Tatiana - Prólogo deletado

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Hoje faz um ano que o "A Coragem Para Amar", livro da Tatiana, foi publicado na Amazon. Para comemorar, eu decidi trazer a primeira versão do prólogo que acabou não sendo publicada no livro.

Se tem algo que eu adoro escrever nos livros dessa série são cenas com crianças e momentos cotidianos da família (infelizmente acaba não tendo muito espaço para eles nos livros), então aqui vai uma dose de fofura:

Prólogo deletado

Quando eu tinha sete anos, perguntei à minha mãe como ela e meu pai se conheceram. Uma pergunta simples e um tanto comum de ser feita por uma criança, mas que, ainda assim, pareceu pegar minha mãe de surpresa. Depois de se recuperar do choque inicial, ela respondeu que eles foram apresentados na ópera, durante a temporada de verão em Aurea.

Esperei, ansiosa para ouvir mais detalhes, mas minha mãe apenas continuou a tricotar a roupinha para meu novo irmãozinho ou irmãzinha. Obviamente ela não tinha entendido minha pergunta, então decidi tentar mais uma vez, perguntando exatamente o que eu queria saber: como ela tinha se apaixonado pelo meu pai.

Minha mãe parou de tricotar em um átimo e me encarou com uma expressão tão pensativa quanto alarmada. Eu, por outro lado, me sentei no pufe ao seu lado, pronta para ouvir a história. Provavelmente haveria um baile, sempre havia um baile, e os dois teriam dançando juntos, claro, esquecendo-se do mundo ao redor e, quando a música acabasse, eles teriam percebido que foram feitos um para o outro. Ou talvez isso acontecesse num passeio pelo parque, ou num piquenique, ou...

— Sinceramente, Tatya, eu não sei.

Encarei minha mãe com o queixo caído, minhas fantasias se estilhaçaram como vidro ao meu redor.

Como ela não podia saber?

— Mas, mãe...

— Desculpe-me, querida, mas essa é a mais pura verdade — mamãe deu de ombros. — Quando me dei conta, eu já estava apaixonada pelo seu pai, não tenho a menor ideia de como. Eu só soube que não poderia mais viver sem ele.

Assentindo, nem um pouco satisfeita com aquela resposta, eu deixei a sala e fiz a única coisa que podia: fui atrás da outra parte envolvida.

Papai estava em seu escritório, cercado por uma pilha de papeis. Bati na porta, mesmo que esta estivesse aberta, e ele ergueu a cabeça. De repente eu me senti receosa, não que eu tivesse medo dele, minha mãe e a babá eram muito mais severas do que papai quando o assunto era nos repreender.

— O que foi, Tatiana? — papai arqueou uma sobrancelha, um gesto que Julius passava horas trinando diante do espelho, antes de fazer uma careta. —Por favor, não me diga que seus irmãos estão escorregando pelos corrimões de novo.

— Não! — eu ri. — Quero dizer, pelo menos eu acho que não.

Balançando a cabeça, papai murmurou algo que eu não consegui entender, fazendo um gesto para que eu entrasse. Quando eu tomei coragem, repeti a pergunta que tinha feito à mamãe, mas a reação dele foi diferente. Papai soltou a pena que segurava e piscou uma vez. Então duas. Três... até que irrompeu numa gargalhada.

Senti meu rosto esquentando e soube que devia estar ficando vermelha como um tomate. Com a vergonha ardendo em meu peito, me virei para sair correndo e me esconder no meu quarto, ou procurar por Thomas, mas meu pai percebeu minha intenção e parou de rir, chamando-me para perto de si.

— Não estou zombando de você Tatya, sua pergunta apenas me surpreendeu, achei que teria mais alguns anos antes de ter que lidar com algo assim — ele respondeu, me colocando em seu colo.

— Mamãe disse que ela não sabe — declarei.

— Claro que ela disse — papai bufou, girando os olhos. — Algumas vezes sua mãe é a exceção à regra sobre a capacidade superior das mulheres em perceberem sentimentos alheios. Ou os próprios...

Como minha mãe, ele me contou sobre o encontro dos dois na ópera, mas seu relato tinha mais detalhes, talvez até alguns floreios como os que ele colocava nas histórias que lia para nós quase todas as noites. Meu pai disse que a viu pela primeira vez em um baile, mas que ela fora embora antes que ele pudesse encontrar um conhecido que fizesse as apresentações. Depois veio o encontro na ópera, mas, mesmo que minha mãe tivesse chamado sua atenção desde a primeira vez que a viu, ele se apaixonou durante uma caminhada onde ela fez um comentário muito perspicaz sobre a história fantasiosa que um dos cavalheiros contava, esperando impressionar as damas. Quando o cavalheiro tentou salvar sua narrativa, meu pai fez uma piada e minha mãe riu. Não uma risada contida ou afetada, mas uma verdadeira, do tipo que chega até os olhos, e então ele soube que deveria se casar com ela, porque ele não poderia viver sem aquele sorriso.

Contive-me para não rodopiar pelo escritório de felicidade, essa era uma boa história. Quando meu coração tinha se acalmado e meu sorriso diminuído, encarei os olhos azuis do meu pai, herdados apenas pela pequena Isabella, até momento, claro.

— Então, quando eu encontrar meu futuro marido, eu saberei que ele é ele por causa do seu sorriso?

Meu pai vacilou e seu rosto se contorceu em uma pequena careta, as palavras seguintes foram ditas mais para ele mesmo do que para mim.

— Se alguém lá em cima tiver alguma compaixão por mim, isso só acontecerá daqui há uns vinte anos, talvez trinta, afinal eu ouvi dizer que meu cabelo ruivo é muito bonito e não quero que ele fique branco tão cedo. — Ele então abaixou a cabeça e se virou para mim. — Você não vê alguns fios brancos, vê? Se eles existirem é culpa de Ian e Ariel.

— Não. — Eu tentei, mas não consegui segurar uma risada.

Meu pai suspirou, aliviado, colocando a mão sobre o peito, o que me fez rir ainda mais. Depois de um minuto, sua expressão se tornou séria e ele declarou:

— Tatiana, não sei como você descobrirá que está apaixonada, mas uma coisa eu te garanto. As pessoas são capazes de fingir muitas coisas, mas não um sorriso verdadeiro.

Eu ainda estava pensando em suas palavras quando ele se levantou, me colocando no chão e começou a caminhar comigo até a porta.

— Agora, por que não procuramos pelos seus irmãos? Essa casa está silenciosa demais, o que nunca é um bom sinal.

Assenti e segurei sua mão, acompanhando-o pelo corredor, pronta para ver o que Ian e Ariel estavam aprontando. Talvez Julius também.

Infelizmente, o desejo do meu pai não foi atendido, porque, quando eu tinha quinze anos, me apaixonei.

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Lembrando que o livro "Além do Amor" com seis contos do universo Adamantys (incluindo a história de Marina e Matt), está disponível na Amazon!

Até mais,

Nayara Yanne

Adamantys - Cenas Extras e DeletadasOnde histórias criam vida. Descubra agora