Capítulo 2.

34 3 9
                                    

Respirar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Respirar. Fundo e devagar.  

Era fácil, mas Kyara não conseguia obrigar seus pulmões a puxar o ar. Welt a chamou inúmeras vezes e a fez entrar na casa, já que algumas cabeças curiosas olhavam pelas janelas das casas em volta.

— Ei, por Deer, Kyara o que foi? — Welt empurrou um copo com água para as mãos trêmulas da garota, agora sentada na velha cadeira de balanço — Está passando mal?

— Eu... — Ela tomou um longo gole da água — Só fiquei tonta, deve ter sido minha pressão. — Mentiu, tomando outro gole.

— Você mente muito mal. — Welt passou a mão pelos cabelos castanhos — Já comeu hoje?

— Já sim, não foi isso. — Ela devolveu o copo ao rapaz, que havia se ajoelhado — Não foi nada demais, sério.

Welt fez uma careta, se levantando para por o copo sobre uma das inúmeras prateleiras ao longo das paredes, então encarou Kyara com os braços cruzados.

— Se não quer falar tudo bem, mas vou te levar em casa querendo ou não. — Kyara tentou protestar — Não. Sem argumentos, vamos antes que a patrulha comece.

Kyara se levantou. Sua respiração já estava normalizada, mas a sensação de fogo correndo pelas veias ainda estava recente, e a voz... a voz ainda parecia querer lhe dizer algo.

— Não vai avisar seu avô? — Perguntou quando Welt a acompanhou na porta.

— O velho já deve estar dormindo, mas se acordar antes que eu volte não tem problema, vamos logo, ou vou acabar encontrando os prateados no caminho de volta. — Ele abriu a porta.

Kyara queria lhe dizer para voltar e não ir com ela, pois sabia que era perigoso encontrar com os prateados nas ruas vazias, mas era egoísta o suficiente para não argumentar, para deixar que ele a acompanhasse, mesmo correndo perigo.

— Faz tempo que não vejo os prateados. — Kyara comentou, quando saíram da viela de volta a rua de cascalho — As rondas pelas manhãs foram suspensas, não foram?

— Sim, vejo um ou dois de vez em quando, andando pelas ruas, entre as casas. — Welt enfiou as mãos nos bolsos — Mas... fiquei sabendo que eles estupraram uma garota ontem.

— O quê? — Kyara sentiu o estômago revirar — Que malditos!

— Nem me fala. — Ele viu o outro trincar os dentes — Aqueles desgraçados ainda largaram o corpo num beco qualquer.

Kyara apertou a alça da bolsa, com ódio e repulsa. Os prateados eram os soldados de Úmbra, mandados para vigiar todas as aldeias e cidades dos nove Distritos de Vência.

— Já não basta a chuva amaldiçoada, ainda temos que lidar com esses malditos soldados dela. — Welt olhou para o céu, para a lua que surgia aos poucos sobre as casas — Quase vinte anos de ditadura e ninguém faz nada contra... — Sussurrou.

Filha do Fogo (Livro 1 Trilogia Herdeiros)Onde histórias criam vida. Descubra agora