- Desculpa - disse olhando no meu olho, mas ainda sem tirar a mão do meu rosto - eu perdi o controle dessa vez.
- Dessa vez? Já pensou nisso antes?
Silêncio, mas conheço ele a tempo o suficiente para saber a resposta, a quanto tempo essa vontade existe? Quando começou? Uma hora eu vou acabar sabendo, a verdadeira pergunta é, eu já senti essa vontade também?
- Desculpa - me soltando e se afastando como se de alguma aquilo magoou ele.
- Ei calma - eu falo chegando perto novamente e indo direto com a mão no rosto dele e percebendo um detalhe horrível - o que aconteceu?
Lágrimas, ele começou a chorar muito e o desespero subiu na minha cabeça, estou presa em uma montanha russa de emoções sem saber o que fazer, e o pior é que sou horrível nessas situações.
- Ei, fala comigo - seguro a mão dele e seco as lágrimas, que estão cada vez mais fortes - não tô brava pelo beijo mas preciso saber o que tá acontecendo.
- Não me sinto bem, ultimamente tudo anda dando errado, família, trabalho, estudos, amigos, romance, e só com você eu tô conseguindo ter algum momento de paz - disse com voz bem trêmula, ao mesmo tempo que segurava a minha cintura com força, quase como se tivesse medo que eu fosse correr de deixá-lo alí chorando sozinho - é incrível te ver toda vez, e ultimamente as vezes me dá vontade de ir... Não sei explicar.
Ele solta minha cintura e joga a cabeça para trás batendo no armário, chorando ainda mais, eu sei exatamente o que tá acontecendo afinal ele já me contou, mas nunca me deixou ver ele chorando, minha reação instantânea é me ajoelhar no meio da pernas dele e abraço-lo muito forte.
A pior parte de ser o ombro amigo de alguém, é que nem sempre tem o que se falar, certos problemas e situações a única resposta infelizmente é "com o tempo isso passa", e dizer algo assim é muito inútil, clichê, dispensável, só chorar e desabafar alivia muito, mas eu ainda queria poder fazer mais do que só ouvir, qualquer coisa para fazer ele esquecer um pouco do mundo, mas o que?
Eu não posso dizer que eu pensei nisso, se fosse para descrever eu diria que meu corpo só se mexeu sozinho, eu levanto a cabeça, seco as lágrimas dele que acaba olhando para mim, bem devagar eu faço carinho no rosto dele, seus braços voltam a minha cintura ainda mais fortes, e ainda sem dizer uma palavra acontece mais um beijo, e o curioso sobre isso é que eu poderia jurar estar ouvindo o mundo lá fora, gritos, músicas, mas parece que o volume do universo foi diminuindo com a gente, até ficar completamente em silêncio.
