No colégio

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Todas as crianças crescem com o mesmo ensinamento: ame seus pais independente do que eles fizerem, pois são seus pais.

Bom, eu não tive pai presente, e a minha mãe sempre foi dotada de uma personalidade forte, eu diria que até autodestrutiva e prejudicial. Uma catástrofe. Infelizmente desde muito nova aprendi que "a violência era a melhor resposta". Tenho poucas lembranças das vezes que senti um abraço caloroso vindo da minha mãe, pelo contrário, as lembranças que possui dos meus nove anos até os meus vinte e um são memórias ruins e que geraram muitos traumas naquela pequena garota.


Capítulo 1 - O colégio interno


Apenas nove anos de idade, foi a queda d'água. Uma criança prodígio, sempre com as melhores notas, melhores referências. Filha da diretora, o exemplo da turma, ou não. Era apenas dez para a uma hora, minha mãe estava com pressa para ir trabalhar, estávamos atrasadas, como sempre. O pedido dela foi que eu deixasse o portão aberto para sairmos no carro, mas eu era uma garota esquecida e minha mãe nada atenciosa. Não havia lembrado de deixar o portão aberto como ela havia pedido, então nas pressas, ela saiu com o carro sem verificar a procedência de como estaria o portão, nessa correria, minha mãe derrubou-o da nossa casa no meio da rua. Isso foi o bastante para deixá-la enfurecida. Afinal, não precisava de muito para tirar essa mulher do sério. Ela desceu do carro, pegou na minha orelha e me levou para dentro. Lembro que eu usava pequenos brincos de prata, um em cada orelha, era como se a vontade de tirar aqueles brincos de mim se tornasse cada vez mais precisa. A força com que ela segurava minha orelha contra as pequenas joias me machucava de forma surreal. Você deve estar pensando, foi só uma bronca, do que ela está reclamando? Mas não foi só uma bronca, minha mãe super temperamental, após me levar para dentro, me bateu no rosto, nas pernas, puxões de cabelo. Todos naquela casa ouviam eu gritar, e ninguém, digo, ninguém movia um dedo para impedir. E como se não bastasse, todos aqueles "tabefes" ela ainda falava coisas maldosas, como "por que eu te coloquei no mundo?", "você não faz nada direito", "você não serve para nada". E por fim, mesmo depois da chamada "correção" ela me colocou em um colégio interno, pois era a maneira dela de resolver seus problemas: se livrar deles.


É engraçado quando conto isso, pois é incrédulo que uma pessoa resolva colocar sua filha em um colégio interno após espancar ela, porque simplesmente ela esqueceu de fazer algo. Uma criança de apenas nove anos.


cinco anos depois...

(Diretor, Paulo)

— Veronica, eu entendo que a forma como sua mãe tentou resolver essa situação foi extravagante e até um pouco desnecessária. Mas minha cara, os pais devem sim ser rígidos com seus filhos, para evitar que cresçam e se tornem pessoas de má índole. - e esse foi um comentário do diretor do colégio, Paulo Antoniel, um homem mais velho, aproximando-se dos quarenta anos, a forma como ele defendia a correção de alguns pais me enoja, quem é ele para falar de má índole? Há boatos por aí que ele fica com garotas menores de idade.

Essa conversa entre Paulo e eu não se aprofundou muito, pois aqui no colégio depois de cinco anos presa nesse lugar, uma das coisas que eu aprendi foi "dance conforme a dança e irá terminá-la quando a música parar" o que eu quero dizer com isso? É que para todos eles, eu sou apenas uma jovem inocente que conseguiu ficar na linha que minha mãe impôs a fim de torna-me o fantoche dela, e entender que ela sempre esteve certa em usar a agressividade para me corrigir. E por que eles pensam isso? Porque comecei a fingir que concordo com tudo que ensinam aqui. Aos doze anos, comecei a roubar medicamentos, calmantes e antidepressivos, eu vivia a maioria do tempo dopada ou como se eu estivesse chapada. Foi o único meio que achei para conter meus surtos, crises de ansiedade e transtorno bipolar, era impossível tratar de tudo isso dentro desse lugar, não tínhamos nenhum apoio psicológico.


