinha. Eles examinaram a cena diante de seus olhos, Sávio e Adamo discutindo e parecendo muito prontos para socar um ao outro, cacos de vidro espalhados pelo chão e eu, Dinara Mikhailov parada ao lado de seus irmãos olhando para eles como se já soubesse que eles estavam prestes a entrar na cozinha.

Nino me examinou de cima abaixo com seus olhos cinzentos sem demonstrar emoção alguma, ele franziu levemente as sobrancelhas como se não soubesse o que fazer comigo. Por algum motivo, ele me lembrou do meu irmão Vladimir.

Ouvi alguns rumores que ele não tem emoções... vendo-o agora sei que os rumores eram verdadeiros. A máfia italiana realmente sempre foi muito descuidada a esse respeito, fofocas - que às vezes se mostraram verdadeiras - sobre os membros do alto escalão correm desenfreadamente pelo mundo todo. Não há esse problema na Bratva, porém. Meu pai sempre se certificou de manter seu território tão bem protegido que era quase impossível que um espião se infiltrasse para descobrir qualquer tipo de informações. Ele sempre foi meio paranóico, qualquer pessoa que começasse a desconfiar ele já eliminava sem pensar duas vezes. Era por isso que tanto seus inimigos e aliados não sabem quase nada sobre nossas vidas, nem sobre questões familiares e nem sobre informações da máfia russa.

- Você acordou. - murmurou sombriamente Remo. Esperei o medo me atingir com força total, mas isso não aconteceu. Já vi pessoas mais cruéis do que Remo, na verdade... sou filha de um homem muito mais cruel do que ele. Também ouvi algumas historias que o cercavam e nenhumas delas conseguiu me assustar. O que ele fazia em comparação ao meu pai parecia uma historinha para bebês dormirem.

- Obviamente - repeti enquanto tentava segurar o riso. tenho certeza que ele não acharia muita graça se eu começasse a rir na sua cara.

Remo se aproximou de mim e começou a me examinar com seus olhos escuros, reparando nos meus machucados. Precisei inclinar a cabeça totalmente para trás, eu nem sequer alcanço seu peito. Ele é uma girafa comparado a mim, no entanto... não pude evitar comparar novamente. Meu pai tem exatos dois metros de altura, mas Remo deve ser alguns centímetros mais baixo porque quando fico muito próxima ao meu pai o topo de minha cabeça fica ainda mais baixo do que comparado a Remo.

- A maioria das garotinhas começaria a tremer de medo e a correr, fugindo de mim - Remo me deu um meio sorriso sinistro. Ele pode não ser tão alto e assustador como meu pai, mas a sua cicatriz somada com esse seu sorriso definitivamente deve fazer várias pessoas se mixarem de medo. Sinto meus lábios se contraírem de novo, essa seria uma visão muito engraçada.

Twisted CravingsOnde histórias criam vida. Descubra agora