Assim que eu cheguei em casa, a tia may me encarou, e deu aquele famoso suspiro, que antes era um olhar preocupado, agora é um suspiro que diz "outra vez?"
Eu cheguei aqui faz dois anos que eu cheguei aqui, por conta que meu pai morreu junto com minha mãe, em um acidente, uma explosão dentro de uma usina de energia elétrica, que matou no total de 10 pessoas, que estavam trabalhando na hora.
A única coisa recuperada dos destroços, foi um medalhão da minha mãe, era um triskle celta, um símbolo semelhante ao infinito, com um anel passando dentro, e dentro dele, exatamente no centro, tinha um pequeno rubi, ele era mais escuro que maioria ,o trisklele era feito de ouro, um ouro que parecia prata, e tinha um brilho sutilmente amarelado.
Enquanto eu sentei na cadeira, com a palma machucada na boca, não sangrava tanto, na verdade, já havia parado de sangrar, era apenas um cortezinho bobo, então eu apenas peguei a mochila e subi, sem esperar a tia may.
Assim que entrei em meu quarto, não precisei acender a luz, pois, pela janela, um feixe de luz entrava, as vezes eu me pergunto a razão de que, mesmo neste lugar que só chove, fica nublado e tem raros dias de sol, todas as manhãs, sempre tem um feixe de luz que irá me acordar sempre, como se fosse um beijo calmo e morno.
De certa forma, isso é um dos motivos que me ajuda a levantar, todos os dias, depois da morte dos meus pais.
Em um piscar de olhos, sua vida pode mudar, e você não pode simplesmente decidir se quer ou não isso, você pode prorrogar ou encurtar, pode ficar feliz, triste, com ódio ou simplesmente dizer "tanto faz" mas tem certas coisas que não ocorrem dessa forma.
Eu joguei minha mochila na cadeira, e me sentei na minha cama, tirei meus sapatos, chutei eles para o canto do quarto, peguei o meu travesseiro e me abracei nele, e fechei meus olhos, sentindo o calor do sol me abraçar, me acolher, como se ele fosse alguém me abraçando, de certa forma aquilo me reconforta a, eu não precisava, eu não queria falar nada, aquela sensação me me bastava.
...]
Eu não saberia dizer se era um sonho, ou se era uma lembrança, ou se era realidade.
As vezes eu me perdia do real, como se uma parte minha estivesse dormindo, em um transe imperceptível.
Eu olhei para o céu, ele ainda permanecia nublado, eu estava parado, dentro de uma floresta, com a mesma roupa, meus pés tocavam o chão, úmido, cheio de galhos, o a sensação do musgo gelado e molhado não me irritava, eu me sentia bem, mas me sentia com frio.
Eu estava dentro de uma clareira, dentro de uma floresta, eu olhei para o céu, aonde o sol começou a surgir dentre as nuvens, de forma lenta, conseguindo entrar na clareira, o mesmo sol sereno, tranquilo, ao mesmo tempo de que um homem se aproximava, eu não pude distinguir quem era, ele era alto, entre 1,78 a 1,80
Ele tinha um perfume que fazia a ponta do meu nariz coçar.
Ele não era muito forte, mas tinha um corpo definido, mesmo por debaixo daquele casaco espesso, ele me abraçou, eu apenas relaxei e coloquei minha cabeça no peito dele, e enlacei meu braço aí redor dele, de forma preguiçosa.
Eu não queria sair dali, apenas fechei meus olhos, deixando a sensação da trocar de calor me preencher, uma paz de espírito me deixava em um estupor.
Eu não sei se em algum momento isso era real, ou se era uma lembrança, meu pai era mais magro, não me lembro de algo assim, ou se é puramente invenção minha, uma idealização perdida.
Quando eu abri meus olhos, eu estava do mesmo jeito, abraçado ao meu travesseiro, mas eu estava coberto.
A tia may deve ter me coberto enquanto eu dormia.
O sol não estava mais no céu, era apenas várias nuvens, ele já havia se posto, dando início a um crepúsculo, o vento frio anunciava outra chuva está noite.
