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  A cela do calabouço rangeu ao abrir.

  - Já fazem duas semanas - disse Eris. Quando Lucien não respondeu, ele se aproximou de onde o irmão mais novo estava deitado, virado para a parede, sonhando acordado com ela, vidrado. - Não posso deixar você morrer aqui.

  O som da voz de Eris, a proximidade, a mão em seu ombro, fez Lucien começar a tremer.

  - Sai daqui.

  - Foi mais do que você me disse nas últimas vezes. Deve ser um progresso. - Uma pausa. - Eu trouxe comida.

  - Foda-se.

  - Se não for comer por livre e espontânea vontade, posso obrigá-lo a fazer isso.

  - Foda-se.

  - Você vai precisar de comida no estômago se quiser fugir daqui. 

  - Por que se importa? Você me odeia. Quer me ver morto. Me mata. Por favor, Eris, finalize isso logo.

  Algo carregado passou pelos olhos âmbar de Eris, algo como dor. 

  - O pai quer te ver.

  Lucien não respondeu.

  - Agora - reforçou Eris. - Ele me mandou buscá-lo.

  Talvez o Beron fosse matá-lo e acabar com a sua miséria de uma vez. 

  Foi isso que compeliu seu corpo magro a sair pisando descalço pelo chão frio da cela.

  Cada passo era uma dor grande, mas não grande o suficiente, percorrendo-o por inteiro. Ele merecia isso. Merecia ser espancado, torturado, ou o que quer que Beron tivesse preparado para ele. 

  Ansiava por isso.

  Eris soltou um xingamento e correu atrás dele.

  Sibilou no seu ouvido enquanto seguiam para cima:

  - Quando eu disser para correr, você corre. Para o sul. Tamlin estará te esperando no limite da Corte Primaveril. Corra o mais rápido que puder e não olhe para trás. Haverá muito tempo para se lamentar depois.

  Lucien não tinha energia para se perguntar por quê seu irmão tinha decidido ajudá-lo. Fugir da Corte Outonal. Que piada.

  Para quê ele fugiria?

  Para quê faria tanto esforço para se esconder... Para sobreviver?

  Jesminda estava morta.

  Ele ouvia o coração dela parar de bater a cada respiração. Via o quanto tinha falhado com ela cada vez que vomitava no catre. Quando dormia, e agora passava a maior parte do tempo dormindo, só sonhava com aquilo.

  Com a morte dela.

  Chorava todo dia, toda noite, até não ter mais lágrimas. Elas não a trariam de volta, de qualquer maneira.

  Os piores sonhos eram os felizes. Aqueles em que ela estava viva e sorrindo e beijando-o e tendo bebês com ele, morando naquela casa de pedra com o jardim de cravos. Quando acordava, sentia-se mais morto do que antes.

  Existir era desesperador.

  E ele era horrível.

  Lucien Vanserra, o príncipe, o jovem doce e sorridente, morrera junto com ela.

  Sobrara uma casca grotesca e feia e nojenta no lugar.

  O medo o atingiu primeiro ao entrar na sala do trono. As lembranças terrivelmente claras do pior dia da sua vida vieram com tudo... Como se ele pudesse esquecer de algo.

O Conto de Lucien e JesmindaWhere stories live. Discover now