°twenty three° •Claire e Luise•

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Não revisado 🌻✨

Ódio era tudo que me definia nesse momento. Meus olhos se encontraram com os de Athen que me encarava fixamente, como se estivesse tentando dizer algo. Suspirei dando de ombros ou tentando mover meus ombros, já que eles eram segurados de forma firme pelas algemas pelo meu corpo inteiro. Mordi o lábio inferior com força, eu ainda não acreditava que tinha abaixado minha guarda ao ponto... disso.

Bronke entrou na prisão em que estávamos, um quarto selado com magia o suficiente para manter a gente distante das portas e paredes.

Garantiram bem para que não pudéssemos fugir. Ele sorriu de lado, perverso, os olhos cheios de crueldades. Arqueei a sobrancelha, encarando-o com bastante atenção, a atenção que ele queria. Eu não queria saber o motivo dele estar aqui, mas ele pensava ao contrário, mostrando a faca em suas mãos com os olhos brilhando de maneira ameaçadora.

Engoli a seco, xingando-o mentalmente de tantas maneiras que eu duvidava que até mesmo ele iria aguentar ser xingado pela minha mente que nesse momento trabalhava de uma forma tão cruel e impiedosa.

— É tão bom poder sentir o sabor do sangue de vocês... ah, a doce dor... tão incrível e perfeita, tão cheia de detalhes incríveis que só quem pode sentir são os mais especiais que nesse momento é você!

Ele riu como um psicopata. Sua faca não demorou a ser lançada, parando na minha cintura. Eu havia sentido a dor, forte como um raio perfurando Thor. Mas não demonstrei um pingo daquela dor, me negando a dar esse sabor para ele.

Seus olhos me observavam como se fosse uma brincadeira, uma brincadeira de criança que só ele podia e tinha a permissão de brincar. Um garoto mimado.

Sorri de lado inclinando minha cabeça, se ele gostava de brincar, eu também gostava e me excitava em saber que poderia provocar ele ao ponto de fazer o rapaz perder sua paciência e calma.
Passei a língua sobre meu lábio inferior lentamente, piscando para ele. Eu poderia suportar qualquer dor, qualquer coisa para que eu pudesse ver a calma dele indo embora.

— Antes de você começar a brincar. Eu quero deixar um aviso... um aviso importante que é para falar para todos os outros. Eu se fosse vocês sentiriam medo de mim. Até porque, eu sou aquilo que vocês chamam de reencarnação do inferno.

Cantarolei a última parte, soltando uma risada em seguida. Iriamos ver quem no final sairia como a verdadeira psicopata.

— Então gosta de brincar? Isso está tão interessante... Vamos ver até quanto você aguenta, pequena gatinha arrisca.

Abriu a porta da cela em que eu estava passando seus dedos frios pelo meu rosto, sussurrando em meu ouvido assim que se aproximou o suficiente.

— A noite é uma festa e nós seremos as crianças.

Vê-lo daquele jeito era prazeroso para ele mesmo, mas não de uma forma sexual e sim de uma forma pior, uma forma que eu nunca queria ter visto em toda a minha vida. Pegou um frasco estranho, um frasco que parecia que queimava, parecia ter fogo dentro daquilo. Engoli a seco, mas não ousei demonstrar fraqueza.

Abriu o frasco se aproximando cada vez mais, segurando meu rosto com tanta força que poderia jurar que ele iria me matar agora, puxou o meu cabelo para trás, me forçando olhar direto nos seus olhos, meus instintos sempre estavam em pratica... Cuspi em seu rosto soltando uma grande risada podendo sentir o liquido que ele havia jogado descer queimando pelo meu rosto até meu pescoço, não queimava pouco, queimava ao ponto de meus olhos se encherem de lagrimas e um pedido silencioso de perdão por isso. Eu poderia transparecer um grande caráter de grande brutalidade, mas a realidade era que eu era sensível.

Minha mente sempre foi a gaiola de um passado que foi aprisionado e eu sabia que iria carregar essas novas cicatrizes comigo em total silencio.

Ele sorriu sem falar nada, arrancando minha camisa com brutalidade, rindo baixo. Encheu os dedos do liquido que se tinha no frasco e sem falar nada, puxou a faca que tinha jogado em mim a alguns minutos atrás sem a menor piedade. Mordi meu lábio inferior com tanta força que podia sentir o gosto metálico do sangue invadindo minha boca. Rosnei olhando no fundo de seus olhos que me olhavam com tamanha diversão. Seus dedos invadiram o machucado que sangrava como um verdadeiro chafariz. Gritei. Gritei pela primeira vez, aquilo estava me enlouquecendo. Me movi rapidamente tentando tirar ele de perto de mim. Eu poderia superar o mundo se quisesse, mas essa dor, essa dor foi além do que eu poderia suportar.

— Quando eu tiver a chance de enfiar minhas mãos em você... saiba que irá implorar por cada miserável machucado.

Sorri de canto fechando meus olhos, puxando as algemas que me seguravam tentando me libertar, sentindo seus dedos assassinos indo cada vez mais fundo no machucado que manchava o chão de tanto sangue que havia. Ele cantarolou como se tudo o que eu tivesse falado agora, não passasse de uma brincadeira de criança.

