CALOR

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Nossa bebida preferida, música alta, mais ninguém em casa, comida a vontade e todo tempo do mundo, raramente essas coisas acontecem, geralmente a gente tem que improvisar de última hora onde vamos e o que fazer, e no final sempre ficamos em algum canto bebendo e jogando conversa fora até ser tarde demais e alguém toma bronca, mas hoje não tinha preocupação, só aproveitar a noite.

- Então, qual música?
- A gente sempre canta a mesma no final, vamo cantar ela agora e daqui 10 minutos vai ser ela de novo.

É meio que uma novidade a gente se ver por tanto tempo assim, cantar realmente é complicado, mas o ponteiro sempre parece parado ao mesmo tempo que parece correr quando estamos juntos, uma hora eu só quero ficar de boa na minha cama, e quando acaba eu imediatamente sinto saudades.

- É gostosinha essa mas eu queria mudar um pouco né, não precisa ser música, qualquer coisa nova pra assistir vai ser bom.
- Mas aí que tá, não importa o que é a gente nunca cala a boca e perde 80% da coisa.
- Já pensou na possibilidade de ficar na sua?
- jÁ penSOu nA pOSSibiLIdAdE de ficAr na SUA? - Repetiu zoando da minha cara.

  Eu tenho quase certeza que derrubei a bebida quando voei no pescoço dele, mas o babaca sabe meu ponto fraco e meu ataque surpresa acabou virando uma briga muito injusta para mim. Com uma mordida no queixo eu consigo ficar por cima de novo, mas a risada deixa minha mordida muito fraca e acabamos rolando até cair da cama e ir parar no meio do quarto, os dois sem largar um do outro.
Entre alguns chutes, tapas, mais mordidas e até uns soquinhos aqui e ali, o cansaço começa vencer e a gente entra em um acordo de paz, pelo menos por enquanto.
É estranho, eu nunca tive algo parecido com outra pessoa nem mesmo quem eu já namorei, e a cada encontro a gente se abre cada vez mais, nunca tive uma amizade tão forte.
Amizade...

- E nada de música ainda.
- Coloca qualquer inferno.
- Colocar o que cacete?

Os dois com um sorriso no rosto, a gente acaba conversando alí mesmo no chão apoiados no armário, e eu demoro para me tocar que estou totalmente apoiada nele e recebendo carinho, algo que já ficou tão normal que já até me acostumei, mas dessa vez é diferente, o carinho tem algo a mais no toque, junto com a respiração lenta, olho no olho, pode ser coisa da minha cabeça, mas talvez eu esteja sentindo alguma coisa aqui.
Geralmente ele luta contra carinho, pelo menos por muito tempo, mas até no meu rosto eu recebo o carinho leve das mãos dele.

- Eu já te acho linda, hoje você veio ainda mais incrível, deu até dó de te ver se trocando, aquele vestido em você ficou perfeito.
- Fazer o que se já nasci gostosa.
- Mas não sabe receber um elogio né? Puta merda.
- A culpa não é minha que você só comentou o óbvio poxa.
- Mas eu nunca te elogio.
- Sempre me elogia e sempre sei o que vai falar.
- Sempre?
- Sempre.
- Sou tão previsível assim?
- Sempre foi e sempre ser...

Única vez que me pegou de surpresa, puxando meu cabelo com uma mão e ainda segurando meu rosto com a outra, ele me beija, por alguns segundos que eu nem tentei resistir, segundos que pararam o tempo, e transformaram aquela sensação diferente em um calor profundo, tão forte que eu tenho quase certeza qual parte do meu corpo ficou mais quente.

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