Quando eu desci, me deparei com a tia may deitada em sua poltrona, ela respirava de forma serena, eu me aproximei dela, ajustando a manta dela, fui até a lareira, que estava com o fogo morrendo, fui no fundo da casa, o frio estava demais, ventava muito, mas para a minha raiva, não havia nenhuma lenha, a única coisa que eu poderia fazer era ir até a serraria do Joe, deveria estar aberta, mas não acho que com este frio ele irá atender alguém.
Eu entrei, procurei pelas minhas botas, corri pro meu guarda-roupas, joguei minha blusa de frio cinza de lado, era fina demais, peguei a minha blusa branca de lã, a gola alta dela protegia meu pescoço, vesti e depois peguei a blusa cinza e coloquei por cima.
Peguei minha touca vermelho vinho, e desci, procurei no pote de porcelana da tia may, e peguei quinze dólares.
Ela ainda descansava, então eu peguei as chaves da minha picape, eu havia ganhado ela de presente da tia may, era um pouco velha, e não passava de 38Km por hora.
Eu eu liguei o carro, que começou a sacudir e o motor ligou, rugindo e roncando.
A serraria não era muito longe, mas era mais seguro eu ir dirigindo.
Enquanto eu dirigia, alguns trovões começou a brilhar no céu, eu acendi a luz do farol, o rádio não queria pegar, então desliguei.
O caminho era monótono, quase não se via pessoas na rua, ninguém se interessava em sair, não havia motivos de pegar uma gripe de forma desnecessária, ou um hematoma por escorregar, o conforto do lar era perfeito.
Enquanto eu dirigia para a serraria, que ficava a alguns quilômetros longe, eu deixei que minha cabeça fosse preenchida por pensamentos aleatórios, mas eu me peguei sorrindo, lembrando daquele sonho, aquela sensação.
A casa da tia may é bastante afastada, ficava perto do bosque, que era praticamente do lado.
Morávamos na ponta extrema da cidade, na rota principal, bastante afastado do centro, embora a cidade de Fallenwood não fosse grande, e não passase de 600 habitantes, morávamos afastados.
Assim que eu cheguei, a loja ainda estava aberta, a serraria dos Winchester era uma loja, antigamente era uma serraria, digo, era até que o bisavô do Joe decidiu que não iria mais cortar árvores, mais ou menos uns 80 anos atrás, está serraria está aqui desde que a cidade foi fundada, quando foi passada pro pai do Joe, eles tentaram reabrir, mas desistiu do negócio, não gerava lucros, além de destruição das florestas, então ele decidiu apenas transformar em um negócio, um comércio, mas ocasionalmente, ela é usada, pra cortar madeiras que chegam aqui, pra fazer lenha, embora os winchesters vendam carvão.
Assim que a minha picape anunciava sua presença, eu pude ver o Joe se aproximando, com um sorriso.
O Joe é da minha turma, na verdade, da mesma escola que eu, ele está no 3 ano, enquanto eu estou no segundo.
Ele tem 1,79 de altura, olhos castanhos, cabelos da mesma cor, sua pele tem um pouco mais de cor que a minha, devido que ele foi para Phoenix durante o verão, mas voltou no meio do mesmo, segundo ele, não é tão interessante assim.
Ele tem um corpo bem forte, devido que ele joga no time de futebol, e que ele trabalha aqui, junto com o pai, ele que leva os troncos até a serra.
Ele é um dos caras mais populares daqui, foi o único que conversou comigo quando eu cheguei aqui.
Eu abri um sorriso, sem exibir meus dentes, me aproximei, com os braços cruzados, por causa do frio.
– Cassie, o que te trás aqui? – ele sorria de orelha a orelha – pela hora, deve ser lenha.
– boa noite, Joe – falei – sim, eu quero uma saco de carvão.
– eu te dou até duas – ele riu, enquanto ia para dentro pegar o saco de carvão.
– aqui, são 10 dólares – ele sorriu, enquanto colocava o saco no banco de passageiros.
– você vai pra escola amanhã? – indagou
– sim – respondi dando o dinheiro.
Nós ficamos nos olhando, eu não sabia o que dizer, ele estava meio ansioso, pelo jeito que mordia a boca.
– quer me contar algo? – indaguei
– você aceita a sair comigo? – indagou nervoso – amanhã, depois da escola.
– tudo bem – sorri – para aonde?
– pra comer algo, na lanchonete? Tudo bem? Ou você quer ir pro cinema? – ele sugeria nervoso.