— Paulo, todos esses cinco anos aqui foram suficientes para saber que a minha mãe está certa na forma que me cria e me corrige, levarei para a vida, agradeço muito por todo o cuidado que tiveram comigo, e sentirei falta de tudo isso.Traduzindo: "não sentirei falta de absolutamente nada. Vocês são um bando de babacas, vocês estão deixando mais crianças traumatizadas e criando pessoas de má índole, além do pênis do diretor ser muito pequeno, pois na verdade apesar de eu convencer a todos que eu havia compreendido o tratamento de minha mãe e andaria na linha, só consegui ser liberada desse hospício por ter chupado o nosso diretor, e espero que ele aprecie bons momentos na delegacia pois eu denunciei ele logo após. Ninguém mandou pedir uma menina de quatorze anos para fazer coisas imprópria para garotas de quatorze anos."Confesso para vocês que, passar um tempo no colégio interno não foi mil maravilhas, mas passar todo esse tempo longe da minha mãe me poupou todo um esforço mental.


Apesar de ter me privado de toda tortura psicológica que eu continuaria sofrendo em casa, estar no internato era como estar em uma prisão. Uma prisão só de meninas. E a regra de sobrevivência era ser a dona do pedaço, ou não ser ninguém. De início, eu não era ninguém. Não era muito bonita e também não sabia me comportar perto de outras pessoas, dificilmente eu conseguia formular uma frase ou fazer amizades. Como eu fiquei assim? Depois de ter sido espancada pela minha mãe, até porque eu me lembro de como eu era uma criança extrovertida, esperta e tagarela antes de me mandarem para lá. Mas, não demorou muito para que eu conquistasse meu espaço.

Penelope...Ah, a maldita Penelope. Loira, olhos claros, considerada a criança mais bonita do colégio. E o que tinha de linda, tinha de má. Penelope veio para cá devido ao seu transtorno bipolar gravíssimo, episódios depressivos, tentativas de suicídio além de possuir alguns traços de sociopatia. Claro que ela deveria ter tido um tratamento psicológico, mas como mães narcisistas que possuímos, a mãe dela jurou que ela melhoraria em um colégio interno, rigoroso e religioso, mas a mãe de Penelope estava enganada. Pra suprir o vazio que Penelope sentia, a garota humilhava as pessoas, eu até então não dava a mínima para suas atitudes cruéis, até que ela resolveu encrencar comigo. Eu estava quieta na minha quando Penelope foi até mim:

— Então, você é nova aqui. Adorei esse laço no seu cabelo, mas ficaria mais bonito em mim. Me entrega!

— Não, não vou dar... foi um presente da minha avó. - respondi a garota arrogante que se achou no direito de tomar algo que era meu de mim.

— Me da agora!

— Não! - Foi nesse momento, em uma disputa entre duas crianças de nove anos que eu tive meu primeiro surto. Na tentativa de Penelope de arrancar a meu laço de mim, eu a agredi, empurrei a menina no chão e comecei a gritar coisas absurdas demais para uma menininha de apenas nove anos. Por um lado, ninguém nunca mais mexeu comigo, por outro lado, eu me encrenquei bastante com o diretor do colégio. Como punição, me fez ajoelhar em grãos de milho e prometer que nunca mais agiria dessa maneira. Um dos pontos principais desse lugar é que eram muito religiosos, e sempre queriam enfiar suas doutrinas em todas as crianças, então além de ajoelhar me obrigou a rezar por oito horas, sem poder até mesmo me alimentar. Foi nesse momento que decidi que quando saísse dali, mesmo que da pior maneira, eu faria da vida da minha mãe um inferno.


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⏰ Última atualização: Jun 29, 2021 ⏰

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A mulher que me torneiOnde histórias criam vida. Descubra agora