Capítulo 2

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Aos poucos meu olhos começam a se acostumar com a luz branca em cima de mim. Não sabia onde estava, apenas sentia meus pulsos e meus tornozelos presos na cama em que eu estava por uma espécie de algema.

Tentei olhar a minha volta, mas era tudo extremamente branco. Um cheiro muito forte de ferro invadia minhas narinas, me fazendo ter náuseas.

De repente, comecei a sentir uma dor na cabeça que nunca senti antes. Doía tanto, e logo comecei a sentir um líquido saindo do meu nariz. Sangue. Franzi o cenho, tentando fazer com que a dor suma. Esse quarto, essa situação, esse sentimento. Tudo começou a se conectar muito rápido. Mas, quanto mais eu encaixava as peças, mais elas se multiplicavam, me causando mais dúvidas.

Meus pulsos começaram a ficar vermelhos, mas nada me tirava daquelas algemas. Era como se ela fosse feita de algo muito mais forte que apenas ferro.

Minha cabeça começou a cessar a dor aos poucos, porém, antes que ela parasse completamente, a porta se abriu.

Não consegui ver o que tinha atrás da porta, porém vi as três figuras que passavam por ela.

O homem que entrou primeiro era também o mais alto e musculoso. Portava uma arma enorme e tinha um bigode que não o fazia parecer que tinha uma boa reputação.

O segundo era claramente quem estava no comando. Vestia um longo casaco de pele marrom e portava um cigarro entre os dedos. Seus olhos me encararam, mas não consegui manter seu olhar por muito tempo, e então logo desviei para o homem atrás dele.

Joshua.

Por alguns segundos me senti aliviada ao reconhecer o rosto do meu vizinho. Joshua morava no prédio devia fazer mais de dois anos, porém toda sua vida era muito privada. Ninguém sabia muito sobre ele e ele também não queria saber muito de ninguém.

Há apenas alguns meses Joshua começou a agir estranho comigo, como se estivesse me vigiando. Nunca tínhamos mantido uma conversa, eu nem sequer lembrava do som de sua voz, mas ali ele estava, me encarando enquanto eu estava algemada.

Vi o homem com o casaco de pele se aproximando de mim. Ele não era tão grande quanto o primeiro, mas ainda dava medo.

Sua pele era no tom mais branco que eu já tinha visto, e um cheiro de colônia masculina e suor o acompanhou enquanto ele andava até mim.

Senti seu dedo gelado enquanto ele deslizava sua mão pelo meu nariz. Desviei o rosto, não sabia quem ele era, mas seu olhar, no mais profundo tom de castanho, era feroz.

Escutei sua risada forçada invadir meus ouvidos e tive que me conter para não gritar.

Memórias voltavam a minha mente. Meu pai sorrindo enquanto me olhava comer sua sopa gosmenta. Seu olhar preocupado enquanto eu saía do pequeno apartamento. A tijela de sopa caída no chão. A fumaça entrando em minhas narinas.

Senti como se o tempo tivesse parado e aquela dor de cabeça voltou mais forte que nunca. Mais sangue escorria do meu nariz enquanto eu fechava meus olhos com força.

Senti a dor se alastrar pelo meu corpo inteiro. Não escutei nenhum barulho a não ser um zumbido fino e angustiante.

Não sabia se aquilo durou horas ou apenas segundos, mas sei que meu tormento acabou como se nunca tivesse acontecido.

Minha respiração ofegante aos poucos foi se acalmando. Quando finalmente abri meus olhos, ali ele estava.

Como se estivesse esperando que minha dor cessasse, o homem com casaco de pele olhava para mim, curioso. Seu cenho franzido e braços cruzados evidenciavam que ele não era o responsável por essa dor.

- Interessante - disse o homem, colocando suas mãos para trás do corpo. Sua voz continha um sotaque que eu nunca tinha escutado antes. - Diga-me, Olívia, como uma pessoa como você conseguiu se esconder por tanto tempo?

- Pessoa como eu? - Franzi o cenho, brava. Ele não tinha o direito de falar assim comigo. Consegui ver seu rosto virando para mim, enquanto um semblante de dúvida se apossava em seu rosto. Sua mesma risada forçada de antes preencheu a sala silenciosa.

- Você não tem ideia, não é mesmo? - Não entendi o que ele quis dizer com isso, mas pouco me importava. Se aquele fora o homem que era responsável pelo sumiço do meu pai, eu não queria escutar mais qualquer tipo de discursinho que ele tinha para dar.

- Onde está meu pai? - Falei com a voz mais firme que consegui naquele momento. Pelo canto do olho, vi Joshua se remexer ao lado da porta.

O homem que estava falando comigo mexeu em seu anel dourado e grande.

- Não se preocupe, querida, ele está em boas mãos - ele diz, enquanto um sorriso forma em seu rosto. Em outra ocasião, eu teria o achado bonito, mas essa expressão fria e indiferente que ele mantinha só o deixava mais assustador.

Sabia que não podia confiar em suas palavras, mas nada me vinha a mente. Minha cabeça estava um turbilhão, ao mesmo tempo que não sabia o que pensar. O sangue das minhas narinas estava secando e meus pulsos e tornozelos estavam ficando dormentes.

De repente tudo começou a girar ao meu redor e minha visão foi ficando escura. Tentei lutar contra essa sensação, mas isso só fazia mais sangue escorrer do meu nariz e minha cabeça voltar a doer.

Escutei passos indo em direção à porta, tentei levantar minha cabeça para ver o que estava acontecendo, mas tudo se tornou escuridão, e, o momento que escutei a porta se fechando, foi quando me rendi e deixei aquela sensação me vencer.

The New Mutant | LokiOnde histórias criam vida. Descubra agora