– pode ser – respondi com um sorriso sem graça
Ele olhou para mim, e então ficou com o rosto vermelho, e então assentiu, e entrou.
– mande lembranças pra lareira – assim que eu entendeu o que falou, ficou aí da mais vermelho – digo, a tia may!
Na velocidade que ele entrou em disparada fez com que eu começasse a sorrir, então eu entrei no carro, e sai.
No meio do caminho, eu comecei a lembrar de como eu conheci o Joe.
Assim que eu cheguei na escola, eu fui o assunto do momento.
No começo várias pessoas começaram a conversar comigo, mas eu não me sentia confortável com multidões, em ser o centro das atenções, com os olhares, então acabei, tendo um ataque de pânico no terceiro dia de aula, eu simplesmente me levantei no meio da aula de química, sai sem dar a menor explicação, e fui para dentro do bosque, que fica atrás da escola.
Eu havia me perdido, não sabia como voltar, eu fiquei por lá durante uma hora, até que me encontrassem.
Neste meio tempo, eu simplesmente havia conseguido a façanha de me machucar, me feri, cortei a sobrancelha, ralei meus joelhos, meus cotovelos e de alguma forma, eu meu nariz começou a sangrar, machuquei minhas mãos graças a um tombo que tomei.
Durante minhas crises de pânico, eu simplesmente saio andando, até parar em algum lugar totalmente isolado.
Quando ele me achou, eu estava sentado em uma rocha, olhando pro céu, era meio dia.
Ele estava usando um short verde e uma blusa regata branca, o cabelo dele estava ligeiramente bagunçado.
Naquele dia estava quente, quente no sentido de um calor morno quase frio, comparado ao calor de NY.
Eu estava usando uma blusa azul, uma calça jeans branca, que ficou manchada de sangue nos joelhos.
Eu não tinha nada pra fazer, além de ficar ali, quando ele me encontrou, a cara dele foi a mais estranha que eu já vi na vida.
Ele ficou me encarando, enquanto eu fiquei tentando entender o que estava acontecendo.
Ele ficou desesperado quando viu que eu estava sujo de sangue, embora eu insistisse que foi um tombo, ele entrou em pânico, eu levei alguns minutos tentando acalmar ele e dizer que eu estava bem, só estava assim por conta que além de ser desastrado, eu sempre fui um total desatento.
A partir daquele dia, ele começou a vir falar comigo, no início eu não falava nada, mas ele simplesmente começou a falar igual uma matraca, fazendo comentários engraçados, eu apenas sorria, mas não conseguia falar nada, não queria falar nada.
A primeira vez que tivemos uma conversa mesmo, foi quando eu estava lendo Moby Dick, ele pediu um resumo, mas eu apenas dei o livro pra ele.
Na semana seguinte, ele simplesmente me apareceu com um cachalote de pelúcia, e na boca do animal de pelúcia, estava um bilhete "eu chorei"
No dia seguinte, ele veio conversar comigo, e para a surpresa dele, eu comecei a comentar sobre certas coisas.
Enquanto eu divagava, rindo das minhas memórias, algo atravessava a rua de forma repetina, então eu freei assim que eu escutei o barulho de colisão.
– aí meu Deus – sussurrei enfático e assustado.
Eu desci do carro, assustado, quando eu olhei, era uma mulher, de cabelos loiros, ela vestia uma roupa comum, uma calça jeans, uma blusa branca com estampas de flores amarelas, laranjas e algumas com a cor vinho, bordadas a mão, ela usava um casaco caramelo e espesso, sua pele pálida era como papel virgem, e ela usava uma sandália simples.
A pele dela era muito branca e perfeita, como se ela não tivesse pegado sol, seus cabelos loiros pareciam trigo, ou um ouro meio sujo.
Ela tinha um corpo meio magro, mas assim que toquei na sua testa gelada, ela abriu os olhos, que eram duas orbes vermelhas.

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Perfect Moon
Vampir"Tudo pode mudar, como as estações. Eu sempre soube que nem tudo iria permanecer a mesma coisa, do mesmo que haja o sol quente no verão, existe o frio cortante do inverno, e mesmo que o inverno seja rigoroso, as flores irão surgir na primavera. Mas...