Minha visão ficou turva aos poucos. Céus, como eu queria manter meus olhos abertos apenas para poder debochar dele... mas infelizmente não consegui, tudo escureceu aos poucos e eu já não podia agir por conta própria.

LUISE

Andei de um lado para o outro angustiada, eu odiava a sensação de não poder fazer nada. Soquei a parede ao meu lado podendo ver aquele maldito bicolor sair cantando. Segurei com força as barras de ferro que me prendiam, suportando o choque apenas para ver se conseguia ao menos ver um pouco da Claire.

Cai de joelhos aos poucos. Era minha culpa, tudo isso aconteceu porque eu confiei demais. Meus olhos se encheram de lagrima, se havia algo pior do que saber que era minha culpa, era saber que todos estavam se machucando e que eu estava presa...

Arregalei meus olhos rapidamente, me levantando desesperada, não... Me tirem desse lugar, eu não quero viver aqui....

Meus punhos batiam contra os ferros fortemente. O barulho das batidas ecoava por todo o quarto, assim como os soluços de meu choro, um início do meu choro. As lembranças viam e iam na mesma velocidade em que minha respiração ficava desregular ao mesmo tempo em que meus pulmões imploravam por ar. Eu estava tão preocupada com os outros que esqueci completamente que eu estava presa nesse inferno.

— Por favor, abram a porta! É a única coisa que eu peço, por favor...

Eu não suportava minha própria voz.
Meus olhos percorreram pelo quarto procurando alguma saída, alguma brecha para escapar. Mas não achava absolutamente nada, o que aumentou mais ainda meu desespero. Uma de minhas mãos tocaram a maçaneta que estava gelada, tentando abrir mais uma vez, estava trêmula... Mal conseguia me manter em pé. Mas a força para tentar sair me mantinha com as pernas firmes.

— Me tira daqui, abram essa maldita porta!

Soquei a porta uma última vez antes de deixar minhas lágrimas caírem suavemente sobre minhas bochechas, os soluços ficando mais alto, a respiração indo embora aos poucos.
Me agarrei no último fio de esperança que tinha. A esperança que meu único talvez amigo de verdade me tiraria daqui.

A esperança se foi, meu fio de lar se rompeu, arrebentou completamente. Me afastei da porta. A surpresa, traição, decepção atingiram com tudo. Um zumbido foi a única coisa que escutei por longos segundos até escutar os passos se afastarem. Corri até a porta batendo meu corpo uma, duas, três vezes seguida. Meu choro se intensificando a cada segundo.

— Não, não... Por favor, eu imploro, me ajoelho se for preciso, me tire daqui!

Gritei em puro desespero, pânico. Minha voz se perdendo no quarto escuro e gelado.

A solidão me atingiu e me abraçou como fez durantes anos. Apoiei meu corpo na parede perdendo todas as forças que me restavam. Meu corpo caiu até que eu me senta-se por completo no chão. Meus dentes batiam um contra o outro. Minhas mãos subiram até meus cabelos nos quais puxei devagar e logo em seguida mais força, inclinando meu corpo para frente e para trás repetidas vezes sussurrando ainda para que me soltassem, me deixassem sair. As lembranças vieram com tudo e dessa vez ficaram. Encolhi meu corpo em rápidos segundos, olhei para o nada, para o vazio, abraçando meu próprio corpo.

— Eu não fiz nada...

Sussurrei em um fio de voz, sem vida, sem emoções.

— Eu prometo não fazer mais nada, mamãe, papai..., mas me deixem sair daqui, não gosto do escuro e nem da sala apertada... Eu já aprendi, eu não quero mais castigo, então, por favor, me tirem daqui...

Me enrolei no vestido fino que brilhava sobre o escuro, a única coisa que iluminava tudo, querendo que o frio passasse. Dava para sentir o gosto salgado de minhas lágrimas e o único barulho que se era escutada, era dos ratos que andavam sem se importar comigo, como se eu fosse um nada, uma coisa insignificante e eu provavelmente era isso de fato. Dos sorrisos que do passado eram, o choro que eu vivia no presente. Sentia que algo dentro de mim tinha se destroçado, quebrado por completo. A dor sempre seria permanente, eu sabia perfeitamente disso.

O sangue acompanhado das lembranças pesadas que me perseguiam, me acompanhava e me lembrava do fracasso e do fardo que eu era. A esperança se foi e a única coisa que sobrou em mim tinha sido o temor, o medo... O pavor.

Não queria ver aquilo acontecendo novamente, mas aqui estava eu, vendo tudo acontecer e sem poder fazer nada, novamente. A única coisa que eu não queria, era poder não reviver toda aquela dor novamente. Meus olhos se escureceram, mas não me permiti apagar. Queria lembrar daquilo tudo por quanto tempo fosse preciso, queria juntar mais uma vez essa memória ruim com as outras, as outras que me lembravam quem eu era.

A porta que nos prendia se abriu, o barulho dela rangendo foi baixo, mas o suficiente para que eu pudesse escutar. A luz bateu em meus pés me trazendo a realidade novamente.

Encarei a pessoa que havia entrado e ela me pareceu desesperada, tão desesperada que me fez ficar atenta. Os cabelos ruivos...

Espero que tenham gostado, deixem seus comentários e seus votos! Irão ajudar bastante uma futura escritora que sonha todos os dias. ✨🌻☄️

Chamas da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora